- Ilhados no Pantanal: uma tarde em meio a quarteirões submersos e barcos improvisados no bairro mais alagado de SP; fotos
As famílias vão receber moradias custeadas pela prefeitura e pelo governo do estado, por meio da Cohab e da Companhia de Desenvolvimento Habitacional e Urbano do Estado de São Paulo (CDHU), mas ainda não há definição dos locais para onde elas serão encaminhadas. Até que essas moradias sejam garantidas, as famílias receberão auxílio-aluguel, como é de praxe nesse tipo de remoção.
Nunes e seus secretários se reuniram na manhã desta quarta-feira (7) com o governador Tarcísio de Freitas (Republicanos) no Palácio dos Bandeirantes para discutir as ações do Jardim Pantanal, e ficou decidido que enquanto as remoções serão tocadas pela prefeitura, a Sabesp fará obras de drenagem para melhorar o escoamento do Rio Tietê e reduzir as enchentes na área.
No encontro, a prefeitura apresentou um cronograma de ações para o bairro, que cresceu às margens do Rio Tietê. A ideia é remover mais de 4.300 famílias das cerca de 36 mil que moram no local até o fim de 2029, mas para este ano o plano é priorizar a desocupação dos imóveis nas áreas de maior risco, que estão mais próximos do rio, com mil famílias removidas.
Ao todo, a primeira fase abrange uma área de 4,2 quilômetros quadrados, na qual haverá uma contenção do tipo gabião para não permitir novas ocupações. A previsão é que a fase dois tenha início em novembro de 2026, com a remoção de mais mil imóveis.
— Vamos começar a obra. Vão ter as próximas chuvas, que começam em novembro e vão até março do ano que vem. Vai ter alagamento ainda? Muito possivelmente. No outro ano vai ter alagamento ainda? Muito possivelmente. Não é possível fazer uma obra dessa complexidade em um terreno tão complexo, área de várzea, que envolve tantas famílias, de uma forma muito brusca. Você tem que fazer isso de acordo com as questões sociais de atendimento das famílias, de compreensão, de sair do local e ir para outro local — destacou o prefeito ao fim da reunião.
Em fevereiro, a prefeitura havia divulgado três alternativas para o Jardim Pantanal, todas custando mais de R$ 1 bilhão, incluindo a remoção completa de todos os moradores do bairro. Agora, a gestão optou por um meio termo: desocupar apenas os imóveis que estão em área de maior risco, mais próximo do rio. O custo das remoções e da construção do muro gira em torno de R$ 700 milhões, segundo a prefeitura, que serão repartidos com o estado.
— Não vai ter uma remoção do bairro como falavam, mas aquelas próximas do rio, onde tem situações que elas ficam com um metro, dois metros de água. Essas não tem como permanecer ali, não tem obra que faria com que essas casas pudessem permanecer lá. E uma questão também que a gente fez agora é que, removendo essas casas, vai ser feito um parque, você devolve a várzea para acomodação da água no período de chuva, então tem toda uma questão de sustentabilidade importante — acrescentou o prefeito.
Localizado na várzea do Rio Tietê, o Jardim Pantanal é uma área dentro do Jardim Helena e começou a ser ocupado de forma irregular a partir da década de 1980. As enchentes são rotina nos períodos chuvosos. Entre 2009 e 2010, o bairro ficou debaixo d’água por 52 dias e a prefeitura decretou estado de calamidade pública. Neste ano, o bairro ficou quase uma semana embaixo d’água, e na época surgiram propostas como a construção de pôlderes (uma espécie de reservatórios feitos em áreas mais baixas e alagáveis) e um canal de 5,5 quilômetros para desviar a água da chuva.
Mas essas propostas não foram para a frente, além da remoção de todo o bairro, o que causou revolta de parte dos moradores que temiam uma indenização baixa para deixarem seus imóveis. Agora, a promessa é remover apenas quem mora em situação de risco mais elevado. Segundo a Defesa Civil, há 200 famílias em área de risco 3, o maior, e 4.600 em risco 2. As primeiras remoções serão nas áreas conhecidas como Chácara Três Meninas, Favela da Paz e São Martinho.
Há outra grande remoção em curso na cidade, essa realizada pelo governo estadual. Desde o mês passado, a gestão Tarcísio vem retirando famílias da Favela do Moinho, a maior ainda existente no Centro de São Paulo, mas enfrenta protestos de parte dos moradores que criticam as alternativas dadas pelo poder público, já que nenhuma das moradias será de graça e será necessário passar por auxílio-aluguel, em muitos casos por anos, até que o imóvel definitivo seja entregue. No caso do Pantanal, ainda não há detalhes de como nem onde serão oferecidas as moradias para as pessoas que forem removidas.
