O líder conservador alemão, Friedrich Merz, conquistou sua primeira vitória de articulação política nesta quarta-feira, com a aprovação do acordo de coalizão entre os democratas-cristãos (CDU/CSU) e o Partido Social Democrata (SPD), o que abre caminho para que assuma como chanceler na próxima semana, reeditando a parceria entre as duas siglas mais tradicionais do país que se notabilizou durante os anos da ex-premier Angela Merkel.
- Contexto: Conservadores chegam a acordo com centro-esquerda para formar governo na Alemanha
- Europa: As histórias de quem sofreu com o apagão na Espanha e Portugal
O acordo havia sido anunciado há semanas, mas ainda precisava ser aprovado em votação interna do parceiro minoritário. Cerca de 56% dos 360 mil integrantes do SPD participaram da votação on-line, com 84,6% votando a favor — a oposição interna foi liderada pela ala jovem da sigla, que considera o acordo falho em áreas políticas como migração e previdência.
— O SPD está pronto para assumir responsabilidades no próximo governo — disse Matthias Miersch, secretário-geral do partido, em uma entrevista coletiva em Berlim. — Trata-se de definir o caminho certo para levar a Alemanha adiante e, acima de tudo, de investir no futuro deste país.
Os cargos do novo governo ainda serão anunciados formalmente, mas a liderança ficará com Merz, de 69 anos, que liderou o CDU/CSU na campanha eleitoral que o partido encerrou com 28,5% dos votos — sigla mais votada do país, mas que precisou somar forças para alcançar o governo. Entre os nomes do SPD, o co-líder Lars Klingbeil deve supervisionar a seleção de ministros do partido, além de assumir como ministro das Finanças e vice-chanceler, segundo fontes social-democratas. O atual ministro da Defesa, Boris Pistorius, deve permanecer no cargo.
Merz assumirá o cargo — o Bundestag vota o novo governo na terça-feira — em um momento em que a União Europeia enfrenta mudanças radicais nos laços de segurança no âmbito da Otan e em meio à guerra comercial iniciada pelo presidente dos EUA, Donald Trump. O conservador fez campanha por impostos mais baixos e consolidação orçamentária, mas relativizou sua postura fiscal agressiva logo após a eleição para aprovar mudanças constitucionais que desbloquearão centenas de bilhões de euros em dívidas para investimentos em defesa e infraestrutura.
Ainda na pauta interna, o conservador prometeu controlar a burocracia alemã e também o fluxo de imigrantes no país, este último, um tema que ajudou a impulsionar a ascensão do partido de extrema direita Alternativa para a Alemanha (AfD), segunda sigla mais votada nas últimas eleições, com 20% dos votos.
- Defendida por Macron: Ideia de ‘guarda-chuva nuclear’ europeu esbarra em dependência dos EUA
Na política externa, Merz pretende assumir um papel mais ativo na Europa, em contraste com a abordagem mais tímida do governo Olaf Scholz. Após a posse, espera-se que ele viaje a Paris e Varsóvia para se encontrar com Emmanuel Macron e Donald Tusk. Ele também deve visitar Kiev em breve para reforçar o apoio da Alemanha à Ucrânia em sua defesa contra a invasão russa.
O cenário é de pouca margem para Merz, cujo índice de aprovação gira em torno de 36%. O apoio combinado aos partidos do próximo governo também caiu nas pesquisas de opinião, girando em torno de 40%, com algumas pesquisas mostrando a AfD como principal partido do país neste momento.
— A rapidez com que o novo governo elaborará o orçamento — e se ele será aprovado antes das férias de verão — será decisiva [para impulsionar a economia] — disse Marion Muehlberger, economista e analista política do Deutsche Bank Research.
Partidos mais tradicionais da Alemanha, CDU/CSU e SPD governaram juntos por quatro vezes desde a Segunda Guerra Mundial — três delas sob o comando da ex-chanceler conservadora Angela Merkel. Com Merz na liderança, será a quinta vez que se forma a chamada “Grande Coalizão”. (Com AFP e Bloomberg)