A lembrança mais marcante surgiu em um fim de noite, depois de um encontro. Suellen Carey, influenciadora trans de 39 anos que vive em Londres, saiu chorando para casa ao perceber que, embora houvesse interesse, a pessoa a via apenas como um fetiche. Essa experiência, repetida em outros momentos da vida, mostrou a ela que mudar o corpo não seria suficiente para alcançar aceitação.
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“Eu precisava cuidar da minha mente para não me perder em situações como aquela”, relembra. Não foi a primeira vez que a terapia apareceu como ponto de virada. Em 2023, já morando em Londres, Suellen viveu um casamento simbólico consigo mesma. No ano seguinte, anunciou o divórcio.
“Naquela época, eu me cobrava tanto ser perfeita que precisei da terapia para entender que amor-próprio não é cobrança. Foi esse processo que abriu espaço para que hoje eu consiga me relacionar com os outros de forma mais saudável.”
Aos poucos, ela compreendeu que a afirmação de identidade vai muito além de hormônios ou cirurgias. “Foi a terapia que me ajudou a enfrentar a transfobia e a lidar com as frustrações que surgem quando você percebe que não está sendo vista como alguém inteira”, afirma.
Durante anos, Suellen tentou se moldar ao que os outros esperavam dela. O impacto foi devastador. “Passei noites sem dormir tentando entender o que havia de errado comigo. A terapia me mostrou que o erro não era meu, mas do preconceito que insiste em atravessar nossas relações. Quando entendi isso, consegui parar de me culpar e comecei a olhar para mim com mais compaixão.”
O psicanalista Eduardo Omeltech, especialista em saúde mental, explica que esse tipo de experiência é comum.
“Muitas mulheres trans chegam à terapia relatando exatamente isso: a dificuldade de serem vistas de forma plena nos relacionamentos. A transfobia não está só na rua ou no trabalho, mas também nos vínculos afetivos, e pode ser ainda mais dolorosa nesses espaços. Elaborar essas vivências é fundamental para sustentar a autoestima e abrir espaço para relações mais saudáveis.”
Hoje, além de compartilhar reflexões sobre identidade e saúde mental nas redes sociais, Suellen conduz projetos voltados para bem-estar e participa de debates sobre representatividade trans no Reino Unido. Para ela, a autoaceitação foi decisiva para mudar a forma como enxerga a si mesma e seus relacionamentos.
“Aprendi que o preconceito vai continuar existindo, mas não vou deixar que ele dite quem eu sou ou como me relaciono. O que muda é a forma como eu escolho reagir. Já me divorciei de mim mesma, mas hoje vivo em paz com quem sou.”