Ao ser escalada para interpretar a secretária Consuêlo no remake de “Vale tudo”, da TV Globo, Belize Pombal experimentou sentimentos diversos. “Eu me lembro de falar ao Paulo (Silvestrini, diretor artístico da novela): ‘Estou com medo’”, conta. “Ao mesmo tempo, era muito animador.” A mistura de sensações tem a ver com as novidades trazidas pela empreitada à carreira da paulistana, de 39 anos. Além de estar numa produção cercada de expectativas, a personagem guarda aspectos simbólicos. “Ela tem uma família amorosa, estruturada materialmente e afetivamente, formada por pessoas retintas”, diz a atriz, cujas últimas atuações se deram em enredos menos felizes. “Sendo eu uma mulher negra, isso tem um significado muito importante.”
Algo que encontra ecos na própria história de Belize. Nascida numa família matriarcal, a atriz foi criada em meio a oito mulheres, com a avó como referência. “Ela conseguiu superações incríveis e instaurou, em casa, a percepção da importância da honestidade e a capacidade de ser forte, algo exaustivo, mas fundamental para mulheres como nós”, diz. Há, porém, uma ressalva: “Não romantizo família de jeito nenhum. A minha tinha questões, como várias outras. Minha vó era um ser humano inteiro.”
Complexidade que Consuêlo, para deleite da paulistana, tem para dar e vender. “Ela gosta de julgar e fofocar, mas é muito ética no trabalho. E a nossa humanidade é carregada de luzes e sombras”, reflete. “No caso dela, pende mais para a luz do que para as sombras. Talvez, por isso, seja tão acolhida pelo público.”
Não foi por acaso que coube a Belize dar conta de tamanha profundidade dramática. Autora da nova versão de “Vale tudo”, Manuela Dias já havia trabalhado com a atriz na série “Justiça 2”, também da TV Globo, quando foi “imediatamente sequestrada pela sua força imensa”. Era o que precisava para materializar a visão libertária de maternidade embutida na nova personagem. “Ela divide as tarefas e exige que os filhos participem dos gastos da casa”, ilustra Manuela. “É importante servimos outras possibilidades para as relações familiares, sobretudo para repensarmos o papel da mulher. E é um luxo ter o talento de Belize para isso e sempre.”