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Em entrevista à AFP, Goro Miyazaki, de 58 anos, afirmou que a inteligência artificial corre o risco de roubar os empregos de artistas de anime japoneses, mas nunca será capaz de replicar o trabalho de seu pai, Hayao Miyazaki, a alma criativa do estúdio por trás de clássicos como “A viagem de Chihiro”. Graças ao novo gerador de imagens do ChatGPT, a internet está inundada de imagens imitando o estilo caprichoso do Studio Ghibli, levantando novos debates.
Filmes como “Meu vizinho Totoro” e “O castelo animado” são famosos por sua natureza exuberante e maquinário fantástico, meticulosamente desenhados à mão. Embora o estúdio não tenha comentado diretamente sobre a tendência de imagens, Goro Miyazaki, previu que a inteligência artificial poderia um dia substituir os animadores.
“Não seria surpreendente se, em dois anos, houvesse um filme feito completamente por IA”, disse em uma entrevista na última semana. Ele, no entanto, questiona se o público gostaria de assistir a uma animação totalmente gerada por IA.
Apesar das rápidas mudanças, a nova tecnologia também traz “grande potencial para o surgimento de talentos inesperados”, acrescentou Goro, diretor administrativo do Studio Ghibli. Ele falou no ateliê Ghibli, no oeste de Tóquio, dias antes da OpenAI, sediada em São Francisco, lançar a nova versão do ChatGPT.
A empresa americana, que já está enfrentando uma enxurrada de processos de direitos autorais, defende que a geração de imagens no estilo de artistas vivos é proibida, mas a mesma regra não se aplicaria a “estilos mais amplos de estúdios.
Nosso objetivo é dar aos usuários o máximo de liberdade criativa possível”, disse a empresa americana.
Goro lembrou que o Japão, hoje, passa por uma escassez de animadores qualificados, em parte porque a maioria dos iniciantes passa anos em empregos mal pagos para aprender o básico. A Geração Z, que entende de tecnologia digital, também parece estar menos entusiasmada com o trabalho manual envolvido, disse o animador.
O pai de Goro fundou o Studio Ghibli com Isao Takahata em 1985, um ano depois de dirigir o pós-apocalíptico “Nausicaä do Vale do Vento. Após a morte de Takahata em 2018, Hayao — agora com 84 anos e um fumante inveterado — continuou a criar filmes com o produtor Toshio Suzuki, de 76 anos.
Se esses dois não conseguirem mais criar animes, o que acontecerá?”, questionou Goro quando perguntado sobre o futuro de Ghibli. “Não é como se eles pudessem ser substituídos.”
Apesar da idade, Hayao ganhou seu segundo Oscar no ano passado com “O menino e a garça” — provavelmente seu último longa-metragem. Animes geralmente são feitos para crianças, mas Takahata e Hayao, homens “da geração que conheceu a guerra”, incluíram elementos mais sombrios que atraem adultos, lembrou Goro.
“Nem tudo é doce — há também uma amargura e sentimentos lindamente entrelaçados no trabalho”, disse ele, descrevendo um “cheiro de morte” que permeia os filmes. “É isso que torna o trabalho tão profundo.”
Para os mais jovens, que cresceram em tempos de paz, “é impossível criar algo com o mesmo senso, abordagem e atitude que a geração do meu pai tinha”, avalia Goro. Até mesmo “Totoro”, com suas criaturas espirituais da floresta fofinhas, é de certa forma um filme “assustador” que explora o medo de perder uma mãe doente, explicou.
À medida que as imagens de IA no estilo Ghibli proliferavam, um vídeo de Hayao de 2016 ressurgiu, o que muitos disseram que mostrava seu desdém pela tecnologia. “Eu sinto fortemente que isso é um insulto à própria vida”, diz o diretor no clipe curto, retirado de um documentário. No entanto, ele estava reagindo a um gráfico de computador assistido por IA de uma criatura semelhante a um zumbi, que ele chama de “extremamente desagradável” na filmagem completa.
Goro entrou para o Studio Ghibli em 1998 e dirigiu animações, incluindo o longa de 2006 “Contos de Terramar” e “Da colina Kokuriko”, de 2011. Ele também supervisionou o desenvolvimento do Museu Ghibli e do recém-inaugurado Parque Ghibli no Japão.
Goro gostava de desenhar quando menino e disse que aprendeu muito observando o trabalho de seu pai e Takahata, embora não achasse que poderia corresponder ao talento deles.
“Minha mãe, que também era animadora, me disse para não seguir essa carreira porque é um trabalho duro e movimentado”, disse Goro, acrescentando que seu pai raramente estava em casa. “Mas eu sempre quis fazer algo criativo.”