Um tribunal tailandês determinou nesta terça-feira que o ex-primeiro-ministro Thaksin Shinawatra, figura influente e polarizadora da política do país, cumpra um ano de prisão por condenações anteriores. A decisão é mais um golpe em sua trajetória política e vem dias após sua filha, Paetongtarn Shinawatra, ter sido destituída do cargo de primeira-ministra.
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Aos 76 anos, Thaksin foi intimado pela Suprema Corte a se apresentar ainda hoje a uma penitenciária de Bangcoc.
O caso remonta a 2023, quando o ex-premier retornou de forma inesperada à Tailândia, após anos de autoexílio. Deposto por um golpe militar, ele havia sido condenado à revelia por corrupção e abuso de poder. Na volta, recebeu pena de oito anos de prisão, mas alegou problemas de saúde e foi transferido para um hospital.
Thaksin passou seis meses em uma suíte VIP da unidade médica e foi liberado após obter indulto real, que reduziu a sentença. Nesta terça, porém, um colegiado de cinco juízes concluiu que seu quadro clínico na época — com dores no peito, hipertensão e baixa oxigenação no sangue — não justificava a permanência hospitalar.
O ex-premier reagiu com calma e chegou a sorrir ao ouvir a nova sentença. Suas filhas e genros acompanharam a sessão no plenário. Após a saída dos magistrados, Paetongtarn foi até o pai para conversar.
Em comunicado divulgado após a decisão, Thaksin disse aceitar a pena: queria, segundo ele, “olhar para frente, encerrar tudo do passado — sejam batalhas judiciais ou conflitos relacionados a mim”.
“De hoje em diante, embora eu possa perder minha liberdade, ainda mantenho a liberdade de pensamento em benefício da nação e de seu povo”, afirmou. Ele acrescentou que pretende dedicar o restante da vida a servir “à monarquia, à Tailândia e ao seu povo”.
Para analistas, a prisão pode até fortalecer seu capital político.
— A indústria do ‘Eu odeio Thaksin’, que existe há 20 anos, não teria mais nada para odiar — avaliou Isra Sunthornvut, diretor do escritório da consultoria Vriens & Partners na Tailândia.
Bilionário das telecomunicações, Thaksin entrou em choque com o establishment militar e monarquista desde que chegou ao poder, em 2001. Reeleito, acabou deposto por um golpe e se exilou voluntariamente, passando a maior parte do tempo em Dubai. Ainda assim, manteve influência decisiva nos rumos do país.
Seu retorno em 2023, segundo analistas, só foi possível com a anuência velada de antigos adversários. Naquele momento, o grande alvo dos monarquistas era o progressista Partido Avançar (Move Forward), vencedor das eleições daquele ano.
A legenda defendia suavizar a rígida lei que criminaliza críticas à monarquia, o que gerou forte reação conservadora. Impedido de formar governo, o Move Forward abriu espaço para que o partido de Thaksin, segundo colocado, assumisse o poder.
Um ano depois, parecia que os Shinawatra haviam superado os maiores desafios. Thaksin evitara a prisão, e Paetongtarn tornara-se a terceira integrante da família a ocupar o cargo de premier, depois dele próprio e de uma tia.
Mas as pressões continuaram.
O ex-líder foi investigado por suposta difamação à monarquia, da qual acabou absolvido. Em abril, a Suprema Corte anunciou que revisaria sua longa estadia hospitalar.
No mês passado, o Tribunal Constitucional destituiu Paetongtarn por violação ética, após conversa com o líder cambojano Hun Sen considerada excessivamente deferente.
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Na quinta-feira, Thaksin chegou a viajar de surpresa a Dubai, levantando rumores de novo exílio. Ele, no entanto, negou as especulações e já estava de volta a Bangcoc na segunda-feira.
A expectativa é que o ex-premier permaneça atrás das grades quando os tailandeses voltarem às urnas, em eleições previstas para o primeiro semestre do próximo ano.