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Disputa entre guerrilhas provoca recorde de deslocamento na Colômbia e põe em xeque negociações de paz

BRCOM by BRCOM
março 27, 2025
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Grafite com os dizeres “(O presidente da Colômbia, Gustavo) Petro obedece a Catatumbo, ELN” — Foto: AFP

Desde os anos 1990, quando a Colômbia foi palco de um conflito armado sangrento entre guerrilhas e grupos paramilitares, uma disputa territorial não chegava às dimensões do que é visto em Catatumbo, uma estratégica área cocaleira na fronteira com a Venezuela. Em pouco mais de dois meses, a guerra entre o Exército da Libertação Nacional (ELN) e a 33ª Frente, formada por dissidentes das Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc), já forçou mais de 56 mil pessoas a abandonar suas casas, cerca de 14% da população local. Segundo um relatório da ONG Human Rights Watch (HRW) publicado na quarta-feira, esta é a maior crise de deslocamento no país desde 1997, quando teve início a série histórica.

  • Entenda: ELN anuncia ‘greve armada’ no noroeste da Colômbia em plena crise de violência
  • Contexto: Conflito entre guerrilhas no nordeste da Colômbia deixa mais de 80 mortos

O conflito desafia os planos do presidente Gustavo Petro, que busca um acordo de paz com os grupos guerrilheiros em atividade no país nos moldes do assinado com as Farc em 2026. Desde 16 de janeiro, quando ELN iniciou sua campanha para recuperar o controle de áreas-chave em Catatumbo, o governo cortou as conversas com o grupo e reativou mandados de prisão contra 31 de seus líderes, suspensos durante as negociações.

“O que o ELN cometeu em Catatumbo são crimes de guerra. O processo de diálogo com este grupo está suspenso. O ELN não tem vontade de paz”, escreveu Petro em uma publicação no X.

O governo colombiano decretou “estado de emergência” e vem adotando uma série de medidas para conter a violência na região. Por outro lado, Bogotá mantém as negociações de paz com a 33ª Frente, embora relatos obtidos pela HRW apontem uma série de violações cometidas pelo grupo.

— Nossa pesquisa aponta para abusos generalizados contra pessoas comuns por parte do ELN em sua luta para recuperar o controle sobre Catatumbo — disse Juanita Goebertus, diretora da Human Rights Watch para as Américas. — As pessoas que entrevistamos também detalharam os graves abusos cometidos pela 33ª Frente, incluindo o recrutamento de crianças e o trabalho forçado, sem a proteção das autoridades estatais.

  • Leia também: Colômbia fecha postos de gasolina na fronteira com a Venezuela por suspeitas de fornecimento ao narcotráfico

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  • Importância estratégica
  • Deslocamento: ecos do passado
      • Disputa entre guerrilhas provoca recorde de deslocamento na Colômbia e põe em xeque negociações de paz

Importância estratégica

Catatumbo é uma região economicamente empobrecida no nordeste da Colômbia onde há uma alta concentração de plantações de coca e de petróleo. Sua localização é particularmente estratégica para o ELN, que lucra com atividades como tráfico de drogas, mineração ilegal e extorsão na fronteira e frequentemente se refugia na Venezuela em momentos de tensão — embora Caracas negue a presença do grupo em seu território.

Desde 2018, o ELN e a 33ª Frente dividiam o controle sobre grande parte de Catatumbo, no que especialistas classificavam como um “acordo de coexistência armada”. Mas na manhã de 16 de janeiro, combatentes do ELN realizaram uma série de assassinatos simultâneos em cinco municípios: Teorama, Convención, Hacari, Tibú e El Tarra. A disputa ocorre em meio à alta do preço da cocaína no mercado global, na qual a Colômbia lidera a produção.

De acordo com a HRW, ao menos 78 pessoas foram mortas entre janeiro e fevereiro em Catatumbo. O número é mais de quatro vezes maior do que a média mensal em 2024, e o valor real provavelmente é maior, uma vez que grupos armados ‘desapareceram’ com algumas pessoas e familiares enterraram corpos sem notificar as autoridades”, destaca o documento.

