A startup Wali, que oferece aluguel de carros através de seu aplicativo, completa um mês ofertando veículos numa via pública do Rio, na Rua Humaitá, no bairro homônimo da Zona Sul. O projeto pioneiro — vinculado ao Sandbox.Rio, sob o guarda-chuva da Secretaria municipal de Desenvolvimento Econômico (SMDE), que oferece autorização temporária para testes de serviços na capital fluminense — pode ainda ser ampliado para outros pontos neste ano. Isso porque há estudos para que vagas de ruas em Copacabana, em Jacarepaguá, no Recreio e na Tijuca também recebam veículos da empresa, segundo Guilherme Rajzman, CEO da Wali.
- Reviver Centro: antigo prédio da Caixa Econômica no Rio vai virar residencial com unidades de até três quartos e supermercado no térreo
- Mesmo com plano de expansão, Rio teve só 1,9% de crescimento em ciclovias em um ano e segue distante da meta para 2024
Na prática, essa modalidade na rua permitiu uma mudança no perfil das pessoas que alugam esses carros. Até então, todas as bases da empresa ficavam em espaços privados, como hotéis, shoppings e condomínios, o que fazia com que a maior parte dos usuários fossem moradores e frequentadores desses locais.
— A gente é a primeira empresa, e, até onde sei, a única, homologada por uma prefeitura para poder demarcar vagas em vias públicas e tornar o serviço mais público, com mais acesso aos moradores e turistas de uma cidade. Isso faz uma diferença grande, principalmente na questão da previsibilidade e de demanda— observa Rajzman. — Nosso principal concorrente não é a locadora, nem o carro por aplicativo: é o carro próprio. A gente quer substituir a necessidade de o carioca ter um carro.
Inaugurada em 21 de julho, a base do Humaitá ocupa três vagas na rua, exclusivas para uso da empresa. Desde então, 24 reservas foram feitas, com 15 usuários identificados, 13 cariocas e dois turistas de outros estados, o que indica que alguns deles utilizaram o serviço mais de uma vez. Essa é considerada uma “aceitação boa”, segundo a startup. Um desses clientes é o produtor de ovos orgânicos Luis Fernando Barbieri, morador da Zona Sul, que há mais de um ano usa os carros da Wali para realizar entregas.
— Alugo o período que preciso, enquanto, numa locadora tradicional, é uma diária e acabou — pontua Luis, que também vê vantagem em resolver tudo pelo aplicativo. — Todo o nosso tempo é importante.
- Em Guaratiba: Obras de novo autódromo do Rio podem começar no primeiro semestre de 2026; conheça o projeto
No Rio desde 2021, a Wali começou focando em condomínios residenciais na Barra da Tijuca. Inicialmente, os carros ofertados pertenciam à empresa, mas, na virada para 2024, houve uma mudança do modelo de negócios, conforme explica o CEO da startup. Desde então, o veículo ofertado passou a ser disponibilizado por locadoras parceiras e até mesmo pessoas físicas.
No período em operação, já foram feitas cerca de 11 mil reservas no Rio. Hoje, a Wali também tem bases em São Paulo e Belo Horizonte. Nos próximos dois meses, ainda será feita uma expansão para Salvador, além das cidades paulistas de Ribeirão Preto e Campinas. Até o fim do ano, a promessa é chegar ainda a Fortaleza.
— Alugar um carro hoje numa locadora convencional é a mesma experiência que a gente tinha desde a década de 1980, com fila, burocracia, taxa escondida, tem que devolver com um tanque cheio, que é a chatice toda que a gente já sabe. A gente elimina toda essa parte burocrática, flexibiliza o acesso ao uso dos veículos, que agora não precisa passar por filas, e é 100% digital — completa Rajzman.
Como integrante do Sandbox.Rio, a Wali não paga impostos à prefeitura. Mas, por outro lado, precisa fornecer ao município dados brutos sobre o teste que está sendo feito.
— Esses dados nos permitem entender como o cidadão carioca utiliza essa inovação, como ela se incorpora à cidade e quais são os desafios impostos para sua implementação definitiva. Isso nos permite propor uma regulamentação mais efetiva para a cidade — observa Osmar Lima, titular da SMDE.
- Fora de época, amendoeiras trocam as folhas no Rio e decoram praças e ruas em tons de vermelho
O aplicativo Wali está disponível para Android e iOS. É necessário fazer um cadastro — com nome, e-mail e CEP, além da criação de uma senha —, assim como anexar a carteira de habilitação, enviar uma selfie e completar o cadastro, com data de nascimento, endereço completo e um comprovante de residência em anexo. Ainda pelo aplicativo, o cliente assina um contrato e todas essas informações serão analisadas pela empresa, antes da liberação. É preciso ainda cadastrar um cartão de crédito.
