O que me atraiu ao deserto nos arredores do Cairo, a capital do Egito, foi um complexo colossal — espaço imponente que levou décadas para ser construído, a um custo inimaginável, erguido com blocos cortados com precisão, provenientes das pedreiras locais; um conjunto de estruturas cuja construção, afligida por desafios extraordinários, abrangeu o governo de vários líderes; um testamento cultural coletivo, o maior do tipo, repleto de histórias da realeza.
Não, não estou me referindo às famosas Pirâmides de Gizé. Eu estava ali para ver o Grande Museu Egípcio.
Talvez não exista nenhuma instituição no planeta cuja inauguração tenha sido tão esperada, ou tenha atrasado tanto quanto a do novo museu, instalado na periferia do Cairo. Sua construção foi um fiasco tão grande — atolada em lapsos de verba, obstáculos logísticos, uma pandemia, guerras nas proximidades, revoluções — que torna inevitável a comparação com a das pirâmides, a pouco mais de um quilômetro de distância, no planalto que lhes dá nome.
Para termos de comparação, a Grande Pirâmide, de 4.600 anos, erguida com cerca de 2,3 milhões de blocos de pedra e sem o uso de rodas, polias ou ferramentas de ferro, levou cerca de 25 anos para ser concluída, segundo algumas estimativas. Até o momento, o Grande Museu Egípcio está na marca dos 20.
Desde 2012, a inauguração chegou a ser planejada e cancelada várias vezes. Com o tempo, as frustrações dos futuros visitantes, muitos dos quais já planejando as férias para ver o novo museu, foram aumentando.
Pois a espera acabou — bom, pelo menos em (boa) parte. Na minha visita, em fevereiro deste ano, 11 das 12 galerias principais estavam abertas, além do amplo hall de entrada e uma imensa escadaria, repleta de artefatos. Entretanto, aquela que, sem dúvida, é sua maior atração — as coleções de Tutancâmon, com mais de cinco mil artefatos encontrados na tumba do “rei menino” — permanecia fechada. Por enquanto, a máscara funerária, um dos artefatos arqueológicos mais icônicos do mundo, continua exposta no antigo Museu Egípcio na Praça Tahrir, no Cairo.
Também inacessível estava o anexo que exibirá dois barcos nobres descobertos perto da Grande Pirâmide, em 1954. A expectativa é que essas alas sejam inauguradas em meados do ano, com uma cerimônia oficial programada para 3 de julho. (Vale pensar na data com um pé — ou dois — atrás.)
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Ainda assim, até as atrações incompletas — incluindo a própria estrutura e a vista de bilhões de dólares que proporciona — são impressionantes. Já no saguão principal, fiquei abismado tanto com as proporções quanto com a textura fascinante das superfícies.
Logo após a entrada piramidal (o tema não é exatamente sutil), fui recebido por um dos inúmeros destaques do museu: a estátua de 3.200 anos de Ramsés II, considerado o faraó mais poderoso do Egito antigo, com mais de nove metros de altura e 80 toneladas. A figura de granito vermelho tem uma história moderna lendária, tendo sido encontrada deitada de lado e quebrada em seis pedaços por um egiptólogo italiano em 1820. Em 1954, foi instalada em uma rotatória no centro da capital, onde permaneceu meio século antes de ser cuidadosamente transportada para a nova casa, em 2006.
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Do átrio, subi a Grande Escadaria, primeiro em uma longa escada rolante e, depois, novamente a pé, voltando à base para examinar de perto as dezenas de estátuas, colunas e sarcófagos imensos que acompanham a subida.
No topo, outra surpresa de tirar o fôlego: a vista das pirâmides, perfeitamente enquadradas pelos janelões que vão do chão ao teto. Fiquei ali, impotente e paralisado, quase uma hora. Dali, segui para a primeira das 12 galerias principais, organizadas cronologicamente e por tema, abrangendo desde a pré-história até a era romana.
A inauguração do Grande Museu Egípcio estabelece um trio de atrações imperdíveis no Cairo e em seus arredores. Na Praça Tahrir fica a mais antiga: o Museu Egípcio, belo edifício no estilo Beaux-Arts que há mais de um século encerra uma das maiores coleções de antiguidades do mundo. Praticamente sem modernizações, a instituição já transferiu, e continuará transferindo, parte de seus itens mais valiosos para Gizé, gerando com isso dúvidas sobre seu futuro.
Inclui-se aí também está o Museu Nacional da Civilização Egípcia, outro marco que foi oficialmente inaugurado em 2021, e cuja principal atração é a assombrosa coleção de múmias reais. Os três são dignos de visitas prolongadas.
Sob vários aspectos, porém, o Grande Museu Egípcio agora está sozinho. Anunciado como o maior acervo arqueológico do mundo — e o maior dedicado a uma única civilização — foi inicialmente proposto por Hosni Mubarak, o presidente autoritário que permaneceu três décadas no poder e anunciou os planos para a nova instituição em 1992. A cerimônia de lançamento da pedra fundamental foi realizada dez anos depois, e a firma Heneghan Peng Architects, de Dublim, venceu o concurso para o projeto em 2003. A construção começou em 2005.
Em seguida, veio uma longa série de contratempos espetaculares: a crise econômica global de 2008, a Primavera Árabe (e o subsequente arraso do setor de turismo do Egito), a pandemia e as guerras na Faixa de Gaza e no Sudão.Com o tempo, a empolgação com o museu foi superada pela cobertura dos adiamentos.
Mas duvido que os atrasos épicos continuem sendo destaque por muito mais tempo: se minha experiência serve de medida, para esquecer a longa espera basta um passeio tranquilo pela coleção atemporal e um olhar prolongado do alto da escadaria.