Grafite com os dizeres “(O presidente da Colômbia, Gustavo) Petro obedece a Catatumbo, ELN” — Foto: AFP

Antes mesmo da eclosão do conflito, porém, civis viviam à mercê da violência dos dois lados. Segundo a HRW, ambos os grupos armados aproveitaram as negociações de paz e ausência do Estado para “estabelecer o controle social” em Catatumbo. Relatos obtidos pela ONG apontam que a 33ª Frente se aproveitou de um plano de desenvolvimento com a comunidade local, firmado com o governo, para criar “campos de ressocialização”, onde moradores acusados de violar suas regras — como consumir drogas e apoiar militares — eram obrigados a realizar trabalhos forçados.

Uma das vítimas foi um homem de 35 anos, que conversou com a HRW sob condição de anonimato. Segundo ele, integrantes da 33ª Frente o levaram para um desses campos após ter postado um vídeo de um helicóptero do Exército colombiano no WhatsApp. Lá, ele conta ter sido forçado a trabalhar no corte de cana-de-açúcar todos os dias, das 4h às 18h30.

Várias pessoas também disseram ter fugido por medo de que guerrilheiros recrutassem à força seus filhos adolescentes. Entre 1º de janeiro e 19 de fevereiro, autoridades colombianas recuperaram 44 menores sob custódia dos grupos, a maioria deles recrutados pela 33ª Frente.

— Fomos embora porque eu tinha muito medo de que eles os levassem. Sou a única mulher em uma família de homens jovens e fortes, a qualquer momento eles poderiam levá-los — disse uma moradora de El Tarra deslocada.

  • Sem trégua: Colômbia anuncia início de ‘operações ofensivas’ em área afetada por ataques de guerrilheiros do ELN

Deslocamento: ecos do passado

De acordo com o Escritório das Nações Unidas para a Coordenação de Assuntos Humanitários (Ocha, na sigla em inglês), o número de deslocados em Catatumbo nos últimos meses é maior que o total de deslocados na Colômbia ao longo de todo o ano passado. A região é lar de apenas 0,7% da população colombiana, mas responde por 93% dos deslocados no país em 2025. Em meio à fuga, há relatos de moradores que tiveram suas casas tomadas pelos grupos.

— Um vizinho me ligou para dizer que o ELN jogou uma granada na casa onde eu morava e levou minha motocicleta e tudo o que havia na casa — disse um líder comunitário à HRW.

Dos 56 mil deslocados, 20 mil foram para a cidade de Cúcuta e 12 mil para Ocaña, no estado de Norte de Santander, onde também fica Catatumbo. Há, ainda, muitos migrando para a Venezuela — num fluxo reverso do que costuma ser visto na região. Nos quatro primeiros dias de conflito, mil pessoas buscaram proteção no país vizinho, segundo o Ocha, acrescentando para o risco de retorno de venezuelanos que haviam buscado refúgio na Colômbia.

A crise em Catatumbo reacende os temores de um conflito que assola a Colômbia desde a década de 1940. As tensões começaram na época como um problema agrário, marcado pela luta de camponeses por terra. Com o tempo, os grupos camponeses se organizaram politicamente e se armaram, tornando-se guerrilhas que tinham no controle da cocaína sua principal forma de financiamento. Os conflitos atingiram seu ápice nos anos 1990 e, em 2016, o acordo de paz com as Farc despertou a esperança de um horizonte mais tranquilo. No entanto, depois de 80 anos, o cenário parece distante da paz total almejada pelo presidente Petro.

Mais de 8,8 milhões de pessoas foram forçadas a abandonar suas casas ao longo de todos esses anos de conflito, segundo dados do Alto Comissariado da ONU para Refugiados (Acnur). Por outro lado, 115 mil foram obrigadas a ficar confinadas devido à violência.

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