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filme cult da pornochanchada volta aos cinemas 42 anos após censura da ditadura militar

BRCOM by BRCOM
março 22, 2025
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Proibição do filme "Onda nova" foi assinada por "Dona Solange" — Foto: Reprodução

Assinado em 23 de novembro de 1983 pela odiosamente célebre Solange Hernandes, um protocolo do Ministério da Justiça da ditadura militar determinava a “não liberação” do segundo longa-metragem da dupla José Antonio Garcia e Ícaro Martins. O documento seguia a recomendação de pareceristas que reprovavam o filme por conta de detalhes como “exibição de pelos pubianos”, “de pênis”, “prática de aborto”, “carícias e beijos lésbicos” e “uso de maconha”. Um censor escreveu que a obra mostrava uma “vida pautada em libertinagem e desrespeito”. Outro chegou a sugerir que era preciso “manter aceso o sinal vermelho para os filmes dessa laia”.

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Proibição do filme “Onda nova” foi assinada por “Dona Solange” — Foto: Reprodução

Na ocasião, a diretora da Divisão de Censura de Diversões Públicas, chamada jocosamente por artistas de “dona Solange”, achava que estava salvando as famílias da promiscuidade. Mas, na verdade, estava dando o pontapé inicial para transformar “Onda nova” num cult do cinema brasileiro.

— Ele teve só uma exibição na Mostra de São Paulo e logo foi interditado. Não pediram cortes pontuais, eles acharam o filme inteiro um absurdo. Só liberaram meses depois — lembra o diretor Francisco Martins, que deixou o antigo apelido “Ícaro” para trás e hoje assina com seu nome de batismo.

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Agora, 40 anos após o fim da ditadura, esse absurdo de filme volta aos cinemas com uma cópia restaurada e remasterizada em 4k. A reestreia está marcada para esta quinta-feira, 27 de março. É uma nova chance para o público brasileiro acompanhar a rotina das jogadoras do fictício Gayvotas Futebol Clube, numa época em que o futebol feminino era ainda mais alvo de preconceitos do que atualmente. No estrelado elenco, estavam Carla Camurati, Cristina Mutarelli, Cida Moreira, Regina Casé e Tania Alves, com participações do faz-tudo Caetano Veloso, do então jogador e hoje comentarista Walter Casagrande e do locutor Osmar Santos, os três interpretando eles próprios.

Caetano Veloso faz uma participação no filme'Onda nova' — Foto: Divulgação
Caetano Veloso faz uma participação no filme ‘Onda nova’ — Foto: Divulgação

A história por trás de “Onda nova” é ainda mais interessante porque a obra foi financiada por uma produtora da Boca do Lixo, a Olympus Filme, que seguia a tendência de grande parte das empresas de cinema daquela região do Centro de SP: realizar filmes eróticos de baixíssimo orçamento e alto retorno de bilheteria, as populares pornochanchadas.

Garcia e Martins tinham pretensões artísticas bem mais elevadas do que a média do gênero, mas foram parar na Boca por pura falta de opção. Anos antes, quando deixaram a Escola de Comunicações e Artes da USP, eles bateram na porta das grandes produtoras brasileiras atrás de financiamento para seu primeiro filme, sem sucesso. A Boca foi o que restou, mais especificamente o produtor Adone Fragano, da Olympus Filme. Daí nasceu “O olho mágico do amor” (1982), o primeiro de uma série batizada de “Trilogia do Desejo”, que seria completa por “Onda nova” e depois por “A estrela nua” (1984).

— O Adone Fragano topou, mas tinha que ser um filme barato, com três semanas de filmagem e no máximo três locações. Ele falava que a fórmula da Boca do Lixo era ter 15 cenas de sexo, sendo que cinco mais alongadas e pelo menos uma situação de lesbianismo. A história a gente podia fazer o que quisesse. Eles eram super objetivos e, de certa forma, davam muito liberdade — recorda Martins. — Acabou que “O olho mágico…” foi um sucesso. Só a renda do Rio de Janeiro pagou o filme.

Carla Camurati (à direita) vivia uma jogadora de futebol em "Onda nova" — Foto: Divulgação
Carla Camurati (à direita) vivia uma jogadora de futebol em “Onda nova” — Foto: Divulgação

A expectativa para “Onda nova”, portanto, era grande, mas o atraso provocado pela censura e uma mudança no tipo de filme feito pela Boca do Lixo atrapalhou os planos. Seguindo uma tendência internacional que começou com a repercussão do japonês “O império dos sentidos” (1976), a pornochanchada migrou do erótico para o explícito por volta de 1984, abrindo espaço para obras como “Oh! Rebuceteio” (1984) e “Senta no meu que eu entro na tua” (1985).

