Nesta semana, reencontrei um amigo e ele começou a me atualizar sobre sua vida. Contou da visita à família no Arizona, da sessão de “Lilo e Stitch” com a sobrinha e do esforço em uma nova startup. Tudo em espanhol, idioma que nunca estudei. Mesmo assim, entendi cada frase. O segredo? Os novos fones da Apple, que chegaram às lojas na sexta-feira.
Os AirPods Pro 3, que custam US$ 250, conseguem traduzir conversas em tempo real usando inteligência artificial. O cancelamento de ruído melhorou um pouco, mas a grande novidade está na tradução. Enquanto meu amigo falava em espanhol, a Siri entrou em cena como intérprete, e a voz robótica da assistente transformava as frases em inglês, direto nos meus ouvidos.
Depois, conferi no iPhone a transcrição da conversa para checar a precisão da tradução. Fora alguns erros em que a Siri confundiu pronomes (chamando a namorada do meu amigo de “ele” em vez de “ela”), estava tudo certo.
Fiquei impressionado. Foi o exemplo mais forte que já vi de tecnologia de IA funcionando de forma prática e útil para situações reais. Esse recurso pode facilitar a vida de filhos de imigrantes que falam em sua língua nativa, de turistas tentando se comunicar em outro país ou até mesmo no dia a dia — como entender um prestador de serviços que não fale inglês.
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E a surpresa foi dupla: até agora, a Apple vinha tropeçando na corrida da inteligência artificial. Alguns recursos prometidos para o iPhone 16 nunca saíram do papel, e as ferramentas já lançadas, como edição de fotos e resumos de textos, ficaram atrás das do Google.
Por isso, os AirPods com tradução são um sinal importante de que a Apple ainda está no jogo. Tradutores digitais já existiam, mas eram pouco práticos. Quem nunca se atrapalhou ao usar o Google Tradutor, tendo que segurar o celular, esperar a frase aparecer na tela ou ouvir a tradução em alto-falantes minúsculos?
Com os AirPods, basta um gesto. Um segundo depois de alguém falar, a tradução já chega no idioma escolhido, direto nos fones.
Colocar os AirPods para funcionar foi fácil. Bastou abrir o estojo perto do iPhone e tocar em um botão para emparelhar. Para ativar o tradutor, precisei atualizar para o iOS 26 e ligar o Apple Intelligence, o sistema de IA da Apple.
No app Traduzir, baixei os idiomas disponíveis — espanhol, francês, alemão, português e inglês, com outros a caminho. Depois, só escolhi o idioma da outra pessoa (no caso, espanhol) e o que queria ouvir.
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Para acionar o intérprete, o jeito mais prático é segurar as duas hastes dos fones por alguns segundos até ouvir um som. A partir daí, cada um fala no seu idioma: a tradução aparece no app e é lida em voz alta no fone.
Quem tem AirPods Pro 2 (2022) ou AirPods 4 com cancelamento de ruído também vai ganhar a função com atualização de software. Mas é preciso ter um iPhone recente, como o 15 Pro ou algum da linha 16, para rodar o Apple Intelligence.
As conversas ficam ainda mais fluidas quando as duas pessoas estão usando AirPods — o que é bem provável, considerando os milhões de unidades já vendidas no mundo. Mesmo assim, o recurso funciona bem só com um usuário. Isso pode ser útil em situações do dia a dia, como com imigrantes que preferem falar em sua língua de origem, mas entendem respostas em inglês.
Por que as traduções estão melhores?
O segredo está nos grandes modelos de linguagem. Eles analisam a conversa inteira para entender o contexto e acertar melhor no significado das palavras — algo que os tradutores antigos, frase por frase, não conseguiam fazer, explica Dimitra Vergyri, diretora de tecnologia de fala do SRI, laboratório que criou a primeira versão da Siri.
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Ainda assim, a IA não capta tudo. Emoções e nuances culturais podem escapar. Em países como o Marrocos, por exemplo, pode soar rude começar a falar sem a saudação tradicional, que envolve perguntar pela família e pela saúde da pessoa.
“Ainda existe uma lacuna para a comunicação real”, diz Vergyri. Mas ela ressalta que a tradução automática vai se tornar cada vez mais essencial à medida que profissionais no mundo todo precisem se entender entre culturas.