O animador de festa preso na terça-feira (30), em Cascadura, na Zona Norte do Rio, por estupro de vulnerável apalpou as nádegas de uma menina de 11 anos em três oportunidades durante uma festa infantil realizada em dezembro do ano passado num salão em Bangu, na Zona Oeste do Rio. As informações constam na denúncia do Ministério Público à Justiça. A 1ª Vara Especializada em Crimes contra Crianças e Adolescentes da Comarca da Capital (Veca) transformou Fábio Luan Silveira Pio em réu e expediu um mandado de prisão preventiva contra ele, cumprido pela Delegacia Especializada em Crimes contra Criança e Adolescente.
- Pode ser russo desaparecido: Polícia encontra corpo de turista russo desaparecido há quase 4 meses no Rio
- Gari: profissional morre após ser atingido por disparo enquanto trabalhava em Duque de Caxias
A mãe da menina, que é advogada, conta que não pôde comparecer à festa devido a um compromisso de trabalho, mas permitiu que a filha fosse, sob responsabilidade de uma amiga de longa data. Durante o evento, a criança preferiu não revelar a ninguém o ocorrido. Já em casa, relatou para a avó e, no dia seguinte, para a mãe.
— Minha filha contou que tinha um animador de festa vestido de Homem-Aranha e que ele passou a mão no bumbum dela por três vezes em momentos distintos. Um foi quando ele estava passando por ela no meio do salão e encostou no bumbum dela e ele foi para outro setor do salão. Outro foi quando ela estava brincando na moto. Ele estava com o aniversariante no colo e passou a mão de uma forma já mais agressiva, porque pegou de baixo até em cima. Na terceira oportunidade, ela estava se deslocando de um brinquedo para outro, quando ele deu um tapa na bunda dela — detalha a mãe.
Em depoimento na delegacia, a vítima diz que, na primeira vez, chegou a pensar que o toque havia sido acidental. Em seguida, percebeu a “maldade” de Fábio e passou a evitá-lo.
— Ela já não quis mais brincar e preferiu ficar sentada à mesa — afirma a mãe. — Quando soube, a primeira sensação foi de impotência, por não ter podido protegê-la, e revolta, por saber que a minha filha estava ali sendo desejada por um adulto enquanto ela só queria ser criança e brincar, mas teve esse direito cerceado. Ela deixou de aproveitar a festa porque estava fugindo do animador, que era para estar ali divertindo as crianças. Hoje, com a prisão dele, eu me sinto mais aliviada, por saber que ele está impedido de fazer novas vítimas.
O passo seguinte após tomar conhecimento das violações foi procurar o Programa Empoderadas, iniciativa do Governo do Estado de combate à violência contra as mulheres. Desde então, o projeto tem prestado assistência social, jurídica e psicológica à família.
— Graças a esse acompanhamento, posso dizer que não tivemos grandes impactos na vida dela. Ela hoje tem uma insônia, que acreditamos que seja por conta do fato. Às vezes, ela acorda sonâmbula falando. E, às vezes, muitas das coisas que ocorreram — relata a mãe. — Por conta da minha profissão, eu sempre gostei de instruir a minha filha sobre tipos de comportamento a ser encarados com certos ou errados de alguém diante dela. Sempre tive conversas muito francas.
O animador se tornou réu ainda por armazenamento e compartilhamento de pornografia infantil. De acordo com as investigações, Fábio figura como receber de conteúdo envolvendo abuso e exploração sexual infantil no Facebook, por meio de dois grupos destinados à troca de materiais do gênero, os quais totalizavam 48 integrantes.
A Polícia Federal já havia recebido dois relatórios de uma organização dos Estados Unidos voltada ao combate a esse tipo de crime sobre atividades de Fábio relacionadas ao armazenamento, compartilhamento e produção de conteúdo de abuso infatojuvenil.
No dia 20 de março, após autorização da Justiça, aparelhos celulares do réu foram apreendidos. Em 12 de junho, o laudo técnico da perícia confirmou a presença de conteúdo pornográfico infantil, incluindo dezenas de fotos e vídeos.
— São cenas fortíssimas, de bebês sendo estuprados e meninas em torno de 6 anos com a vagina exposta, além de homens tocando essas vítimas — revela a advogada Quézia Cristina, do Programa Empoderadas, que defende a família.
Quézia destaca a importância de dar credibilidade ao relato da vítima:
— É fundamental que, mesmo sendo criança, a vítima seja ouvida com atenção. Se essa mãe desacreditasse da menina, certamente o abusador não seria preso. Ele tinha cerca de seis mil seguidores no Instagram, onde postava conteúdos de cosplay, e estava completamente imerso no universo da crianças. Então, a iniciativa dessa menina foi fundamental para evitar outras vítimas no futuro.
O suspeito foi encaminhado para a Secretaria estadual de Administração Penitenciária (Seap) e, até quinta-feira (02), deverá passar por uma audiência de custódia, que decidirá se ficará preso ou não.
O Programa Empoderadas, do Governo do Estado, oferece rede de apoio multidisciplinar e gratuita, voltada à prevenção e ao enfrentamento da violência contra meninas e mulheres, composta por:
- aulas técnicas para leitura corporal e desvencilhamento, realizadas em tatames e com a instrução de professoras especialistas em artes marciais;
- assistência e acolhimento nas áreas jurídica, social e psicológica;
- além de cursos profissionalizantes para combater a dependência financeira.
O projeto reafirma seu compromisso com a proteção integral de meninas e mulheres vítimas, e diz que continua acompanhando de perto os desdobramentos judiciais do caso.
— O caso é extremamente grave. E, mais uma vez, a escuta atenta da criança foi o que possibilitou que o processo não fosse silenciado. Precisamos confiar nos relatos infantis, dar nome aos fatos e garantir que a proteção da infância esteja acima de qualquer contrato informal ou fantasia — afirma Érica Paes, fundadora do programa.