O IBGE divulga na manhã de hoje os números do Produto Interno Bruto (PIB) do Brasil no segundo trimestre deste ano. As chamadas Contas Nacionais formam um retrato do dinamismo da economia, uma espécie de termômetro de como ela se comportou num período de três meses.
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Para os resultados entre abril e junho deste ano, economistas e analistas de mercado estão esperando os primeiros sinais de uma desaceleração mais forte prevista para este segundo semestre. Contribui para isso principalmente a alta da taxa básica de juros (Selic), atualmente em 15% ao ano.
Os juros são o principal instrumento do Banco Central para controlar a inflação e levá-la à meta, que atualmente é de 3% ao ano, com intervalo de tolerância de 1,5 ponto percentual para mais ou para menos. Juros altos tendem a frear investimentos e o consumo, com o crédito mais caro.
Embora a inflação esteja em uma trajetória de queda — inclusive com a primeira deflação de alimentos em junho desde agosto do ano passado e a deflação do IPCA-15 na primeira metade de agosto — ainda não está claro que se o Banco Central começará a baixar os juros neste segundo semestre.
No retrato do segundo trimestre, a expectativa dos analistas é de um consumo de bens das famílias mais moderado, embora ainda em crescimento com desemprego baixo e renda em alta.
Do lado da oferta, o protagonista do PIB deverá ser o setor de serviços, como transportes, bares, restaurantes, salões de beleza, serviços de TI e uma série de outros que formam a maior fatia da economia.
Em entrevista ao blog da colunista do GLOBO Míriam Leitão, a economista Juliana Carvalho Trece, afirmou que a perspectiva para o PIB do segundo trimestre é de variação negativa na agropecuária, no comércio e na indústria de transformação, mas de resiliência dos serviços, puxando uma variação positiva da economia como um todo entre 0,2% e 0,5%.
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No setor de serviços, o economista Luís Otávio Leal, da G5 Partners, acrescenta que há ainda o impulso dos serviços de informação e comunicação, com a digitalização das empresas, e a corrida pela inteligência artificial gerando efeitos positivos. Para ele, o PIB deve apresentar estabilidade no segundo trimestre.
— É uma dinâmica completamente diferente da indústria, por exemplo, que depende de crédito, depende de financiamento, e aí é onde bate mais forte essa questão dos juros em 15% (ao ano, a Taxa básica de juros, Selic). E essa desaceleração da indústria conversa muito bem com o que a gente viu no mercado de crédito ao longo do segundo trimestre, que foi uma perda de vigor ou aumento da inadimplência — explica ele.
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No primeiro trimestre, a supersafra fez o setor agropecuário subir bem, puxando o PIB para cima. Isso se somou ao forte consumo das famílias e aos investimentos, que vieram com resultado acima do esperado. A alta foi de 1,4% frente ao último trimestre de 2024. Agora, os serviços devem ter sustentado a atividade, impedindo uma queda no indicador.
— Será um número mais fraco, mas ainda com sinais mistos, porque alguns fundamentos apontam para expansão, principalmente com o mercado de trabalho, que continua como fator de sustentação para setores sensíveis à renda, sem falar em gastos fiscais ainda em patamares elevados, como previdência e BPC. Mas outros indicam esfriamento na esteira da política monetária apertada, tendo em vista a necessidade de controle da inflação — resume Rodolfo Margato, economista da XP, que prevê alta de 0,3% no segundo trimestre.
Perspectivas para o 2º semestre
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A desaceleração da criação de empregos e o aumento da inadimplência são os primeiros sinais do desaquecimento da economia brasileira previsto pelo governo e pelo mercado para o segundo semestre.
Apesar da criação de 129,7 mil vagas formais em julho, o resultado representa uma queda de 32% em relação ao mesmo mês de 2024, e é o pior para o mês desde 2020. A inadimplência de famílias e empresas no crédito também subiu a nível recorde.
O mercado de trabalho abriu 129.775 vagas formais em julho, segundo o saldo entre admissões e dispensas registradas no Caged, cadastro do Ministério do Trabalho e Emprego (MTE). Foram criadas vagas, mas o resultado representa queda de 32% ante julho de 2024, quando foram abertas 191.373 vagas com carteira assinada, segundo os dados divulgados ontem.
Foi o pior julho desde 2020, quando foram gerados 108.476 postos, ainda nos primeiros meses da pandemia de Covid-19. Para economistas ouvidos pelo GLOBO, a queda reforça os sinais de arrefecimento da atividade econômica, após meses de crescimento surpreendendo para cima.