Com o passar dos anos, viver mais e melhor deixou de ser uma projeção improvável. O avanço da medicina, a facilidade de comunicação, a conscientização da importância de cuidar do corpo e da mente tornaram palpável o que antes parecia apenas sorte na loteria genética. Entre tantos fatores que impactam a qualidade de vida, existe um que muitas vezes passa despercebido, principalmente quando estamos imersos nele: o modo como lidamos com o estresse.
Segundo a neuropsicóloga Priscila Gasparini Fernandes, essa palavrinha responsável por tirar nosso sossego faz parte da vida. Mais do que isso, é ferramenta fundamental para a nossa segurança.
— Em situações de perigo, o cérebro ativa o eixo hipotálamo-hipófise-adrenal, liberando adrenalina e cortisol, hormônios que preparam o corpo para reagir — explica.
O problema surge quando essa parte do corpo é ativada mais vezes do que o necessário.
— Com o acúmulo, esse excesso sobrecarrega o sistema nervoso e pode levar ao esgotamento emocional, o que compromete a saúde de forma profunda — alerta a especialista.
Os efeitos aparecem em diferentes frentes: tensão muscular, insônia, alterações hormonais, problemas gastrointestinais, imunidade baixa e doenças cardiovasculares. No campo psicológico, está ligado a quadros de ansiedade, depressão, irritabilidade, falhas de memória e dificuldade de concentração.
A boa notícia é que gerenciar o estresse é questão de olhar para a sua rotina e entender o que pode ser mudado.
— A prática regular de exercícios físicos, por exemplo, ajuda a reduzir o cortisol e a aumentar os níveis de endorfina, promovendo bem-estar e melhorando o sono — sinaliza a neuropsicóloga.
Técnicas de meditação, como o mindfulness, que ensinam a focar no momento presente e a reduzir a reatividade emocional, também têm resultado eficaz na administração do cortisol. Praticar a respiração consciente, com inspiração e expiração lentas e profundas, é outra sugestão que funciona no sistema de relaxamento natural do corpo.
Em situações de perigo, o cérebro ativa o eixo hipotálamo-hipófise-adrenal, liberando adrenalina e cortisol, hormônios que preparam o corpo para reagir. Com o acúmulo, esse excesso sobrecarrega o sistema nervoso e pode levar ao esgotamento emocional, o que compromete a saúde de forma profunda”
— Priscila Gasparini Fernandes, neuropsicóloga
Não menos importante, investir em uma rede de apoio social é essencial para quem busca qualidade de vida.
— Ter com quem conversar, dividir sentimentos e se sentir acolhido é um fator de proteção potente em qualquer fase da vida. O suporte emocional ajuda a enfrentar dificuldades com mais equilíbrio — afirma Priscila.
Outro ponto crucial é manter o equilíbrio entre vida profissional e pessoal, delimitando bem esses espaços.
— O excesso de trabalho e a negligência da vida pessoal são fontes comuns de estresse crônico. Quando priorizamos apenas o desempenho profissional, perdemos lugares de prazer, convivência e descanso. E todos são pilares essenciais da saúde emocional.
Equilibrar esses campos, portanto, evita sobrecarga, impacta no autocuidado e preserva nossa identidade, para além do papel profissional.
— É importante lembrar que somos mais do que o nosso desempenho. Cuidar das nossas atividades e questões fora do ambiente de trabalho reforça nossa identidade — diz a neuropsicóloga.
Mas atenção. Em alguns momentos é importante reconhecer que nem sempre conseguimos lidar com tudo sozinhos — e não existe problema nenhum nisso. Alguns sinais, como cansaço persistente, alterações de sono e apetite, crises de ansiedade ou choro frequente, sensação de estar no limite, perda de produtividade ou desinteresse por atividades que antes eram prazerosas, indicam que é hora de buscar ajuda profissional.
— Esses sintomas apontam que o estresse ultrapassou a capacidade natural de autorregulação do corpo e precisa ser acolhido com acompanhamento especializado.
Quando conseguimos reduzir a ação dos hormônios inflamatórios, surpresa: estamos protegendo o corpo, fortalecendo a mente e criando condições para envelhecer com saúde.
Mais do que evitar doenças, gerenciar o estresse é promover qualidade de vida e se preparar para dias mais prazerosos e felizes.
— Pessoas que desenvolvem estratégias eficazes para lidar com as situações que fogem à rotina vivem mais e melhor — finaliza Priscila.
Conclusão? Em tempos de correria e demandas diversas, cultivar o equilíbrio pode ser o segredo mais poderoso da longevidade.