Com menos de cinco anos de implementação, o programa REVERTE®, concebido para recuperar áreas degradadas e convertê-las em terras produtivas, se consolidou no país e começa a expandir sua atuação para além das fronteiras. A iniciativa da Syngenta, que começou apoiando agricultores do Centro-Oeste por meio de técnicas agronômicas e financiamento de longo prazo, já está sendo exportada.
O programa apoia na entrega de metas importantes de uma das quatro prioridades de sustentabilidade da companhia e foi citado na palestra “Agricultura Tropical: Desafios e Oportunidades”, realizada pela diretora de Comunicação da companhia, Nêmora Reche, para alunos do curso de Jornalismo na sede da Editora Globo.
O evento mostrou como os desafios da agricultura brasileira e de regiões tropicais diferem significativamente daqueles enfrentados em países de clima temperado — onde invernos rigorosos diminuem a pressão de pragas — e com menor predominância de área de pastagem.
No Brasil, a maior parte do território voltado à agropecuária está ocupada por pastos, gerando uma forte demanda por projetos que estimulem o reaproveitamento de terras degradadas para a agricultura. De acordo com a executiva, muitas vezes, o custo é alto para recuperá-las e voltar a produzir, especialmente pela necessidade inicial de correção de solo.
O programa busca justamente demonstrar a viabilidade econômica de tornar produtivas essas áreas já utilizadas, evitando a abertura de novos plantios. Assim, contribui para a preservação da vegetação nativa e para o avanço da agricultura regenerativa.
Segundo Nêmora Reche, a meta é chegar a 1 milhão de hectares em 2030. Até o momento, mais de 360 fazendas já aderiram ao REVERTE®, totalizando cerca de 270 mil hectares de solos degradados em processo de recuperação. Além disso, a iniciativa já desembolsou cerca de 1,9 bilhão de crédito aos agricultores.
“Nossa meta pode parecer ousada, mas, se olharmos os dados, só no cerrado há mais de 18 milhões de hectares de áreas degradadas. Esse é o maior programa de restauração do mundo”, estima a executiva. Ela explica que esse foi justamente o motivo de o bioma ter sido o ponto de partida do programa, reunindo importantes oportunidades de conservação de habitats naturais. Atualmente, cerca de 150 mil hectares já estão em processo de recuperação no Cerrado.
Em pouco mais de dois anos, o REVERTE® atraiu interesse de agricultores de outras regiões e a Syngenta apostou no ganho de escala, ampliando sua atuação em outras partes do mundo. Líder em tecnologia e inovação agrícola, a empresa lançou o programa no Paraguai em junho deste ano e trabalhará com produtores das regiões do Chaco e Leste que atendam às condições necessárias para participar do projeto piloto: possuir solos degradados e ter acesso ao monitoramento ambiental do progresso da regeneração.
A iniciativa também disponibiliza uma linha de crédito para produtores que seguem os critérios socioambientais definidos, incluindo o compromisso de não conversão de áreas com excedente de reservas legais durante a duração do contrato.
“Temos mostrado que, com os protocolos e recomendações personalizadas e específicas por propriedade, isso é possível. Para um agricultor decidir se quer entrar no REVERTE®, ele pode tanto trabalhar com área própria quanto arrendada, mas precisa cumprir uma série de determinações legais, que abrangem temas desde legislação ambiental até a social”, disse Nêmora Reche.
A executiva acrescenta que, para que o agricultor seja elegível, é necessário que não haja registro de desmatamento ilegal após 22 de julho de 2008, que não tenha convertido vegetação nativa desde janeiro de 2018 na área beneficiada e que esteja em conformidade com o Código Florestal e a legislação ambiental vigente.
Em outra frente, a Syngenta avalia ações para a captura de carbono. A companhia analisa formas de remunerar agricultores por isso, com base em estudos, inclusive da Embrapa, considerando que a captura de carbono no clima tropical é diferente da realizada em clima temperado. “Essa é uma das linhas em que estamos em estágio bem inicial”, ponderou a executiva.
Entre iniciativas de reflorestamento em análise, a empresa pretende focar em agricultores que apresentam déficit em cobertura vegetal. Nêmora destaca que o Código Florestal no Brasil é avançado, mas estabelece normas que, por vezes, os agricultores precisam de apoio para alcançar. O avanço do uso da terra expandiu rapidamente do Sul para o Centro-Oeste, impulsionados pelos incentivos governamentais à interiorização.
“O que antes era política pública, hoje é visto com preocupação. Algumas dessas áreas podem estar em déficit de cobertura vegetal, e, nesse caso, os agricultores precisam firmar termos de acordo para possibilitar a restauração”, diz a executiva, que afirma estar pensando em alternativas para apoiá-los também nisso.
“Ainda não chegamos em algo que possamos chamar de projeto, mas é uma área que estamos acompanhando com atenção, pois pode oferecer oportunidades tanto de cumprimento de lei quanto de negócio”, completa.