Em meio à crescente tensão entre moradores e estabelecimentos comerciais em Botafogo, representantes da Associação de Moradores e Amigos de Botafogo (Amab) se reuniram na última terça-feira com o presidente do Polo Gastronômico da Zona Sul, Tiago Moura, para apresentar uma lista de demandas e discutir ações que promovam uma convivência mais harmoniosa no bairro. O encontro marca o início de uma tentativa de conciliação diante das reclamações frequentes sobre barulho excessivo, ocupação irregular de calçadas e desrespeito às regras de funcionamento de bares e restaurantes, como mostrou O GLOBO-Zona Sul na edição de 5 de abril.
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Durante a reunião, uma das propostas apresentadas por Moura foi a redução do horário de funcionamento dos bares localizados na Rua Arnaldo Quintela e em seu entorno — um dos principais focos de reclamação da vizinhança. Ele reconheceu a necessidade de ajustes e sinalizou que a entidade vai colaborar com a fiscalização e pressionar o poder público a agir contra os estabelecimentos infratores.
— Hoje, temos cerca de 15 bares representados por nós. Vamos buscar melhorias para os moradores, mas alguns estabelecimentos podem não aceitar. Também vamos fiscalizar e informar o poder público sobre quem está causando desordem, para que multas sejam aplicadas — adianta.
Já para Regina Chiaradia, presidente da (Amab), o foco inicial precisa ser o combate à perturbação do sossego e ao desrespeito às normas por parte de alguns estabelecimentos.
— Acho que temos que começar pelo barulho excessivo dos bares que não têm alvará para música e a ocupação desmedida das calçadas. Sabemos que não são todos os estabelecimentos que desrespeitam as leis. Tem os bons e os maus, como tudo na vida. O que estamos discutindo é sobre quem não cumpre a legislação. Não desejamos acabar com os bares de Botafogo. Mas queremos uma convivência respeitosa de maneira que o próprio morador possa ser o cliente — explica Regina.
Segundo ela, a Amab e o Polo Gastronômico da Zona Sul planejam uma vistoria conjunta pelas vias mais afetadas.
— Vamos combinar uma data para percorrermos a Arnaldo Quintela e as ruas do entorno para que possamos mostrar irregularidades que os moradores já identificaram — adianta.
Entre as principais reivindicações estão o controle do barulho, a liberação das calçadas para pedestres e cadeirantes, o cumprimento dos horários de fechamento dos estabelecimentos e medidas contra o crescimento do comércio irregular. Os residentes também cobram ações punitivas, como apreensão de mobiliário irregular e cassação de alvarás, além da formalização de um Termo de Ajustamento de Conduta (TAC) que regulamente a atuação dos bares.
Com experiência em situações semelhantes, Moura cita o caso do bar Canastra, do qual é sócio, em Ipanema, onde também houve conflitos entre frequentadores e moradores antes da pandemia.
— Conseguimos mostrar que o Canastra fechava e que o problema vinha dos ambulantes que vendiam mercadorias para as pessoas que ficavam na rua. Limpávamos a nossa calçada, embora isso seja incumbência da Comlurb. Não enxergo braços suficientes no poder público para resolver essa questão, mas vamos fazer a intermediação com a prefeitura, os moradores e os estabelecimentos para transformar essa zona problemática — afirma.
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O polo, que representa estabelecimentos de bairros como Copacabana, Ipanema, Gávea e Botafogo e conta agora com nova diretoria, aposta que, com organização e diálogo, o setor gastronômico pode contribuir para a valorização urbana, cultural e turística da região, beneficiando todos os envolvidos.
— Queremos trazer harmonia para Botafogo. Temos empresários apaixonados pelo bairro e comprometidos em melhorar o ambiente urbano, com investimentos em segurança privada, iluminação e conservação das ruas. Entendemos que ele se transformou em um lugar alternativo, com um público jovem, que sai tarde de casa e fica na rua até de madrugada — diz Moura.
Para os moradores de Botafogo, a rotina de incômodo e tensão é causada pelo crescimento desordenado de bares no bairro, que, em consequência do sucesso comercial, geram muito barulho e desrespeitam normas de funcionamento e de ocupação de calçadas e ruas. Insatisfeitos, grupos de moradores pensaram em organizar um protesto nas ruas, mas, alegando temer represálias, acabaram optando por instalar faixas nos locais mais problemáticos. A convivência conflituosa entre comércio e residências cria uma relação de amor e ódio na região, onde a vida noturna movimentada também gera um sentimento de falta de proteção. Há moradores, por exemplo, que dizem se sentirem acuados por seguranças de bares.
— Só queremos poder dormir, andar na rua, conseguir entrar nos portões das nossas casas. Estamos quase que lutando pelo direito de ir e vir. O poder público não conseguiu resolver até o momento. Essa tentativa de aproximação com o Polo Gastronômico da Zona Sul é a esperança que nos resta — diz uma moradora que prefere não se identificar.