As vendas de veículos da Tesla caíram 13% no último trimestre, atingindo o nível mais baixo em quase três anos, à medida que a montadora reformulava seu modelo mais importante e lidava com a reação internacional contra a postura política de Elon Musk.
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A empresa informou nesta quarta-feira que entregou 336.681 veículos nos primeiros três meses do ano, seu pior desempenho desde o segundo trimestre de 2022. Em média, os analistas esperavam que a empresa vendesse mais de 390.000 carros e caminhões, de acordo com estimativas compiladas pela Bloomberg.
Os números refletem a extensão das dificuldades enfrentadas pela Tesla no início deste ano. A empresa reformulou fábricas ao redor do mundo para produzir a versão redesenhada do Model Y, o que resultou em uma perda de produção comum quando as montadoras fazem a transição entre gerações de veículos. O fator extraordinário foi o envolvimento de Musk na política global, que gerou protestos nos Estados Unidos e na Europa.
As manifestações cresceram nas últimas semanas em resposta à atuação de Musk em Washington e além, apoiando candidatos e causas da extrema direita. O CEO da Tesla liderou os esforços do ex-presidente Donald Trump para reduzir o funcionalismo público federal, interferiu na eleição federal da Alemanha e defendeu a saída dos EUA da aliança militar transnacional OTAN.
A empresa tem demonstrado preocupação com possíveis represálias promovidas por outros países, à medida que uma guerra comercial se intensifica após as medidas do presidente Donald Trump para impor tarifas sobre uma ampla gama de importações. Nesta quarta-feira, Trump promete anunciar uma nova rodada de impostos de importação sobre produtos de vários países que chegam aos EUA, que ele chama de ”tarifas recíprocas”, e atingem inclusive o Brasil.
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As ações da Tesla caíram até 6,4% logo após o início do pregão desta quarta-feira. Desde que atingiram um recorde histórico nas semanas seguintes à vitória de Trump, os papéis da empresa haviam despencado 44% até o fechamento de terça-feira.
As entregas destacam o desafio da Tesla em reviver seu setor automotivo, que representou mais de três quartos da receita no ano passado. A empresa afirmou que espera voltar a crescer após a queda nas entregas em 2024 — o primeiro declínio anual em mais de uma década.
Os investidores já esperavam um início de ano difícil, tanto pela transição do Model Y quanto pelo fato de que o primeiro trimestre costuma ser o mais fraco para as vendas de automóveis. No entanto, a Tesla teve um desempenho pior do que muitos concorrentes.
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Na Europa, os registros de veículos caíram 43% nos dois primeiros meses do ano, contrastando com o aumento de 31% nas vendas gerais de veículos elétricos no setor. Na China, as vendas no atacado também despencaram, enquanto a gigante local BYD ampliou sua liderança. A BYD registrou um aumento de 58% nas entregas de veículos elétricos a bateria e híbridos plug-in no primeiro trimestre.
A Tesla entregou 323.800 unidades dos modelos Model Y e Model 3 no primeiro trimestre, uma queda de 12% em relação ao ano anterior. As vendas dos outros modelos — incluindo Cybertruck, Model S e Model X — caíram 24%, para apenas 12.881 unidades.
Embora a empresa ainda não tenha divulgado os números específicos de vendas do Cybertruck, um recente recall revelou que a Tesla vendeu pouco mais de 46.000 unidades da picape nos primeiros 15 meses em que esteve no mercado dos EUA.
Um movimento de protesto contra Musk, chamado “Tesla Takedown”, está realizando centenas de manifestações em locais da montadora de veículos elétricos ao redor do mundo neste início de ano. O grupo incentiva as pessoas a venderem seus veículos da Tesla e suas ações da empresa.
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As críticas também vieram da base de investidores da Tesla. Na terça-feira, o controlador da cidade de Nova York, Brad Lander, que atua como consultor de investimentos dos fundos de pensão da cidade, criticou o envolvimento de Musk com o governo e acusou a Tesla de deturpar o nível de comprometimento do CEO com a empresa.
Ele afirmou que os acionistas estão sofrendo porque “não têm um CEO em tempo integral focado na empresa e em seus interesses”.
Musk reconheceu ter “grande dificuldade” em administrar seus negócios enquanto lida com seu trabalho em Washington. No entanto, durante uma reunião com funcionários da Tesla transmitida no X em 20 de março, ele projetou um futuro promissor para a empresa e aconselhou a equipe a manter suas ações.
Os executivos da Tesla estão apostando cada vez mais no futuro da empresa com inteligência artificial, autonomia e robótica, incluindo planos de lançar um serviço de robotáxis em Austin em junho. A empresa também anunciou o lançamento de novos veículos mais acessíveis na primeira metade do ano, embora tenha fornecido poucos detalhes.
Ambas as iniciativas deram esperança a alguns investidores de que a Tesla possa renovar sua linha de produtos e superar a crescente impopularidade de seu CEO nos próximos meses.