Festa exclusiva na piscina, jantar preparado por chefs badalados a quatro mãos, café da manhã na praia, atividades para pets, exposições itinerantes, banho de cachoeira e degustação de vinhos com aulas de pintura. É assim que as principais redes de hotéis vêm planejando os próximos investimentos no país após os projetos frustrados para Copa e Olimpíada, o baque da pandemia e o avanço dos aplicativos de hospedagem. O setor vive uma nova onda de investimentos no Brasil, mas a estratégia agora é ir além dos quartos e destinar mais recursos para serviços e experiências, dando novo fôlego a empreendimentos hoteleiros.

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Algumas redes internacionais planejam dobrar de tamanho no país, trazer novas bandeiras e levar suas marcas para shoppings, condomínios residenciais e até hospitais. Estão previstos investimentos potenciais superiores a R$ 8 bilhões e a abertura de mais de 21 mil quartos, com quase 140 novos hotéis até o fim da década, segundo o Fórum de Operadores Hoteleiros, principalmente nos segmentos de luxo. Ícone neste quesito, até o Copacabana Palace, no Rio, fecha seu anexo para uma profunda reforma até o fim de 2026.

— O setor voltou muito forte após a pandemia, com o número de turistas de lazer em alta, embora o mercado corporativo ainda não tenha retornado ao patamar anterior a 2020. A estratégia das companhias é investir em experiências, criando serviços de gastronomia e conexão com a comunidade local. Isso ajuda a elevar o preço das diárias, que cresceram 10% em 2024 e devem avançar 5% neste ano, além de contribuir para o aumento da ocupação — diz Ricardo Mader, diretor da consultoria especializada JLL.

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Segundo a Mabrian Travel Intelligence, que compila dados sobre turismo, São Paulo e Rio somam 40% da demanda turística no Brasil. O dado, diz Cristina Panizo, diretora da empresa, indica oportunidades em outras regiões, especialmente as com vocação para o turismo de praia, cultura e patrimônio histórico:

— No Brasil, 71,1% dos viajantes optam por hotéis. De 2023 para 2024, o turismo cultural e de praia aumentou, impulsionando empreendimentos voltados para aventuras ao ar livre, hospedagens ecológicas e experiências combinando cultura e gastronomia.

Anexo do hotel Copacabana Palace vai entrar em reforma — Foto: Márcia Foletto

A rede francesa Accor, com 330 unidades, já assinou contrato para a abertura de 19 empreendimentos — 14 em municípios em que não estava —, que podem demandar aportes de R$ 700 milhões. E está trazendo para o país a bandeira Tribe, com a primeira unidade em Belo Horizonte. Em paralelo, investe na criação de restaurantes próprios para seus empreendimentos e desenvolve ações como jantares às cegas, batalhas de drinks e aulas de pintura com vinho. Hoje, a gastronomia já responde por 21% da receita do grupo.

— Isso faz parte do movimento de diversificação e crescimento. O país continua sendo um destino estratégico para o turismo internacional. Há cem cidades mapeadas para a bandeira Ibis, por exemplo, com potencial de desenvolvimento — afirma Abel Castro, diretor de Desenvolvimento da Accor Américas.

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Grupos menores também crescem. O Nannai, com uma unidade em Fernando de Noronha e outra em Muro Alto, Pernambuco, abrirá mais dois hotéis no Nordeste. E quer levar para os novos empreendimentos as piscinas individuais nos quartos e experiências gastronômicas com chefs, com refeições na praia e piqueniques. O gerente de Marketing da empresa, André Kabutomori, diz que a ideia é fazer do hotel a própria experiência:

— Estamos investindo em uma plataforma de inteligência artificial (IA) para entender melhor quais experiências podemos criar com base nos gostos dos consumidores. Também ajuda a identificar cidades para nossa expansão. Vamos dobrar de tamanho.

Com 11 hotéis no Brasil, o português Vila Galé prevê investimentos de R$ 400 milhões em sete novos empreendimentos. O foco está em fincar sua bandeira em prédios históricos, atraindo famílias em busca de experiências locais. Em Ouro Preto, em Minas Gerais, o novo hotel será instalado na antiga sede do 1º Regimento Português de Cavalaria. Já em São Luís, no Maranhão, a unidade ocupará casarões antigos.