Os filmes do período, lembra Francisco Martins, radicalizaram entre aqueles que incluíam cenas de sexo explícito e os que não tinham sexo algum. Era difícil ficar no meio do caminho, e ninguém mais se interessava pelo erotismo softcore de “Onda nova”.

— Aí, quando nosso filme foi finalmente liberado, ele entrou numa sala ao lado de uma das primeiras produções brasileiras de sexo explícito, que se chamava “Penetrações”. A gente ficou desesperado. E o “Onda nova” foi considerado um fracasso — conta Martins.

Com os olhos de hoje, a impressão é que tanto a censura quanto o desinteresse dos espectadores por “Onda nova” vinham do fato de que a obra estava anos à frente do seu tempo. Na sinopse apresentada pedindo sua liberação para o Ministério da Justiça em 1983, o filme se dizia “uma colagem neossurrealista sobre a juventude paulistana”. Foi exatamente naquele mesmo ano que o futebol feminino foi regulamentado no Brasil, depois de quatro décadas de proibição — uma bizarrice iniciada em 1941 num decreto-lei de outra ditadura, o Estado Novo de Getúlio Vargas, sob a argumentação de que, para as mulheres, o esporte era “incompatível com as condições de sua natureza”.

Neide Santos e Carla Camurati no filme'Onda nova' — Foto: Divulgação
Neide Santos e Carla Camurati no filme ‘Onda nova’ — Foto: Divulgação

Além disso, “Onda nova” falava de sexo sem estigmatização. Temas como aborto, homossexualidade e drogas eram tratados de forma natural. Era uma abordagem pouco comum para o cinema brasileiro do período, ainda mais numa pornochanchada.

— Era um filme feminista, feito sob a ótica feminina — diz a atriz e diretora Carla Camurati, protagonista de toda a “Trilogia do Desejo” de Garcia e Martins. — O “Onda nova” já namorava há algum tempo com esse espaço que a mulher precisa ocupar no mundo, o que naquela época foi expresso pelo futebol, um esporte que sempre pertenceu ao universo masculino.

O longa acabou retornando aos olhares públicos e enfim tendo seu reconhecimento a partir da criação do Canal Brasil, em 1998. Dedicado exclusivamente a filmes brasileiros, o canal lançou o programa “Como era gostoso nosso cinema”, que exibia nas madrugadas pornochanchadas dos mais diversos tipos, entre elas “Onda nova”. Ali, novos e antigos espectadores puderam assistir ao filme sem os preconceitos dos anos 1980, e o status de cult se consolidou.

— O Zé Antonio e eu tínhamos um acordo: aceitaríamos fazer as cenas de sexo, mas não queríamos entrar no esquema moralista da Boca do Lixo — diz Francisco Martins. — As pornochanchadas eram preconceituosas. O homossexual era a sempre a “bicha louca” ridicularizada. A mulher era adúltera, tinha a figura do “corno”… Não eram todos, havia bons filmes, mas muitos reforçavam preconceitos. E eu acho que a gente conseguiu driblar essa leitura.

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Com a cópia restaurada, as novas gerações poderão agora dar seu veredito. O trabalho de recuperação foi conduzido pela produtora Julia Duarte, pela Aclara Produções Artísticas e pela família de José Antonio Garcia, com apoio de Cinemateca Brasileira, Zumbi Post e JLS Facilidades Sonoras. A reestreia aconteceu em julho do ano passado, no Festival de Cinema de Locarno, na Suíça. Depois o filme foi para a Mostra de São Paulo, em outubro.

— Tem sido bem louco ver a reação do público jovem — diz Duarte. — Em Locarno e na Mostra de São Paulo, teve uma galera que super se relacionou com o filme, disseram que ele tem a ver com o TikTok por causa da narrativa não linear. Viram “Onda nova” como se fosse uma produção recente.

Julia Duarte é sobrinha de José Antonio Garcia (o diretor morreu em 2005, aos 51 anos, vítima de infarto), e acompanha desde a infância as reações a “Onda nova”.

— Mesmo na minha família, o “Onda nova” era considerado meio maldito. Eu só vi o filme depois que o Zé morreu, quando a gente foi organizar uma mostra em homenagem no Centro Cultural São Paulo. E fiquei muito impressionada — conta Duarte, que agora vai trabalhar para restaurar as outras obras da “Trilogia do desejo”. — A ideia é que “Estrela nua” e o “Olho mágico do amor” estejam restaurados no ano que vem. Em dezembro o Zé Antonio faria 70 anos e vai completar 20 anos da morte dele. Então queremos fazer uma mostra dos filmes e levar para festivais internacionais.

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