O presidente dos EUA, Donald Trump, deu um prazo de dois meses para que o Irã chegue a um novo acordo sobre o desenvolvimento de seu programa nuclear, afirmaram fontes americanas, detalhando que o limite de tempo foi informado pelo republicano a autoridades de Teerã na carta enviada no começo deste mês, por meio de diplomatas dos Emirados Árabes Unidos. O governo iraniano afirmou nesta quinta-feira que se prepara para responder ao contato, apesar de classificar a mensagem como “mais uma ameaça”.
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Trump revelou, no dia 7 de março, que havia enviado uma carta a autoridades iranianas para exigir a abertura de uma negociação sobre o programa nuclear do país — que desde que ele retirou, durante seu primeiro mandato, os EUA do acordo nuclear negociado por Barack Obama, não obedece a limites ou se submete a fiscalizações internacionais. O recebimento da carta foi acusado pelo líder supremo do Irã, o aiatolá Ali Khamenei, no dia 12.
Fontes ouvidas pelo site de notícias americano Axios revelaram na quarta-feira que a carta incluía um “prazo de dois meses para chegar a um novo acordo nuclear. A mesma informação foi confirmada por autoridades consultadas pela rede americana CNN — nem Trump nem as autoridades iranianas tinham se referido a um limite final para aquiescência a um acordo.
A investida sobre o programa nuclear iraniano repetiu a estratégia de pressão total que Trump costuma usar contra seus rivais. Ele mencionou consequências “terríveis” ao Irã em caso de uso de força militar pelos EUA, em uma sugestão de que avaliaria o uso da força, ao comentar o tema publicamente. Em Teerã, cuja diplomacia lida constantemente com pressões internacionais, a fala do republicano não passou sem resposta, com Khamenei chamando a ameaça de “imprudente”, acrescentando que seu país não buscava armas atômicas.
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Em uma entrevista à televisão estatal iraniana, o ministro das Relações Exteriores Abbas Araqchi disse nesta quinta que Teerã está estudando o conteúdo da carta enviada por Trump e responderá “nos próximos dias” e pelos “canais adequados” — os dois países não mantém contatos diplomáticos diretos, com Abu Dhabi e Doha fazendo as vezes de intermediários dos diálogos muitas vezes. Ele ainda disse que embora a carta pretendesse apresentar “oportunidades”, era “na realidade mais uma ameaça.
Logo que retornou à Casa Branca, Trump incluiu ataques contra o programa nuclear iraniano e a possibilidade do país do Golfo Pérsico desenvolver uma bomba atômica em sua agenda. Além da carta enviada às autoridades do país, o presidente tem endereçado o assunto em outras manobras, que não necessariamente envolvem ameaças diretas.
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Ao lançar uma campanha de bombardeios aéreos contra os rebeldes Houthis no Iêmen, grupo aliado de Teerã no “Eixo da Resistência”, que vem realizando ataques a embarcações no Mar Vermelho desde o início da guerra entre Israel e Hamas em Gaza, Trump fez um alerta ao Irã em uma publicação na rede social Truth Social, sua primeira manifestação oficial sobre a ofensiva militar.
“Ao Irã: O apoio aos terroristas houthis deve acabar IMEDIATAMENTE! NÃO ameace o povo americano, seu presidente, que recebeu um dos maiores mandatos da história presidencial, ou rotas de navegação em todo o mundo. Se fizer isso, TENHA CUIDADO, porque a América o responsabilizará totalmente e não seremos gentis sobre isso!”, escreveu Trump, acirrando ainda mais a relação com o país.
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Especificamente sobre a ameaça atômica, o tema foi tratado durante a conversa entre Trump e o presidente da Rússia, Vladimir Putin. O comunicado emitido pela Casa Branca logo após a ligação telefônica entre ambos indica que discutiram “a necessidade de interromper a proliferação de armas estratégicas” e que “os dois líderes compartilhavam a opinião de que o Irã nunca deveria estar em posição de destruir Israel”.
Moscou fez parte de uma rodada diplomática tripartite, com Irã e China, na semana passada, em que foi abordado o tema do programa nuclear iraniano. O grupo se posicionou contrariamente à imposição de sanções unilaterais contra Teerã e indivíduos ligados ao regime teocrático, mas representantes se mostraram favoráveis a negociações, citando o acordo de 2015, do qual Trump retirou os EUA unilateralmente. (Com AFP)