Em Alagoas, o Vila Galé vai estrear no Brasil o conceito Nep Kids, voltado para crianças, seguindo o modelo que tem no Alentejo, em Portugal.

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Além da ampliação de serviços e conceitos, outra estratégia envolve o uso das marcas em empreendimentos imobiliários. Um exemplo é o americano Marriott, que traz a marca Ritz-Carlton para o Brasil com um projeto em Maricá, na Região dos Lagos fluminense, que incluirá um complexo residencial. Estratégia semelhante será adotada com a bandeira W em Gramado. Ao todo, o grupo prepara dez lançamentos, incluindo residências em alguns deles, elevando sua capacidade de 3.592 para 5.775 quartos.

—Gostamos de identificar locais com potencial turístico e colocá-los no mapa dos fluxos turísticos, desenvolvendo novos destinos — diz Gonçalo Rebelo de Almeida, administrador do Grupo Vila Galé.

O Vila Galé (ao lado) abre hotel em Alagoas com foco infantil — Foto: Tiago de Paula Carvalho
O Vila Galé (ao lado) abre hotel em Alagoas com foco infantil — Foto: Tiago de Paula Carvalho

— Também temos planos de introduzir o City Express by Marriott, uma marca voltada para grandes destinos urbanos. Ao expandirmos nosso portfólio no Brasil, podemos competir melhor com outras grandes redes hoteleiras — afirma Bojan Kumer, vice-presidente de desenvolvimento do Marriott International no Caribe e América Latina.

O Grupo Hilton, dos EUA, pretende dobrar sua presença no Brasil nos próximos três anos. Para isso, vai abrir 20 empreendimentos. Entre os destaques estão as primeiras residências da marca em Curitiba e a introdução de bandeiras, como Motto, Homewood e Spark, voltadas para segmentos como o econômico premium. Os projetos incluirão experiências diferenciadas, como aulas de yoga e eventos musicais. Leonardo Lido, diretor sênior de Desenvolvimento da companhia, destaca que marcas focadas em serviço, luxo e lifestyle atraem o interesse de proprietários, incorporadoras e hóspedes:

— No Brasil, continuamos em busca de oportunidades para expandir o portfólio. Embora as grandes cidades e centros urbanos sejam estratégicos, vemos grande potencial em destinos variados, como Campos do Jordão e Ilhabela.

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Arturo Garcia Rosa, CEO do Sahic Group, que organiza um fórum do setor hoteleiro na próxima semana no Rio, avalia que os investimentos refletem o crescimento do turismo no Brasil, que alcançou um recorde de 6,7 milhões de visitantes estrangeiros em 2024:

— Muitas bandeiras internacionais passaram a ter presença mais forte no país.

Casa Marambaia: yoga em área externa — Foto: Paula Giolito
Casa Marambaia: yoga em área externa — Foto: Paula Giolito

Emir Penna, diretor do Grupo Promenade, que opera 11 hotéis no país, lembra que cidades como o Rio vivem bom momento, com agenda intensa de eventos, como shows internacionais e eventos esportivos. Cita a expansão da Casa Marambaia, em Petrópolis, que ganhou centro de convenções e terá mais 15 lofts.

— Estamos focados em categorias mais sofisticadas. O segmento de hotéis econômicos enfrenta forte concorrência dos apps. No futuro, só sobreviverão aqueles que oferecerem uma gama completa de serviços. Este ano, estamos remodelando nossa área gastronômica e investindo em spa.

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Alfredo Lopes, presidente da Associação Brasileira de Hotéis, afirma que as redes hoteleiras estão atentas ao aumento do valor das diárias e da taxa de ocupação, que fechou 2024 em torno de 65% e deve atingir 70% neste ano. No entanto, ainda vê desafios:

— O fundamental é garantir a continuidade dos eventos que temos visto, para manter o fluxo de turistas.

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