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— Foi uma visita histórica. Em vez de o Hamas nos levar ao isolamento, viramos o jogo e isolamos o Hamas. Agora, o mundo inteiro, incluindo o mundo árabe e muçulmano, está pressionando o Hamas a aceitar as condições que estabelecemos em conjunto com o presidente Trump: libertar todos os nossos sequestrados, vivos e mortos, enquanto as Forças de Defesa de Israel (FDI) permanecem na maior parte do território [palestino] — disse Netanyahu em um vídeo divulgado na madrugada desta terça, por meio do qual afirmou que não havia concordado com nenhum Estado palestino.
A proposta-ultimato apresentada por Trump em uma coletiva de imprensa ao lado de Netanyahu, fala em uma retirada gradual das Forças Armadas de Israel do enclave palestino, à medida que certos marcos do plano de “desradicalização” e “reestruturação” de Gaza são atingidos. Em uma publicação na rede social X, os americanos divulgaram uma ilustração do mapa do território palestino, com a marcação de linhas que corresponderiam ao recuo das tropas israelenses em cada fase.
Embora o mapa não corresponda com exatidão às fronteiras do enclave, uma análise realizada pela rede britânica BBC estimou o percentual do território que permaneceria sob ocupação israelense a cada fase implementada. O primeiro recuo aconteceria imediatamente após o aceite das duas partes, quando em um prazo de 72 horas deveria acontecer a libertação de todos os reféns capturados pelo Hamas, os vivos e os mortos.
“Se ambas as partes concordarem com esta proposta, a guerra terminará imediatamente. As forças israelenses se retirarão para a linha acordada a fim de se prepararem para a liberação dos reféns. Durante esse período, todas as operações militares, incluindo bombardeios aéreos e de artilharia, serão suspensas, e as linhas de combate permanecerão congeladas até que sejam cumpridas as condições para a retirada completa em etapas”, diz um dos pontos iniciais do acordo.
De acordo com o levantamento da BBC, com a retirada inicial apontada no mapa pela Casa Branca, cerca de 55% do território palestino permaneceria como área de operações israelenses — embora o texto também preveja a suspensão dos combates enquanto as condições para que a “retirada completa” sejam atendidas.
O marco seguinte a ser alcançado para um novo recuo militar israelense, segundo a proposta dos EUA, seria a implantação de uma Força Internacional de Estabilização temporária (ISF, na sigla em inglês) em Gaza, liderada por Washington e com a colaboração de “parceiros árabes e internacionais”. A força teria entre suas atribuições treinar e dar suporte “às forças policiais palestinas previamente avaliadas em Gaza”, e trabalhar com Israel e Egito para “ajudar a garantir a segurança das áreas de fronteira”.
O recuo deve ocorrer quando as forças “forem mobilizadas nos padrões do plano de Trump”. Ainda de acordo com a análise publicada pela BBC, cerca de 40% do território palestino continuaria ocupado por forças israelenses neste momento.
A terceira e última etapa de retirada apontada no mapa divulgado pela Casa Branca manteria uma área equivalente a 15% do território do enclave como uma “zona-tampão”, chamada no texto de “perímetro de segurança”, entre as fronteiras de Gaza com Israel e Egito. Os termos do acordo indicam que este recuo final vai ocorrer “progressivamente”, com o Exército de Israel entregando o controle das áreas à ISF.
O perímetro de segurança permanecerá “até que Gaza esteja devidamente protegida contra qualquer ameaça terrorista ressurgente”, diz um dos pontos da proposta americana, sem especificar quem irá ser o responsável por reavaliar o quadro de segurança.
Ao deixar a Casa Branca na manhã desta terça-feira, Trump afirmou que o Hamas tinha “três ou quatro dias” para responder à oferta de paz — que ganhou contornos de ultimato, com o presidente americano dizendo que endossaria qualquer ação de Israel se a atual negociação falhasse.