Liderado pelo ex-judoca Flávio Canto, o Instituto Reação completa 22 anos hoje, em meio a uma reestruturação da área de alto rendimento — com foco nos Jogos Olímpicos — e a uma grande reforma na unidade da Rocinha, na Zona Sul do Rio. Sede da ONG que promove esporte, educação e capacitação profissional, o local atende cerca de 4,5 mil crianças e jovens em 11 polos distribuídos por cinco estados do país.
Quando as obras forem concluídas, os alunos das aulas de judô e jiu-jitsu contarão com mais áreas para treinamento, totalizando 900 m² de tatames espalhados pelo prédio. Isso permitirá ao instituto dobrar a oferta de vagas na unidade, que atenderá 1.200 pessoas.
Canto explica que o mantra do Reação é “formar faixas-pretas dentro e fora do tatame”. Mas, ao longo dessas mais de duas décadas, ele percebeu a necessidade de expandir o projeto para além das aulas de artes marciais — sem, contudo, ser “assistencialista ou salvacionista”.
— É um projeto de integração e de fortalecer sonhos, de fomentar esses sonhos em todos, com a visão de que todo mundo é um transformador. No início, nossa ideia era ter um grupo de transformados e, de repente, percebemos que precisávamos formar um grupo de transformadores — detalha ele, campeão dos Jogos Pan-Americanos de Santo Domingo em 2003, ano da inauguração do instituto.
Um desses novos transformadores é Abel Júnior, de 25 anos. Ele foi aluno de judô na adolescência e, por meio dos programas da ONG, estudou com bolsa integral em escola particular, fez curso técnico e está inserido no mercado de trabalho. O primeiro emprego foi possibilitado pelo Reação Conecta, que oferece desde oficinas de currículo até a inserção em processos seletivos de empresas parceiras.
— O Reação foi um divisor de águas na minha vida. Hoje, minha irmã cursa Medicina, e eu, Engenharia, já atuando na minha área. É sem igual, é transformador uma família sair de uma situação marginalizada socialmente e chegar aonde chegamos — conta.
Hoje, Abel é voluntário do programa de reforço escolar e dá conselhos de vida aos alunos, mas rejeita a ideia de ser “exemplo”:
— Não consigo pensar em mim dessa forma, sou um ser humano, de carne e osso. Sou um norteador de caminhos, ajudando para que seja mais leve e menos custoso para eles. Estou doando de volta os conhecimentos que recebi.
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No âmbito esportivo, o Reação é referência entre as escolas de judô, com mais de 300 atletas filiados a federações estaduais. Com tantos alunos, precisa fazer uma seleção para a equipe de alto rendimento, formada por cerca de 10% dos participantes. Entre eles, está Jéssica Pereira, de 30 anos, que entrou no instituto aos 16. Integrante da seleção brasileira sênior desde 2014, ela foi vice-campeã mundial júnior, seis vezes campeã brasileira e tricampeã do Pan-Americano.
Nesse meio-tempo, formou-se em Educação Física e fez pós em Marketing. Reserva do Brasil em Paris-2024, almeja uma vaga em Los Angeles-2028:
— O judô mudou a minha vida, hoje tenho uma formação. E é um esporte que ensina muita disciplina e nos prepara para tudo. Dentro do tatame, passamos por situações que precisamos ser capazes de superar. E a gente leva isso para a vida também.