Durante oito anos, o monsenhor Tino Scotti conviveu de perto com o Papa Francisco na residência Santa Marta, no Vaticano, e revela que o líder da Igreja Católica preferia presentear guardas e conversar sobre futebol a manter protocolos papais. Simples, exigente e devoto, Francisco transformou o papel do Papa com gestos cotidianos e proximidade com o povo.
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Monsenhor Scotti, de 70 anos, viveu 31 anos no Vaticano, incluindo uma longa trajetória como chefe de gabinete na Secretaria de Estado. A convivência próxima com Francisco começou quando o Papa decidiu não ocupar os apartamentos pontifícios e permanecer em Santa Marta, onde Scotti era capelão. “Começamos celebrando missa juntos às 7h da manhã e, com o tempo, passei a visitá-lo todas as tardes”, conta.
Francisco logo deixou claro que queria distância das formalidades. Ele pedia a presença de “gente comum” nas missas, recusando indicações de figuras importantes feitas pelos cardeais. Segundo o monsenhor, o Papa fazia questão de cumprimentar um por um e mantinha uma rotina acessível: usava elevadores com os demais e servia-se no refeitório, como qualquer funcionário.
Além da simplicidade, Scotti destaca o humor e a firmeza do Papa. Brincava com as freiras, mas também repreendia quem se distraía nas celebrações. “Se não está interessado, pode sair”, chegou a dizer. A postura descontraída escondia um rigor interno: Francisco rejeitava qualquer sinal de bajulação e era extremamente exigente consigo mesmo, relata o religioso.
A devoção pessoal do Papa também impressionava: acordava às 5h para rezar por duas horas e encerrava o dia em silêncio na igreja. Apesar da visão progressista, Francisco mantinha forte ligação com a tradição católica e valorizava a espiritualidade popular. “Ele mudou a postura do papado, e isso influenciará inevitavelmente os que vierem depois”, avalia Scotti.
Após problemas de saúde, Scotti retornou a Bérgamo em 2021. A despedida foi comovente: o Papa lhe deu um ícone como presente e o acompanhou até a porta da residência. Para o monsenhor, o legado de Francisco será lembrado menos pelos discursos e mais pelos gestos — simples, mas revolucionários. “Ele foi coerente até o fim.”