Uma brasileira de 30 anos disse ter sofrido tentativa de estupro em Paris após o voo da TAP para Lisboa ser cancelado e a empresa decidir hospedá-la em quarto de hotel com um estranho.
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Ela tem cidadania italiana e estava viajando para Lisboa, onde trabalha como consultora na área ambiental.
A brasileira revelou ao Portugal Giro que o voo TP 439 das 21h05m de 31 de maio foi cancelado. A TAP programou nova partida de Paris (Orly – TP 429) a Lisboa para 1º de junho, às 10h20m.
Segundo ela, os passageiros já estavam no avião, mas tiveram que sair e seguir para o balcão de atendimento da TAP, que distribuiu vouchers de reservas para quartos de hotéis.
— Fui informada por funcionária da TAP que não havia quartos individuais suficientes e que eu teria que dividir um quarto com outros passageiros — disse, prosseguindo:
— Eu me recusei, exigindo um quarto só para mim, mas fui informada que essa não era uma opção: ou aceitava, ou pagava do próprio bolso, algo inviável para mim em Paris.
A consultora afirmou ter sido alocada em um quarto de hotel próximo ao aeroporto com uma alemã e um homem brasileiro. Ambos desconhecidos da brasileira, mas identificados no voucher.
— Durante a noite, a alemã saiu do quarto e eu fui acordada com o homem nu em cima de mim, beijando meu pescoço, me segurando, tentando me estuprar — revelou:
— Por sorte, consegui me defender, gritei e ele deixou o quarto. Ainda assim, as marcas do episódio permanecem.
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Em Lisboa, ela disse que não teve resposta ao procurar ajuda da TAP. Mas recebeu orientações para auxílio da Associação Portuguesa de Apoio à Vítima (APAV).
— Busquei, então, apoio no Brasil, tanto psicológico quanto jurídico, e abri um processo de pequenas causas contra a companhia, por assédio moral e negligência — informou.
De acordo com ela, que fez Boletim de Ocorrência de importunação sexual consumada em delegacia brasileira, a TAP propôs uma indenização:
— Propôs acordo de R$ 5 mil sem pedido de desculpas ou reconhecimento do erro. É uma barreira na tentativa de reconhecer o caso, ter voz, mudança e segurança para mulheres — disse.
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A companheira alemã avisou em bilhete que iria embora. Ela voltou para o aeroporto e, depois, concordou em testemunhar por escrito:
— Fui informada de que dividiria um quarto com mais duas pessoas desconhecidas, entre elas a brasileira. Não consegui dormir e decidi retornar ao aeroporto, deixando a brasileira com o desconhecido.
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A alemã escreveu, ainda, que encontrou a brasileira no dia seguinte “visivelmente abalada emocionalmente”. E completou seu testemunho:
— A divisão do quarto foi imposta pela cia. aérea, sem qualquer possibilidade de recusa ou escolha individual, colocando (passageiras) em situação de vulnerabilidade e insegurança.
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A brasileira afirmou que resolveu tornar público o episódio para alertar outras passageiras. Ela garantiu que não procura apenas indenização, mas responsabilização:
— Quantas outras denúncias de mulheres em situações vulneráveis foram silenciadas por falta de apoio ou forças para prosseguir? Tive o Brasil ao meu lado. E as portuguesas?
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A brasileira contratou a advogada Nathália Magalhães, que explicou ter processo em curso no Juizado Especial Cível pedindo o teto indenizatório de R$ 50 mil.
— Infelizmente, ficamos muito decepcionadas ao perceber que, mesmo com o processo, a empresa não encaminhou pedido de desculpas ou mostrou preocupação — afirmou a advogada:
— Aguardamos sentença. Em audiência, a TAP ofereceu R$ 5 mil. É inadmissível que só pudessem oferecer hospedagem naquele hotel e em quartos compartilhados. É um tratamento vexatório.
O Portugal Giro teve acesso ao processo, no qual a TAP é defendida por um escritório de advocacia brasileiro. Em audiência digital, a companhia começou oferecendo R$ 3 mil até fazer a proposta final.
Segundo a advogada, sua cliente se sentiu ainda pior com o descaso que afirmou ter sofrido da cia. aérea portuguesa.
— Agora, com o comportamento deles no processo, ela se sentiu ainda pior e a intenção dela é que a história dela seja compartilhada para alertar outras passageiras — disse.
Procurada, a TAP não respondeu.