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Dos memes às viagens, série documental relembra vida de Gloria Maria nos 60 anos da TV Globo

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abril 13, 2025
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Jornalistas reverenciam Gloria Maria: Danielle França, Maju Coutinho, Aline Midlej, Flávia Oliveira, Indianara Campos, Mariana Aldano, Mariana Bispo, Denise Thomaz Bastos, Valéria Almeida, Cris Guterrez, Letícia Vidica, Mira Silva, Cynthia Martins, Luciana Piotto, Lais Franklin, Lívia Martins, Andreza Oliveira e Claudia Lima. — Foto: Divulgação/TV Globo

As 18 jornalistas negras que participaram de uma roda de conversa para a série documental “Gloria”, que resgata a história de Gloria Maria, só haviam recebido um pedido da produção para a filmagem: não usar roupas pretas ou estampadas. A surpresa foi enorme quando perceberam que, no dia da gravação, sem combinação prévia, vestiam peças de tons parecidos, entre vermelho, laranja e rosa. Muitas também não sabiam que a jornalista da TV Globo, homenageada no programa que estreia no domingo dia 27, depois do Fantástico, como parte das celebrações pelos 60 anos da emissora, era filha de Iansã, orixá associada à cor vermelha.

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— Foi do campo do espiritual — diz Maju Coutinho, que debate com as colegas o papel de Gloria na pavimentação do caminho profissional para outras comunicadoras. — Ninguém falou: “Venham na paleta tal.” Não dá para explicar com palavras.

Jornalistas reverenciam Gloria Maria: Danielle França, Maju Coutinho, Aline Midlej, Flávia Oliveira, Indianara Campos, Mariana Aldano, Mariana Bispo, Denise Thomaz Bastos, Valéria Almeida, Cris Guterrez, Letícia Vidica, Mira Silva, Cynthia Martins, Luciana Piotto, Lais Franklin, Lívia Martins, Andreza Oliveira e Claudia Lima. — Foto: Divulgação/TV Globo

Mas “Gloria” busca, ao longo de quatro episódios, sempre aos domingos, explicar com imagens históricas e depoimentos — muitos dados pela própria jornalista ao longo de 52 anos na emissora — a importância dela na televisão. As falas são costuradas com entrevistas de amigos, como Djavan, Maria Bethânia e Roberto Carlos, de colegas de trabalho, como Pedro Bial, e trechos da roda de conversa das jornalistas negras. Importantes personalidades culturais influenciadas por ela também têm depoimentos espalhados pelos episódios, como os do cantor Mano Brown e do sociólogo e professor emérito da UFRJ Muniz Sodré.

— Queremos mostrar que ela é uma fonte inesgotável de possibilidades — diz Danielle França, diretora da série ao lado de Paulo Sampaio.

Danielle teve a ideia inicial da produção no dia 2 de fevereiro de 2023, dia em que a jornalista morreu:

Gloria Maria, apresentando o Globo Repórter — Foto: Rede Globo/Reprodução
Gloria Maria, apresentando o Globo Repórter — Foto: Rede Globo/Reprodução

— Assisti a todos os jornais e programas da casa que foram ao ar naquele dia e vi aquela quantidade de imagens de arquivo. A história da TV Globo se mistura com a dela. Fiquei muito fascinada.

Nascida em Oswaldo Cruz, na Zona Norte do Rio, Gloria Maria Matta da Silva começou a trabalhar no jornalismo da TV Globo numa época em que repórteres sequer apareciam diante das câmeras. Quando muito, apenas a mão surgia na tela segurando o microfone na hora de uma entrevista. A própria Gloria lembrou, certa vez, ser a dona da única “mão preta” daqueles tempos.

A estreia no vídeo aconteceu em 1971, na cobertura da trágica queda de parte do Elevado Paulo de Frontin, no Rio Comprido. Daí começou a cobrir acontecimentos da cidade a bordo de um carro de reportagem modelo Veraneio. O veículo, aliás, é uma das “estrelas” do primeiro episódio, centrado nas origens e começo do trabalho. A equipe conseguiu um automóvel idêntico ao do período e colocou nele os cinegrafistas que a acompanharam pelo Rio.

— Demos uma volta pela cidade, em locais onde ela reportou alguma coisa — conta Paulo. — Os cinegrafistas vão entregando a Gloria todinha. E falam dela no presente o tempo inteiro.

