“Tu é o revival do marinheiro, cê sabe circular.” Assim como os ciclos descritos por Letrux na música “Flerte revival”, a moda vive de idas e vindas. E a maré traz agora o “fisherman core”. Neste outono, o estilo náutico emerge com nova roupagem e mensagem — acompanhado por discussões sobre sustentabilidade, autenticidade e valorização do artesanal. “A estética marinheira existe desde o final do século XIX, associada inicialmente aos banhos de mar, depois absorvida por Chanel e Gaultier, e hoje ressignificada em peças básicas e atemporais”, explica Rosanna Naccarato, professora de Projetos em Design de Moda do Senai Cetiq.
Para Paula Acioli, pesquisadora e analista de moda, a onda do momento resulta da fusão de dois arquétipos consagrados — o “navy” e o “pescador” — que, ao se unirem, ganham novo fôlego sob a alcunha de “fisherman core”. “A praia e o mar são os principais elementos que fundamentaram esse visual. No contexto da moda carioca, ganha vida na companhia de shorts jeans, camisetas com estampas marinhas, bolsas de palha, rasteiras de fibras naturais e acessórios divertidos”, enumera.
Entre as peças, estão chapéus de pescador, gorros, bolsas de fibras naturais, como as que lembram rede de pesca, e colares que trazem à tona criaturas aquáticas. Todos têm espaço cativo no encantado universo da marca carioca Sardina. Criada por Gloria Marques, destaca-se ao incorporar elementos do mundo marítimo — como conchas, listras e padronagens que fazem alusão a uniformes de marinheiros — em suas coleções. “Existe uma identificação forte. As listras são muito fáceis de usar. Nosso público nutre uma afinidade genuína, e essa proposta sempre estará por perto, independentemente de tendências passageiras”, comenta Gloria. Nesse mesmo embalo está a Le Soleil D’été, que já surgiu, em 2015, como uma marca de “roupas para verão”. A coleção de inverno 2025 da etiqueta criada por Roberta Belotti e suas filhas, Flora e Isabella, é inspirada em conchas, que decoram vestidos e lenços. Para arrematar, t-shirts listradas, golas tipo navy, peixes e cavalos marinhos em bordados e aplicações.
A stylist e multiartista carioca Lulu Novis enxerga nesse movimento um diálogo com os tempos atuais. “O que me encanta na fisherman é essa elegância não óbvia, que mistura uma herança utilitária mediterrânea com um gesto contemporâneo de conforto. Ela tem algo de nostálgico e, ao mesmo tempo, parece sempre moderna. São peças que carregam histórias e, ainda assim, parecem sempre frescas. É uma estética que conversa com essa nova lógica do vestir: menos sobre ostentação, mais sobre identidade e afeto”, conclui.
*Estagiário sob supervisão de Joana Dale

