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— Dizer que ele [Trump] vai mover esses tipos de submarinos para qualquer lugar indica que ele não sabe como eles funcionam — alertou John Bolton, ex-conselheiro de Segurança Nacional de Trump, em entrevista à CNN americana no sábado.
A força submarina dos Estados Unidos é composta por quatro classes operacionais: Ohio, Los Angeles, Seawolf e Virginia, totalizando 71 submarinos, todos com propulsão nuclear. A classe Ohio é a única equipada com ogivas nucleares. Dela fazem parte 18 submarinos, dos quais 14 são SSBNs, isto é, servem à parte marítima da tríade nuclear de dissuasão americana. Os outros quatro foram convertidos para transportar mísseis guiados (SSGNs), que possuem capacidades de ataque e inserção nas Forças Especiais.
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Os SSBNs, também conhecidos como “boomers”, são projetados para realizar missões de longa duração, chamadas de patrulhas de dissuasão prolongadas. Elas duram de 70 a 90 dias, com intervalos de 35 dias para manutenção. O objetivo é aumentar a operabilidade e reduzir ao mínimo o tempo de permanência no porto, de modo a manter uma presença estratégica constante. Para isso, cada submarino possui duas tripulações, azul e dourada, que se alternam em patrulhas.
Os locais exatos de patrulha são confidenciais, mas sabe-se que os SSBNs da classe Ohio operam tanto no Oceano Atlântico quanto no Pacífico — com um foco maior nesta região desde o fim da Guerra Fria. Sua bases estão estrategicamente posicionadas em Bangor, no estado de Washington, na Costa Oeste, e Kings Bay, no estado da Geórgia, na Costa Leste.
Os 14 submarinos com ogivas nucleares não realizam patrulha ao mesmo tempo. Estima-se que apenas oito a dez sejam mobilizados simultaneamente, devido a pequenos reparos regulares e treinamentos.
Anteriormente, os submarinos da classe Ohio continham 24 tubos de lançamento cada, mas o número foi diminuído para 20 para atender aos limites do Novo START, tratado de redução de armas nucleares assinado entre os EUA e a Rússia, que limita o número de ogivas nucleares estratégicas que ambos os países podem implantar.
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Cada míssil balístico Trident carrega quatro ogivas nucleares, o que significa que os Estados Unidos têm cerca de 720 explosivos atômicos submersos à sua disposição simultaneamente, de acordo com estimativas da organização Nuclear Threat Initiative, de prevenção de catástrofes nucleares e ameaças biológicas, com base em Washington.
Os Tridents têm um alcance de até 7.400 quilômetros, o que significa que não precisariam se aproximar da Rússia para atingi-la — na verdade, poderiam fazê-lo a partir dos oceanos Atlântico, Pacífico, Índico ou Ártico.
— Os submarinos da classe Ohio […] não ficam parados no porto. […] um número suficiente deles está em posição neste momento para retaliar contra um ataque nuclear russo — acrescentou Bolton. — É por isso que eles são colocados lá, para que não precisem ir a lugar nenhum. Eles já estão lá e, com sorte, são indetectáveis.
Após se manter em silêncio durante o fim de semana, o Kremlin minimizou o episódio do presidente Trump nesta segunda-feira. De acordo com o porta-voz Dmitry Peskov, a Rússia não foi pega de surpresa, porque “os submarinos dos EUA já estão em missão de combate”. No entanto, pediu que os assuntos nucleares sejam tratados com “grande cautela”.
— A Rússia leva a questão da não proliferação nuclear muito a sério. E, claro, acreditamos que todos devem ser extremamente cautelosos quando se trata de retórica nuclear — disse Peskov a repórteres.
Mais cedo, Viktor Vodolatsky, um parlamentar sênior da Duma, a câmara baixa do Parlamento russo, alertou que seu país tem mais submarinos nucleares que os EUA para lidar com aqueles que receberam ordens de se aproximar da Rússia.
— O número de submarinos nucleares russos nos oceanos do mundo é significativamente maior do que o dos americanos, e os submarinos que o presidente dos EUA, Donald Trump, ordenou que fossem redirecionados para as regiões apropriadas estão há muito tempo sob seu controle — declarou.
A Marinha Russa comanda uma das maiores frotas de submarinos do mundo, com cerca de 64 embarcações — embora seja numericamente inferior à dos EUA, inclui unidades com dimensões bastante superiores. Desse total, 16 são equipados com propulsão nuclear e mísseis balísticos (SSBNs), dois a mais que os americanos.
Os comentários foram feitos às vésperas de uma visita do enviado americano para missões de paz Steve Witkoff, à Rússia. O encontro deve acontecer na quarta ou quinta-feira, segundo Trump, antes da data limite imposta por Washington para que Moscou adote medidas para acabar com a guerra na Ucrânia, sob o risco de enfrentar novas sanções não especificadas.