Roteirista dos quatro episódios, Paulo é dessas pessoas que também podem “entregar Gloria” porque conviveu com ela por 20 anos. O início da relação foi no Fantástico, quando ele era assistente de estúdio e ela, apresentadora ao lado de Pedro Bial. Depois, trabalharam juntos no Globo Repórter. Tempo suficiente para que conhecesse todos os lados dela: a jornalista genial, mas também cheia de imperfeições, vaidades e manias.

Pedro Bial e Gloria Maria, em 1999 — Foto: TV Globo
Pedro Bial e Gloria Maria, em 1999 — Foto: TV Globo

— Era ciumenta que só (risos) — relembra. — Queremos, com a série, exaltá-la, sem precisar colocá-la num pedestal, e mostrar também os defeitos que tinha, as críticas que sofreu.

A vida pessoal (intimidade, casa e amores) da carioca está concentrada principalmente no terceiro e no quarto episódios. Neles, aparecem as filhas Maria, de 17 anos, e Laura, de 16, que, durante o processo de gravação, puderam entrar em contato com lados da mãe aos quais não haviam tido acesso até então. O guia delas é Luiz Costa, um dos produtores do Globo Repórter, considerado o filho mais velho de Gloria.

Maria, Laura e Luiz Costa, na redação do Globo Repórter — Foto: Fábio Rocha/Globo
Maria, Laura e Luiz Costa, na redação do Globo Repórter — Foto: Fábio Rocha/Globo

— Mas ela ficava brava se falasse isso — diz Luiz, de 35 anos. — Uma vez, uma colega disse “Gloria, seu filho faltou”. Ela respondeu com alguns palavrões e que eu tinha idade para ser irmão ou namorado (risos).

Os dois se conheceram na redação do programa no fim de 2010, e Gloria simplesmente se apaixonou de forma fraternal pelo colega. A intimidade era tão grande que Luiz é um dos poucos que sabia a idade real de Gloria, um dos mistérios mais bem guardados da TV. Na época da morte, inclusive, muitos obituários não divulgaram esse dado— informação obrigatória nesse tipo de texto — em respeito à memória dela. O amigo elenca três motivos para a comunicadora esconder o ano de nascimento.

— Primeiro, por causa da História, os antepassados dela (escravizados) não tinham registro. Depois, ela gostava de manter esse mito. Por fim, considerava desnecessário mulher falar idade, achava essa dúvida elegante — relembra Luiz.

Um dos hábitos preferidos de Gloria Maria era assistir a reportagens que fez desde que estreou no vídeo, nos anos 1970, principalmente as de viagens, que estão no segundo episódio da série documental “Gloria”, focado nas grandes aventuras da jornalista, dona do mais invejado passaporte da TV.

Gloria Maria durante viagem à Jamaica — Foto: Reprodução
Gloria Maria durante viagem à Jamaica — Foto: Reprodução

— Havia momentos no fim de semana em que ela pegava DVDs para rever — relembra Luiz Costa, colega de Globo Repórter e amigo de Gloria. — Via tudo com orgulho, ao mesmo tempo em que prestava atenção aos erros.

As preferidas, segundo Luiz, são as de uma viagem, em 2005, para a Nigéria, país africano que percorreu com o repórter cinematográfico Guilherme Vizane para o Fantástico. Um dos destaques da cobertura foi o Festival de Argungu, a maior competição de pesca do continente, em Kebbi, onde Gloria foi a “única mulher no meio de quase 30 mil homens”.

O diretor e roteirista Paulo Sampaio refez os passos da colega na Nigéria, indo até Badagry, cidade onde ficava o maior mercado de escravizados da costa do país. Em 2005, Gloria reverenciou o rei local; 20 anos depois, a equipe da série também foi ao mesmo lugar onde a carioca encontrou o monarca, agora com 88 anos, e foi a vez de ela ser reverenciada.

—Não consigo descrever como me tocou uma corte inteira fazer um minuto de silêncio para uma jornalista brasileira — diz Sampaio.

Outra locação importante da série está no lado de cá do Atlântico: Salvador, na Bahia. A diretora Danielle França passou dois dias no mesmo abrigo onde Gloria fez um trabalho social e conheceu as duas filhas, em imagens que vão ao ar no terceiro episódio, que será exibido no domingo do Dia das Mães.

