A tentativa de mobilização dos 40 clubes das Série A e B para eleger um candidato que os representasse na eleição da CBF fracassou. E escancarou um futebol brasileiro mais rachado. Do total, 21 clubes se mantiveram unidos e vão boicotar o pleito como forma de protesto, entre eles Flamengo e Fluminense. Na contramão, Vasco, Botafogo e Palmeiras se alinharam a 25 das 27 federações e ao candidato único, Samir Xaud. No meio termo, estão clubes como Atlético-MG, um dos que se viu ameaçado de perder patrocínios no meio da disputa. Nos bastidores, a pressão de federações e empresas que bancam clubes e campeonatos afastou algumas adesões ao boicote.
O objetivo dos clubes que sobraram é não repetir a unanimidade fabricada na manutenção de Ednaldo Rodrigues no comando da CBF, agora rejeitada na Justiça, e deixar claro que a candidatura não tem legitimidade de quem importa: as equipes e os dirigentes que trabalham na formação de atletas para o futebol pentacampeão. Samir Xaud tem tentado aproximação com os presidentes dissidentes, mas até agora sem nenhuma mudança concreta na principal queixa: a alteração no formato da eleição da CBF, com mais voz e peso aos clubes, fazendo com que a entidade não seja dominada pelas federações estaduais.
O abalo das placas tectônicas do futebol brasileiro ainda mais dividido promete uma reorganização de forças. Em um primeiro momento, os blocos de clubes que estavam alinhados pela organização do Brasileirão através de uma Liga a partir de 2027 não sofreu danos, mas cada um escolheu um lado na política da CBF, e o tabuleiro promete se reorganizar. Flamengo e Palmeiras, que já andaram disputando poder na Libra, agora estão em lados opostos na eleição.
Leila Pereira foi a primeira presidente a assinar carta em apoio a Samir Xaud. Já Luiz Eduardo Baptista, o Bap, colocou o Flamengo puxando a fila de abstenções, e após encontro com o candidato, não se iludiu com promessas. O Fluminense de Mário Bittencourt foi na mesma linha, assim como São Paulo, Corinthians e Santos.
Na contramão, o Vasco puxou a fila de quem pulou do barco. Foi o primeiro clube a aderir à candidatura de Samir, alegando que os coirmãos apareceram com uma proposta fechada e sem diálogo, privilegiando poucos clubes, e alçando a CEO Marcelo Paz, do Fortaleza, sem maiores consultas. Com o aceno do Vasco, Samir conversou com o clube, absorveu preocupações e demandas, e outras equipes vieram na esteira, como o Botafogo e o Grêmio. O sentimento dos dissidentes foi de que a unidade dos clubes estava mais no discurso do que na prática.
Em reunião entre clubes da LFU e da Libra, o CEO do Botafogo Thairo Arruda pontuou o açodamento no processo eleitoral e indicou neutralidade inicial. Thairo manifestou o posicionamento do Botafogo em defesa do debate e de mudanças. No fim, o clube não aderiu ao nome de Reinaldo Carneiro Bastos como uma opção de consenso, justamente por não entender que seria solução ideal para o momento. Coincidentemente, o nome de Thairo surgiu como opção para CEO na futura CBF.
Os últimos dias da disputa
Fato é que o movimento ganhou novos apoios. Samir e Reinaldo seguiam em disputa. O candidato único queria evitar que o possível opositor conseguisse apoio inesperado até terça-feira, data limite para a inscrição de chapas. Reinaldo passou a conversar com os clubes para definir o posicionamento no pleito, na direção da abstenção. Samir tentou desencorajar esse processo. E conseguiu fazer com que alguns recuassem. E passassem a olhar adiante, para quem assumiria as vagas na CBF para a criação da Liga, entre outras iniciativas em curso que serão interesse das equipes após o pleito.
Na noite de quarta-feira, 21 clubes mantiveram a resistência e anunciaram a abstenção na eleição de domingo. Estaremos prontos para conversar com a nova gestão, a partir da próxima semana, para que juntos possamos debater como mudar o processo eleitoral e outras demandas dos clubes em prol de um futebol cada vez melhor“, diz parte da nota divulgada pelos clubes, que já exigem mudanças em relação a calendário e arbitragem.
