O preço do Nintendo Switch 2, lançado na última quarta-feira (2), deu um susto em muita gente. Só nos Estados Unidos, a versão de entrada tem preço sugerido em US$ 449.99 (R$ 2.699,94, em conversão direta, sem impostos) — um salto de quase 67% em relação ao Switch 1, que foi lançado em 2017 por US$ 299.99.
Além do console, nessa nova geração, os jogos também custarão salgado: o carro-chefe do Switch 2, um novo Mario Kart World de mundo aberto, custará US$ 79 — o que, no Brasil, sem impostos e em conversão direta, é quase R$ 480 na cotação atual.
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E mais: caso o tarifaço de Donald Trump se mantenha de forma integral, é possível que o preço suba ainda mais pelo menos na versão americana — já que o console, que é um salto em desenvolvimento de hardware e marca a entrada da empresa na nova geração de videogames, foi anunciado horas antes do novo pacote econômico do republicano.
Em entrevista exclusiva ao quadro Descontrole, do jornal O GLOBO, o presidente da Nintendo nas Américas, o veterano Doug Bowser, explicou que os novos preços têm relação com as novas capacidades do hardware — que agora, graças a um potente processador exclusivo feito pela Nvidia, consegue rodar jogos que, até então, eram impensáveis para o Switch, como Cyberpunk 2077 (2020), Elden Ring (2022) e até o mais recente Split Fiction (2025).
Além disso, o Switch 2 ampliou as possibilidades de uso dos Joy-Cons, que agora têm microfone integrado para videochamadas (a partir do novo botão C) e possibilidade de serem convertidos em mouse.
— Obviamente muito desse desenvolvimento para essas ferramentas custa caro — explicou.
Além das novidades em hardware, Bowser também falou ao GLOBO sobre o retorno da empresa ao Brasil — a Nintendo havia cortado a sua produção aqui em 2015, por causa da alta taxa tributária —, a possibilidade de todos os jogos serem localizados (inclusive Pokémon) e quais são as perspectivas para o futuro dos jogos.
A Nintendo saiu do Brasil em 2015, voltou em 2020. Nesses dez anos, o que mudou? Como a Nintendo vê o mercado brasileiro agora?
Quando nós olhamos para a América Latina, especificamente para o Brasil, nós vemos, antes de tudo, um interesse muito, muito grande de todos os gamers brasileiros – e não só de quem joga, mas do público geral – um interesse muito grande na Nintendo, nos nossos personagens e nosso mundo. Então a gente percebeu que esse é um mercado que nós tínhamos que estar, e que nós tínhamos que deixar para trás as razões porque saímos. Um dos indicativos é que, quando começamos a lançar jogos mobile, como Super Mario Bros Run e Pokémon, a gente via que o mercado brasileiro engajava muito. Nós percebemos que havia demanda ali, que havia interesse. Então a gente viu que precisava encontrar um jeito. O que mudou [de lá para cá] é que, obviamente, as oportunidades de negócio no Brasil mudaram um pouco, as tarifas mudaram um pouco. Isso tornou o mercado mais acessível para fabricantes que, até então, não conseguiam ter produção no país. Essa acessibilidade facilitou a nossa produção, e estamos muito animados de voltar e temos ainda muito trabalho a fazer.
Você diz que ainda há muito trabalho a fazer. Podemos esperar, por exemplo, que todos os jogos, como Pokémon, sejam traduzidos em português?
Nosso desejo é agradar os gamers brasileiros. Nós sabemos que um ponto chave nisso é ter nossos jogos traduzidos em português. Nós sabemos da importância disso. Os fãs brasileiros da Nintendo me lembram constantemente disso no X. Então, eu sei muito bem o quão importante é localizarmos todos os jogos. Não posso garantir que estamos fazendo o nosso melhor em Pokémon, particularmente. Essa é uma discussão que temos que ter com nossos amigos da Pokémon Company.
O Nintendo Switch 2 tem muitas ferramentas multiplayer. É uma grande mudança em relação ao Switch 1. O que motivou essa nova abordagem? Podemos esperar mais jogos multiplayers, ou até novos modos em jogos que já existem?