— Fui com uma equipe pequena e tivemos uma experiência arrebatadora. Ali deu para sentir como ela foi tocada pela maternidade — diz a jornalista.

Danielle e algumas das jornalistas que aparecem na roda de conversa registrada pela série fazem parte de um grupo chamado “Herdeiras de Gloria”, que reúne comunicadoras negras de São Paulo desde 2022 para trocar experiências de todo o tipo.

Cynthia Martins, da Band TV, é uma delas. Criada em Oswaldo Cruz, perto da casa onde Gloria nasceu, ela desabou em lágrimas quando o bairro apareceu no telão.

—Somos duas mulheres pretas, de gerações diferentes, podendo provar para outras crianças da região que é possível — reflete Cynthia, hoje moradora da capital paulista. — Na nossa profissão, pela primeira vez, estamos vendo pessoas da massa comunicando para as massas. E Gloria vinha desse lugar. Ela pegou a gente pela mão para desbravar esses territórios, mas foi solitária por muito tempo.

Gloria Maria em 1980, quando foi barrada no Othon Palace Hotel por ser negra — Foto: Otávio Magalhães / Agência O Globo
Gloria Maria em 1980, quando foi barrada no Othon Palace Hotel por ser negra — Foto: Otávio Magalhães / Agência O Globo

Mas não pouco combativa. A série detalha um importante momento da carreira da carioca: uma matéria que ela fez, em 1980, denunciando um caso de racismo. Na época, tentou entrar num hotel na orla de Copacabana e o gerente a impediu, alegando que, no local, não era permitida a presença de pessoas negras. Gloria fez parte da matéria diante da porta do lugar, dando nome e endereço, e dizendo que foi à delegacia com a base na Lei Afonso Arinos (de 1951, que proibia a discriminação racial). “Fui barrada por ser negra”, disse ela no Jornal Hoje.

—Gloria não fazia questão de estar num protesto pedindo o fim do racismo, mas acreditava fazer diferença agindo de outras maneiras — diz Paulo.

1977: Gloria Maria foi a primeira repórter a entrar ao vivo e a cores no Jornal Nacional, o mais importante telejornal da Globo e do Brasil. A carioca mostrou o movimento de carros na Avenida Brasil, no Rio, e precisou se “virar nos 30”. Pouco antes de entrar no ar, a luz dos postes das imediações apagou e ela e o repórter cinematográfico foram iluminados pelo farol do carro de reportagem. Ambos estavam de joelhos, mas ninguém em casa percebeu.

1982: Gloria Maria voou “que nem um passarinho”, como ela mesma descreveu a sensação de ser a primeira pessoa a realizar um voo duplo de asa delta na televisão brasileira, numa reportagem para o JN exibida em maio daquele ano. O feito foi repetido no Esporte Espetacular em 2011.

No segundo episódio de “Gloria”, a repórter da TV Globo Mariana Bispo repetiu os passos da jornalista, saltando do mesmo lugar. “Acho que essa Mariana aventureira sempre existiu e foi motivada pela Gloria”, conta a jornalista, de 29 anos, natural de Duque de Caxias, Baixada Fluminense.

Mariana já estava havia poucos meses na emissora quando a veterana morreu. Ela ficou responsável, junto com Guilherme Vizane (que viajou com Gloria para a Nigéria) por ouvir pessoas comuns, fãs da jornalista, para uma matéria. Teve, então, a ideia de pedir um vídeo ao próprio pai, com um depoimento. “Ele é a pessoa que me ‘apresentou’ a ela, me inspirou a amar o trabalho dela. Fiz uma passagem em primeira pessoa, falando que ele me chamava para assisti-la”.

1982: Naquele mesmo ano, quando a Argentina e a Inglaterra entraram em guerra pelo território das Malvinas, lá foi Gloria Maria fazer a cobertura do conflito in loco e se tornar a primeira jornalista brasileira a cobrir esse tipo de acontecimento.

2007: A primeira transmissão em HD da TV no Brasil também está no currículo da profissional. Foi uma reportagem para o “Fantástico”, com o repórter cinematográfico Lúcio Rodrigues, na aldeia dos índios kamaiurás, no Alto Xingu.

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