O designer paraense João Victor, de 28 anos, lembra de ainda pequeno assistir sua mãe, costureira, fazendo modelagens, transformando panos em peças. Mais tarde, frequentava a fábrica de uniformes que a família abriu e observava como funcionava aquele maquinário. Esse olhar para transformação de tecido em roupa o marcou. Nascido em Tailância, cidade no interior do Pará, ele também gostava de desenhar e pintar. Foi quando pensou em juntar as duas coisas e fez uma coleção de camisetas serigrafadas com suas artes. Logo depois, resolveu transformar isso em uma marca e lançou a Pink Boto, em 2019. “As primeiras foram com a estampa de flor de jambu. Hoje, levo açaí, guaraná, peixes locais e a bandeira do estado para a estampa. É muito sobre o que eu vivo e também as histórias que ouvia e ouço sobre os encantados, como o Boitatá e a Mãe d ‘Água”, conta ele, que atualmente mora no Rio e passou a ser chamado de João Boto.
O boom da marca veio ano passado, quando ele lançou, em junho, uma coleção de camisas esportivas com a estética da Amazônia. Apesar de usada desde sempre nas periferias e comunidades, elas extrapolaram essa bolha e ganharam força com a alta da moda Block Core e do hype das modelagens jersey de times (desfiladas até em passarelas da Balenciaga e Gucci). E, assim, a Pink Boto viralizou. Primeiro foram as do boto tucuxi e do boto rosa e, agora, ele lançou a série Fruta Temporã, com os modelos Clube do Açaí, Wara´ná e Pa´rá. Todas esgotadas rapidamente e com levas de reposição frequentes.
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Amanda Santana, curadora de arte indígena e fundadora da plataforma Tucum, que tem loja no Centro, se impressionou com o alcance das peças quando foi na última edição do festival Psica, em Belém, e todo mundo vestia as camisas. “Percebi que no Pará, elas têm a modelagem de futebol, mas com a estampa da cultura local. O João conquista colocando uma identidade regional que levanta a bandeira do guaraná, do açaí, do boto tucuxi e rosa, trazendo esse time da mesa e das encantarias amazônicas para a moda”, conta.
A novidade é que junto com a próxima reposição, marcada para os próximos dias, chegarão também calças e shorts completando o conjunto do uniforme. E, em breve, uma linha infantil. “Faço algumas adaptações na gola, uma modelagem retrô de futebol dos anos 1980, e coloco os grafismos tapajônicos, indígenas e as imagens que fazem parte do meu contexto ancestral, sempre com cuidado com a história do Norte”, destaca.
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