A resposta curta é sim, mas vou entrar em detalhes. Com o Nintendo Switch 2, o que importava para nós é que, em primeiro lugar, ele de fato é uma nova geração na Nintendo. E isso tem alguns motivos. Primeiro, relacionados à performance. O novo joy-con foi melhorado, as alavancas aumentaram, têm mais alcance. São feitos para durar. Os ‘ombros’ do controle, as pequenas partes que você usa para jogar enquanto segura o Joy-Con, elas estão maiores para caber nos dedos das mãos da maioria das pessoas. Então, estão mais acessíveis. O HD Rumble foi melhorado, os controles de motion também. E provavelmente a parte mais importante é que agora o controle é um mouse. O que é mais legal é que eu posso jogar com o controle na minha perna. Eu não preciso botar meu mouse na mesa, posso usá-lo na minha perna. Essa é apenas uma parte das coisas que a gente melhorou em geral. E aí o que você apontou, do multiplayer, é que, além de toda essa tecnologia, nós temos o Gamechat, que para mim é a real diferença em relação a tudo o que você pode jogar hoje em dia. Sim, você consegue jogar com seus amigos online e já existem alguns serviços para isso. Mas o que torna o Gamechat tão único é que, primeiro, é apenas você e seus amigos. São apenas as pessoas que você convida pro seu ambiente de jogo. Pensa nisso: se você estivesse jogando no seu sofá, em casa, você não convidaria gente aleatória para ir na sua casa jogar com você. Você convida seus amigos, sua família – e isso não é diferente se você apertar o botão C e convidar seus amigos. Então, o Gamechat cria um ambiente realmente muito seguro. Em segundo lugar, é a possibilidade de você ter um chat em áudio com 12 pessoas, e com quatro dessas você poder ligar a câmera para vê-las também. Outra coisa é que você pode compartilhar jogos agora. Eu não preciso ter o jogo baixado no meu dispositivo: você pode dividir comigo, e a gente pode jogar juntos. Então é essa interação social em camadas que eu vejo como um real diferencial.
Isso foi uma demanda criada pela pandemia, ou era algo que a Nintendo já pretendia criar?
Acho que foi uma percepção de que a forma como jogamos mudou, e talvez o componente online tenha sido acelerado pela pandemia. Muitas vezes os desenvolvedores se encontram em várias situações de gameplay em que eles se perguntam: e se isso fosse diferente? E se fizéssemos isso? Nós amamos encorajar nossos desenvolvedores a experimentar as coisas pela tentativa e erro. Nós amamos que eles testem tecnologias diferentes para aprender coisas novas. Se eu tivesse que fazer minha própria discussão: e se, durante a pandemia, eu pudesse visitar a sua ilha no Animal Crossing New Horizons, mas eu pudesse realmente visitar você e a gente pudesse conversar? Essa teria sido uma experiência muito enriquecedora. Acho que esse é um exemplo de onde você pode ir com esse processo de se perguntar “e se?”.
Para além do multiplayer, nós vimos novas ferramentas que jogos tradicionais da Nintendo não tinham até então. Como Mario Kart, que agora é de mundo aberto. Essa é uma forma de tentar competir com outros players, como Sony e Microsoft?
Eu não vejo muito como competir, vejo mais como prover diferentes maneiras de jogar. Você mencionou algumas das novas ferramentas que temos aqui. Primeiro, quando você pensa no Nintendo Switch 2, nós pegamos tudo o que você ama no Nintendo Switch. A portabilidade do dispositivo, a possibilidade de jogar em mãos, ou de jogar na TV. Essa é uma característica muito única da Nintendo, mesmo em relação a outras plataformas que podem ter seus próprios dispositivos portáteis agora. Mas outra diferença que eu acho fascinante em alguns jogos é a possibilidade de agora tirar esse Joy-Con e transformá-lo num mouse. Você não consegue fazer isso com qualquer outra plataforma ou controle. É algo muito, muito único. Nós gostamos de ver como as pessoas jogam. Nós gostamos de ver em que plataformas elas jogam. Gostamos de aprender sobre isso. E nós sempre dizemos que, o que você chama de competição, não nos leva à cópia ou imitação. Nos leva à inovação, a tentar coisas de forma diferente e nova.
Esse novo recurso do mouse vai ser muito bom para FPS.
