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A agonia do país e a revelação de erros médicos na morte de Tancredo Neves

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abril 13, 2025
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Tancredo Neves na Esplanada dos Ministérios em fevereiro de 1985 — Foto: Arquivo/Agência O GLOBO

Os meios-fios de Brasília estavam com tinta fresca, e as ervas-daninhas haviam sido arrancadas dos jardins na Esplanada dos Ministérios. A Banda de Música da Aeronáutica se esforçava para aprender os hinos dos países que estariam lá representados por seus chefes de Estado. O teto de mármore da Câmara dos Deputados fora lavado pela primeira vez em 25 anos. E, em frente ao Palácio do Planalto, estavam instaladas 20 caixas de som com capacidade para atingir cerca de 200 mil pessoas.

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Naquela quinta-feira, 14 de março de 1985, a capital federal estava pronta para a festa do dia seguinte, quando a cidade abrigaria a primeira posse de um presidente depois da longa e tenebrosa ditadura instalada com o golpe de 1964. O Brasil aguardava para ver Tancredo Neves, um opositor do regime militar, vestir a faixa verde e amarela. Sua eleição pelo Congresso Nacional, em janeiro, havia sido motivo de festa nas ruas. O político mineiro era a personificação da esperança de um país melhor.

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Mas, então, começou o pesadelo. Depois de dois dias com febre, mas mantendo a agenda, Tancredo assistia a uma missa na Igreja Dom Bosco quando sentiu uma violenta dor abdominal. Internado às no Hospital de Base por volta das 22h20 e examinado por uma junta de médicos, ele foi levado às pressas para a sala de cirurgia pouco depois da meia-noite. De início, parecia um susto. A previsão era de alta médica em dez dias. Mas isso não aconteceu. O mineiro morreria em 21 de abril de 1985.

Tancredo Neves na Esplanada dos Ministérios em fevereiro de 1985 — Foto: Arquivo/Agência O GLOBO

No dia 15 de março, em vez da festa popular que deveria acontecer na Esplanada, o que houve foi uma rápida cerimônia no Congresso Nacional para dar posse ao vice-presidente, José Sarney, que deveria governar apenas interinamente, até a alta de Tancredo. Horas após a cirurgia, todos se baseavam no otimismo dos médicos para acreditar que o paciente se recuperaria em breve. “O susto passou, graças a Deus”, disse Dona Roselita Neves, mulher do presidente eleito.

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Ao longo dos 38 dias de internação do ex-governador de Minas Gerais, o Brasil viveu uma agonia que parecia não ter fim. De Norte a Sul, as pessoas se uniam em orações. Diante do Instituto do Coração, no Hospital das Clínicas, em São Paulo, para onde Tancredo foi levado depois, havia uma multidão diariamente com faixas desejando a recuperação do político. Quando ele morreu, o clima de tristeza se espalhou pelo país, como na derrota do Brasil para o Uruguai na final da Copa do Mundo de 1950.

Em diversas capitais, os bares e restaurantes fecharam as portas depois que a notícia circulou, em torno das 22h30. Em Porto Alegre, muita gente se ajoelhou diante da Catedral Metropolitana, enquanto os sinos tocavam em sinal de luto. Em Juiz de Fora, o festival Noite do Rock foi interrompido, e todos saíram em silêncio da Praça Jarbas de Lery Santos. No Rio, a Domingueira Dançante do Circo Voador, na Lapa, foi encerrada com a Orquestra Tabajara tocando o Hino Nacional. Só havia tristeza no ar.

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Na Cinelândia, o cordelista Franklin Maxado distribuiu um folheto expressando a melancolia que cobria a nação naquela noite: “Mas a doença maldita/ Solerte e traiçoeira/ atacou-o na emoção/ ceifando a era vindoura/ deixando o povo frustrado/ mais uma vez derrotado/ pela vida enganadora”.

Aécio Neves, neto de Tancredo, com o corpo do presidente eleito, em Belo Horizonte — Foto: Luiz Pinto/Agência O GLOBO
Aécio Neves, neto de Tancredo, com o corpo do presidente eleito, em Belo Horizonte — Foto: Luiz Pinto/Agência O GLOBO

Segundo o livro “O Paciente”, lançado em 2010 pelo médico pesquisador Luís Mir, a história teria sido outra não fosse uma série de erros dos profissionais de saúde que cuidaram do presidente eleito. Fruto de uma investigação de 25 anos, a obra embasou o filme homônimo de 2018, com direção de Sérgio Rezende e Othon Bastos no papel principal. Revelador, o livro de Mir reúne depoimentos de médicos envolvidos com o caso e prontuários de ambos os hospitais por onde o paciente passou.

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Tancredo já vinha sentindo dores abdominais, mas resistia à ajuda médica. Na noite de 14 de março de 1985, quando teve uma crise e foi internado, achava-se que era uma apendicite. Mas, depois que o abdômen do político foi aberto, a equipe verificou uma anomalia identificada como uma inflamação no intestino grosso denominada diverticulite. Foi realizada uma cirurgia para remoção do tecido afetado e, em seguida, médicos do Hospital de Base afirmaram que Tancredo teria alta em dez dias.

O tempo mostrou que o otimismo estava enganado. A situação do ex-governador mineiro se agravou, e ele seria operado sete vezes. No dia 25 de março, quando foi transferido para São Paulo, seu quadro era gravíssimo, mas os boletins não deixavam claro. Na véspera da transferência, foi divulgada uma foto de Tancredo com os médicos no Hosptial de Base. A ideia era mostrar que ele estava bem, mas a imagem expunha o político debilitado, o que gerou uma série de boatos.

Amplamente reproduzido pela imprensa, o diagnóstico de diverticulite estava errado. O presidente eleito tinha, na verdade, um leiomioma, espécie de tumor benigno que não apresentava risco de morte. Segundo a pesquisa de Luís Mir, porém, a equipe realizou um procedimento cirúrgico inadequado para o leiomioma. A técnica usada gerava riscos de sangramento, o que, infelizmente, aconteceu: o rompimento de um vaso foi decisivo para os problemas que levaram ao óbito de Tancredo.

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Nos jornais da época, a palavra “leiomioma” só aparece a partir de semanas após a internação de Tancredo. Nas páginas do GLOBO, o termo surge apenas no dia 18 de abril, em reportagem que cita um dos médicos envolvidos nos cuidados com o político. Segundo ele, a equipe do Hospital das Clínicas não divulgou o diagnóstico de leiomioma para não se opor aos colegas do Hospital de Base, que decidiram não falar em tumor ou câncer para não assustar a população.

Foto de Tancredo com médicos divulgada para expressar otimismo — Foto: Arquivo/Gervásio Baptista
Foto de Tancredo com médicos divulgada para expressar otimismo — Foto: Arquivo/Gervásio Baptista

Corpo de Tancredo Neves é levado na rampa do Palácio do Planalto — Foto: Sérgio Marques
Corpo de Tancredo Neves é levado na rampa do Palácio do Planalto — Foto: Sérgio Marques

Missa para Tancredo, em São Paulo, durante internação do político — Foto: José Augusto
Missa para Tancredo, em São Paulo, durante internação do político — Foto: José Augusto

Multidão em frente ao hospital em São Paulo onde estava Tancredo — Foto: Olivio Lamas
Multidão em frente ao hospital em São Paulo onde estava Tancredo — Foto: Olivio Lamas

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