O petroleiro Emiliano Ferreira, de 48 anos, gosta de manter o cabelo e a barba “na régua”. Mal começa a crescer, e ele já corre para a barbearia onde é cliente fiel há três anos.
Além de gostar do atendimento, o que estimula a sua lealdade ao estabelecimento que fica dentro de um condomínio da Barra da Tijuca, na Zona Sudoeste do Rio, é o seu plano de assinatura.
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Com R$ 229,90 por mês, ele tem direito a dar um “tapa no visual” quantas vezes quiser, sem ter de pagar a cada visita. Nessa unidade da Barbearia Club, um corte de cabelo sai por R$ 60.
Como costuma ir cinco vezes por mês, Ferreira optou pela assinatura para economizar ao menos R$ 70. Isso sem contar que também pode fazer a barba ali sem custo adicional.
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Outra vantagem: produtos para barba e cabelo e bebidas a serem consumidas no local têm desconto de 10% para os assinantes.
A modalidade de pagamentos mensais tem se espalhado por barbearias no país e agrada consumidores como Ferreira, que vêm sentido no bolso o peso da alta dos serviços acima da inflação. No caso das barbearias e cabeleireiros, os preços subiram 6,68% nos últimos 12 meses até julho enquanto a média nacional do IPCA foi de 5,23%.
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— Quando a proposta da assinatura surgiu, vi vantagem econômica. Depois percebi outros benefícios, como a facilidade de ajustar os cortes sempre que necessário — conta o petroleiro.
Ali, o cliente pode escolher entre três planos: um apenas para cortes de cabelo, outro para manutenção da barba e um terceiro que inclui os dois serviços. Os preços vão de R$ 119,90 a R$ 229,90. Para a barbearia, mesmo ganhando menos por cada vez que o cliente senta na cadeira, também é um bom negócio.
Leandro Fael, um dos sócios, conta que os planos de assinatura ajudaram o negócio a reverter dificuldades que vinham desde a pandemia. Os clientes não escapam para a concorrência e frequentam mais o salão, que lucra mais com a venda de produtos e serviços extras e desestimula o “faça você mesmo” em casa.
— Nosso ganho aumenta porque eles consomem mais como membros do clube em produtos, na cerveja… Às vezes o cliente quer fazer a sobrancelha, que não está no pacote, mas tem desconto — conta Fael.
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Mas ele adverte: para a novidade fazer sucesso, a localização da barbearia e o perfil dos clientes devem ser levados em conta. Áreas residenciais tendem a ter mais assinantes, já que o segredo do negócio é conveniência.
Na Vila Formosa, em São Paulo, a AeroBarba multiplicou seu faturamento anual por quatro, saindo de R$ 100 mil para R$ 400 mil com as assinaturas, conta o proprietário Marcos Vinícius. Ele diz que 70% de seus clientes aderiram aos planos mensais, gerando um fluxo garantido de R$ 33 mil por mês só com as assinaturas.
A previsibilidade favorece o negócio, permitindo “fechar o caixa” antes de o mês começar. E o empreendedor também nota que os clientes compram mais produtos, já que não sentem “o dinheiro saindo”:
— Se ele compra um produto, podemos lançar direto na fatura do cartão, sem ele precisar pagar na hora. Assim, não sai da barbearia com a sensação de ter gastado muito. Pelo contrário, consome mais e ainda tem desconto sobre esse consumo.
A barbearia criou o Cabelo&Barba, um plano de R$ 124,90 que tem como um dos benefícios oferecer um corte de cabelo gratuito para um amigo que visite o estabelecimento pela primeira vez, uma estratégia para atrair outros assinantes.
Antídoto contra a sazonalidade
Luciana Perret e Roberto Pereira, sócios da Barba Jhones, na Tijuca, na Zona Norte Rio, também aderiram ao modelo, que dizem ajudar a aliviar o movimento irregular, com maior demanda em alguns dias do mês ou datas comemorativas.
— Não ficamos à mercê das sazonalidades, como festas ou datas comemorativas. Sabemos que, no próximo mês, teremos uma receita mínima garantida, o que facilita muito o planejamento — afirma Luciana.
Como os fins de semana são mais cheios, os sócios decidiram criar uma variação nos três planos disponíveis. O “basic” custa R$ 79,90 para cortes de cabelo e R$ 149,90 no combo com a barba, mas as visitas só podem ser feitas de segunda a quarta. Já no “full”, os preços sobem para R$ 93,90 e R$ 169,90, com acesso liberado.
Em comum, os empreendedores ouvidos dizem que têm assinantes de todas as idades, principalmente na faixa de 25 a 50 anos, que costumam ir à barbearia de duas a três vezes por mês. E avaliam que a tendência veio para ficar, entrando para os orçamentos fixos das pessoas como a academia ou o streaming.
*Estagiária sob supervisão de Alexandre Rodrigues