Vai ser para FPS, e cada vez mais publishers poderão ver esse recurso e entendê-lo. Eu acho que vai nos permitir trazer mais conteúdo para a plataforma em um geral. Mas também é divertido para jogos sociais, sabe, por exemplo, no upgrade de Super Mario Party Jamboree. É um jeito muito único da Nintendo de usar motion através de vários periféricos para criar novas experiências de jogo.
Me lembra um pouquinho o Wii.
Desde o Wii obviamente motion tem sido uma grande parte de como nós pensamos sobre jogabilidade e acessibilidade nos jogos.
Não posso deixar de mencionar o novo exclusivo da FromSoftware, The Duskbloods.
Obviamente estamos muito animados em ter a FromSoftware desenvolvendo um jogo exclusivo para nós. E acho que isso se relaciona muito com o poder do dispositivo, com as capacidades gráficas, de renderização e de carregamento – o que é uma melhoria muito relevante no Nintendo Switch.
Por que investir em um jogo soulslike?
Uma coisa muito importante que nós aprendemos com o Nintendo Switch, e que vamos levar adiante no Switch 2, é que o nosso objetivo é que as pessoas vejam o valor do dispositivo independentemente do tipo de jogo que elas gostem de jogar. Se elas gostam de jogar sozinhos, online, no sofá com amigos… Nós estamos em um ponto em que há pelo menos dez jogos ligados a cada console que vendemos. 50% são de terceiros, e muitos desses jogos passam por muitos gêneros diferentes. Então, claro, as pessoas conhecem a Nintendo pelos nossos amados personagens. Isso é muito atrativo para famílias com crianças pequenas. Mas nós também não queremos alienar um outro grupo de pessoas que, ao passo em que amadurecem, querem jogar um conteúdo diferente. Ou que, conforme a idade delas permite, podem jogar um outro tipo de jogo. Nós queremos tornar esse tipo de conteúdo acessível em nossa plataforma, para que seja uma plataforma de jogabilidade mais universal do que simplesmente de jogos da Nintendo.
Quero falar sobre preços. O que podemos esperar no Brasil? Os jogos para o Switch 2 serão mais caros, ou estarão na mesma linha que o 1?
Nós já anunciamos os preços para os Estados Unidos, para pelo menos os nossos títulos de lançamento (de US$ 49 a US$ 79) e para o console em si (US$ 449). Nós vamos olhar para os outros mercados muito em breve para determinar o preço certo. O que nós queremos conseguir fazer é um preço que seja atrativo para os consumidores, que seja acessível. Mas, você sabe, nos EUA, o Switch 2 vai custar mais do que o base do Switch 1 por causa de todas essas ferramentas de que a gente falou. Obviamente muito desse desenvolvimento para essas ferramentas custa caro. Então você pode esperar que, como nos EUA, [no Brasil] esses jogos serão mais caros.
Queria terminar perguntando como você vê o futuro dos jogos, especialmente na Nintendo?
Essa é uma boa pergunta. Eu jogo há mais de 40 anos. Eu sou da época do Donkey Kong original em uma máquina de arcade. Para mim, o que sempre me maravilha é que, a cada ano, a cada geração, a cada década, os jogos continuam crescendo. Jogos continuam se tornando uma forma cada vez mais proeminente de entretenimento, cada vez mais imersiva e, sinceramente, cada vez mais divertida. Eu vejo jogos como algo ilimitado. Nós entendemos que algo como um Nintendo Switch é um investimento. Então, nós queremos nos certificar de que estamos provendo jogos, serviços, experiências que dêem longevidade a esse seu investimento. O nosso objetivo é vender algo que seja como uma porta de entrada para uma longa experiência de jogabilidade. Eu realmente acredito que estejamos entrando nessa evolução em que, sim, nós entregamos experiências de jogos, mas que isso também se divide em várias outras formas de entretenimento, seja filmes ou apps, ou até através de parcerias, como a que temos com a Universal Studios. Isso tudo nos dá a oportunidade de mostrar a cada vez mais pessoas os nossos personagens e, se tudo der certo, trazê-los de volta aos jogos. Eu estou animado para o futuro, estou animado com o Switch 2, e acho que essa vai ser uma geração muito divertida para nós.