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Sarah Raíssa Pereira de Castro deu entrada no Hospital Regional de Ceilândia na quinta-feira (10), após ser encontrada desacordada pelo avô dentro de casa. Segundo a Polícia Civil, ela inalou o spray de um desodorante como parte do desafio viralizado na internet, o que provocou a parada cardiorrespiratória. A equipe médica conseguiu reanimá-la após 60 minutos, mas a menina não apresentou mais reflexos neurológicos.
A Polícia Civil instaurou um inquérito para investigar como a criança teve acesso ao desafio, e apura se há responsáveis por sua disseminação nas redes. Além disso, segundo a polícia, o celular de Sarah foi apreendido e será analisado pela perícia. A polícia encontrou um desodorante sob a almofada onde a menina estava deitada e identificou que o tecido estava bastante úmido, o que reforça a hipótese da inalação intencional.
Os responsáveis pela publicação ou disseminação do conteúdo podem ser responsabilizados por homicídio duplamente qualificado, com penas que chegam a 30 anos de prisão. A investigação também busca entender se houve falhas de proteção por parte da plataforma digital.
A “trend” chamada de “desafio do desodorante” consiste em uma batalha para ver quem consegue inalar grandes quantidades do produto químico no menor tempo.
Ao adentrar no corpo, a substância inalada é levada pelas vias respiratórias aos pulmões, órgãos extremamente vascularizados que, com facilidade, acaba caindo na corrente sanguínea e chega ao coração, provocando uma arritmia cardíaca. O coração deixa de bombear corretamente sangue para o corpo e acaba perdendo totalmente a função em pouco tempo, levando a uma parada cardíaca e óbito em poucos minutos.
Por conter em sua fabricação substâncias químicas antissépticas, que reduzem odores, incluindo ácido clorídrico, e outras substâncias tóxicas, o produto ainda pode queimar e deteriorar veias importantes dentro do organismo. A pessoa pode sofrer uma reação alérgica severa, como edema de glote, quando a garganta se fecha completamente, comprometendo a entrada e saída do ar causando asfixia.
Também é letal em razão do alto teor de etanol (álcool) presente em qualquer tipo de desodorante. Sendo até 90% maior do que o encontrado em bebidas alcoólicas como uísque ou absinto.
Especialistas garantem que inalar esse ar é o mesmo que estar colocando para dentro de seu organismo um ar sem oxigênio, apenas com substâncias tóxicas, o que pode causar também uma inflamação da laringe. A sensação do desafio do desodorante é semelhante com a do afogamento.
Outra tendência, chamada de “chroming” ou “huffing”, consiste em inalar vapores tóxicos de itens domésticos. Neste desafio, além de desodorantes aerossóis, também são usados esmaltes de unhas, marcadores permanentes, tinta metálica, sprays de limpeza de computador, limpador de carburador, solventes de tinta, gasolina e spray de cabelo. Algo que todos esses inalantes têm em comum é que são fáceis de acessar.
Segundo especialistas, os efeitos imediatos do “chroming” são semelhantes também aos de uma intoxicação alcoólica, podendo haver uma mistura de euforia com tontura, falta de coordenação, fala arrastada ou desinibição. Náusea, vômito, problemas cardíacos, convulsões, fraqueza muscular, sonolência ou dificuldade para respirar.
Em casos como esses, devido à gravidade da situação, a criança precisa ser levada imediatamente para um pronto-socorro, pois ela precisará de inalação ou intubação.
Médicos afirmam que é importante não provocar o vômito em casos de ingestão de produtos tóxicos ou alcoólicos, pois pode piorar a obstrução das vias aéreas. Também não se deve oferecer nada às crianças sem antes buscar ajuda especializada.