A trajetória de queda do dólar frente ao real desde o início do ano caiu como uma luva para os turistas brasileiros que desejam conhecer os Estados Unidos. A moeda americana já recua mais de 8% frente ao real em 2025.
No entanto, para aqueles que sonham com a tão desejada viagem pela Europa, a situação não é tão favorável: apesar de só acumular ganhos de 0,12% no ano, o euro segue em um alto patamar para o turista brasileiro, a R$ 6,34 na cotação de ontem. Afinal, por que o real se recupera significativamente contra o dólar, mas segue sofrendo em relação ao euro?
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O primeiro ponto a se compreender sobre a valorização do real frente ao dólar é que este movimento acontece por conta de um movimento global de enfraquecimento da moeda americana, explica Filippe Santa Fé, chefe de multimercados do ASA.
Ou seja, o dólar não perde em 2025 somente contra o real, mas sim frente a boa parte das divisas mundiais. Em outras palavras, não é exatamente o real que está se valorizando, mas o dólar que se desvaloriza globalmente.
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Já contra a moeda europeia — e contra outras divisas consideradas fortes — não houve uma recuperação do real. E isso é mais uma evidência de que o real não está de fato se valorizando, apesar de a desvalorização do dólar, a moeda de referência no mundo, provocar nominalmente este efeito. O euro também se beneficia.
Segundo o especialista, uma valorização geral da moeda brasileira (isto é, frente ao dólar, euro e à maioria das divisas globais) ocorreria em um cenário em que os investidores enxergassem uma melhora na economia brasileira e direcionassem para o país um fluxo maior de capitais, aumentando a demanda pela moeda nacional.
O cenário fiscal negativo do Brasil foi um dos principais motivos que levou o real a se desvalorizar tanto no fim do ano passado. E não houve mudança substancial nas dúvidas do mercado sobre as contas públicas sob a gestão do governo Lula.
Portanto, o euro só ficará mais barato para o brasileiro se o estrangeiro enxergar uma dinâmica econômica melhor no Brasil, o que ainda não aconteceu de forma significativa. Ou, em outra conjuntura, se a economia europeia piorar a ponto de o Brasil se tornar uma alternativa melhor de investimentos do que a União Europeia.
— A gente está como passageiro numa onda global de desvalorização do dólar — aponta Santa Fé. — E o euro também está se beneficiando nesse ambiente.
Marcus Macedo, que chefia a área de investimentos do banco europeu Andbank, aponta que a queda mundial recente do dólar vem sendo causada pelo aumento das incertezas diante da política comercial promovida pelo presidente dos EUA, Donald Trump.
— Os investidores estão entendendo que as tarifas vão machucar o crescimento do país — sinaliza.
Esse enfraquecimento, por sua vez, pode levar ao Federal Reserve (Fed, o banco central americano) a ter de baixar os juros do país — uma vez que isso normalmente estimula o consumo e, portanto, a economia, aponta Anderson Rodrigues, superintendente de Tesouraria do banco Daycoval.
Isso tende a enfraquecer a moeda americana, pois diminui a atratividade dos títulos do Tesouro americano, os quais os rendimentos estão atrelados às taxas básicas.
Investimentos a todo vapor
Boa parte dos países europeus têm aberto os cofres este ano, em especial, no setor de defesa. Diversas fabricantes de armamentos do continente têm recebido pedidos robustos, uma forma também de a Europa mostrar força aos Estados Unidos em relação aos sinais controversos de Trump em relação à guerra na Ucrânia.
A Alemanha aprovou em março um enorme aumento nos gastos com defesa e infraestrutura. A medida isenta os investimentos militares das rígidas regras de dívida da Alemanha e cria um fundo de infraestrutura de € 500 bilhões (cerca de R$ 3 trilhões).
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De acordo com Macedo, do Andbank, o aumento nos incentivos fiscais por parte dos europeus acaba deixando a União Europeia mais atrativa e, desta forma, ampliando o fluxo de dinheiro para o bloco. Como consequência, o euro se valoriza perante outras moedas, inclusive o real, para além da baixa do dólar.
— Você acaba criando um período de crescimento para o país — indica Santa Fé, do ASA.
Isso leva a uma apreciação do euro. A moeda já apresenta valorização de mais de 8% em relação ao dólar neste ano.