Ao abrir o app, aparecem 17 bases no Rio — predominantemente na Zona Sul e na região da Barra, Jacarepaguá e Recreio — e outras duas em Niterói. Ao clicar em cada um dos locais, é possível ver quantos carros estão disponíveis e se o local funciona 24 horas (em alguns casos, como no do Shopping da Gávea, os carros ficam disponíveis de acordo com o horário de funcionamento do estabelecimento).
As cores no mapa ainda indicam a disponibilidade do local: em laranja, que há carros disponíveis; em cinza; que os automóveis do local já foram alugados; e transparente, que indica que a base está em processo de lançamento. Mesmo que em ambientes privados, qualquer pessoa pode alugar o carro.
Só há exclusividade de uso por moradores em casos em que condomínios fazem uma parceria com a Wali. Nesses casos, o veículo só aparece como disponível para quem coloca o endereço do empreendimento (são cerca de 10 nessa modalidade no Rio atualmente) no comprovante de residência.
- O Rio em cem anos: da expansão que acompanhou os trilhos de trens e bondes ao povoamento em massa na Zona Oeste
Após alugar o carro, o cliente se dirige até o veículo e abre as portas através do app, com o bluetooth. As chaves ficam no porta-luvas. Entre as regras de uso estão as de que o automóvel deve ser devolvido em boas condições — ao abrir um carro, o usuário deve fazer uma revisão e caso encontre algo de errado, como uma sujeira, deve acionar o suporte, que pode multar o usuário anterior — e de que deve ser devolvido no mesmo local em que foi pego.
/i.s3.glbimg.com/v1/AUTH_da025474c0c44edd99332dddb09cabe8/internal_photos/bs/2025/4/5/6geHyARs2WBY8L7yzIJg/112165111-rio-de-janeiro-rj-29-08-2025-carros-compartilhados-o-aplicativo-wali-oferece-carro.jpg)
Caso o nível de combustível (incluído no valor do aluguel) fique abaixo de um quarto do tanque, o cliente usa um cartão da Wali também guardado no porta-luvas, que será usado em postos credenciados.
Os planos disponíveis são de 12 horas, 24 horas, 48 horas, cinco dias e mensal. Além de uma diária, o cliente paga por quilômetro rodado. Em casos de planos de mais de 24 horas, o cliente pode optar por abastecer o veículo por meios próprios, desde que devolva o automóvel com o combustível no mesmo nível que pegou. Essa opção deve ser indicada através do chat disponível no app. A partir de outubro, a promessa da empresa é que uma atualização no aplicativo ofertará essa opção mais facilmente.
Há ainda uma modalidade livre, em que o usuário paga por hora usada e quilômetro rodado.
- Thiago Gomide: Da pracinha em Laranjeiras ao Passeio Público, a rua é o lugar do encontro no Rio
Um VW Polo alugado na vaga do Humaitá pode custar R$139,80, além de R$ 0,95 por quilômetro, num pacote de 12 horas. O valor pago por quilômetro diminui conforme a quantidade de dias alugados cresce. Num pacote mensal, a diária sai por R$110,40, além de R$ 0,75 por quilômetro. Há uma proteção ao veículo (uma espécie de seguro) inclusa no aluguel. Mas, em caso de ocorrências, como uma batida, o cliente paga a diferença se o conserto for mais caro que o valor da coparticipação. Nesses aluguéis, há um calção a partir de R$ 800 no cartão.
Numa locadora em Botafogo, o mesmo carro tem diária a partir de R$ 144,95 (não há diferença de valores se o aluguel durar 12 horas), além de taxa de aluguel de 12% (neste caso, de R$ 17,39). No aluguel que dura um mês, neste caso, o valor sai por R$ 89,95 por dia, além da taxa dos 12%. Há opções de contratar seguros, que, neste caso, são a partir de R$ 35,55 por dia. Porém, se não for contratado o seguro, é cobrado um calção de R$ 9 mil. O carro deve ser devolvido com tanque cheio.
/i.s3.glbimg.com/v1/AUTH_da025474c0c44edd99332dddb09cabe8/internal_photos/bs/2025/w/B/zB4qQ9TAyemya5zezo9A/112165105-rio-de-janeiro-rj-29-08-2025-carros-compartilhados-o-aplicativo-wali-oferece-carro.jpg)
É possível encontrar outras empresas que oferecem o aluguel de carros via aplicativo, serviço conhecido como Car Sharing, como no Rio e em São Paulo. Mundo afora, essa já é uma realidade na China, nos Estados Unidos e na Europa, por exemplo.
Na capital paulista, por exemplo, a prefeitura esclarece que “atualmente não há empresas credenciadas junto ao município para oferecer o serviço de compartilhamento de veículos por aplicativo” e que é necessário um credenciamento no Comitê Municipal de Uso do Viário se o serviço for ofertado em vagas públicas. “Se a empresa atuar somente com vagas privadas, não há necessidade de credenciamento.”
No Rio, a parceria da Wali com o Sandbox tem duração de seis meses, prorrogáveis por mais seis meses. O período ainda pode ser prorrogado se o município entender que há necessidade de um tempo de testes ainda maior.