As mortes de crianças e adolescentes em intervenções policiais aumentaram 120% em São Paulo, entre 2022 e 2024, segundo o relatório “As câmeras corporais na Polícia Militar do Estado de São Paulo: mudanças na política e impacto nas mortes de adolescentes”. Esses dados têm ligação direta com o abandono de algumas pautas por parte da esquerda brasileira, e elas afetam diretamente a base esquerdista.
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Como disse o senador Fabiano Contarato (PT-ES), ex-delegado de polícia, “a esquerda precisa abandonar o romantismo e se livrar do rótulo de que direitos humanos significa defender somente pessoas presas”. Concordo com ele em todos os aspectos. Essa narrativa é amplamente defendida e difundida pela extrema direita — até os correligionários deles serem detidos —, e o que percebo nas ruas são pessoas com medo.
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Sei disso porque aqueles que mais dialogam comigo são gente simples, que está na ponta, sofrendo as agruras no dia a dia. Chegaram até mim justamente por minha atuação em relação ao auxílio, pela conexão que tenho com o governo e pela simplificação da linguagem. A mensagem chega a todos e é de fácil entendimento.
Quando o campo progressista tece críticas a Frei Gilson, se afasta da base católica. E, como já tem dificuldade de diálogo com os evangélicos, se afasta ainda mais dos cristãos. Com os evangélicos, é muito mais questão de valores que de pautas; com os católicos, preconceito, como é meu caso. Não conseguem levar uma linguagem acessível e conciliadora, envolvendo os dois campos religiosos.
Outro ponto a que a esquerda precisa prestar atenção é a mobilidade. Quando aborda o tema, fala de andar de bicicleta, enquanto a população se aperta nos ônibus lotados. Quando fala em educação, não aborda a questão de pessoas com espectro autista ou a quantidade de alunos em sala de aula. Tudo isso nos afasta de quem mais precisa da esquerda.
A economia é outro termômetro ignorado pelo campo progressista nos últimos anos. Durante muito tempo, nos recusamos a aceitar que os preços dos alimentos estão elevados, mas quem vai ao mercado no dia a dia sabe a dificuldade que é fazer uma feira para a família. E o que a esquerda fez? Alegou que “os números macro estão sob controle”.
Ignoramos alguns pontos que afetam mais, como é o caso da alimentação, quem está mais vulnerável, impactando muito diretamente o orçamento. E onde esteve a esquerda em todos esses momentos? Precisamos fazer uma autocrítica enquanto campo político e não nos esquecer de onde viemos e para quem trabalhamos.
*André Janones é deputado federal (Avante-MG)