Perder um celular no mar pode parecer o fim de uma viagem. Mas no Rio, histórias de objetos resgatados das profundezas se multiplicam graças a um mergulhador que transformou o hobby em missão. Bombeiro militar e formado em mergulho autônomo pelo Corpo de Bombeiros do Estado do Rio em 2023, Jonatas Souza diz ter se tornado pioneiro nesse tipo de busca nas praias da capital.
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— Eu acredito que seja pioneiro ao realizar esse tipo de busca aqui na praia de Copacabana e da Barra. Já cheguei até Mangaratiba em busca de bens que foram perdidos — conta ele.
O trabalho começou no último verão, quase por acaso, no tradicional evento “Nascer do Sol”, no posto 6, em Copacabana, onde centenas de pessoas vão assistir ao nascer do sol sobre pranchas de Stand Up Paddle. Entre o espetáculo e a euforia, muitos voltavam para casa mais leves — de celulares, câmeras e até óculos.
— Em sua maioria, eram celulares. Mas também já encontrei GoPro, óculos e diversos acessórios. Como a localização pelo iCloud ajudava, eu fazia buscas de uma hora e muitas vezes encontrava— relembra.
Nem sempre a tecnologia ajuda. Num dos casos mais marcantes, uma jovem desesperada implorou pela recuperação de um iPhone 13 Pro, perdido sem localização. A princípio, Souza recusou, certo de que seria como procurar agulha no palheiro. Mas mudou de ideia:
— Eu vi no olhar dela e dos amigos um olhar de tristeza. Me comovi. Fiz o primeiro mergulho e não encontrei, fiz o segundo e nada. No dia seguinte, mergulhei de novo e achei o celular ainda ligado. Foi gratificante demais.
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Em cerca de nove meses de buscas, ele já soma mais de 30 objetos resgatados. Alguns carregam valor material de até R$ 9 mil. Outros, um peso sentimental incalculável. Como o caso de uma turista britânica que recuperou, de surpresa, um aparelho perdido um mês antes.
Mergulhador resgata celulares, alianças e até memórias perdidas no mar carioca
Entre os mergulhos, Souza já encontrou dinheiro, correntes de ouro e óculos de todos os tipos. Mas a lembrança mais curiosa envolve uma GoPro perdida havia semanas.
— Quando eu liguei, tinha 1% de bateria. Coloquei dentro da roupa e continuei a busca. Ao sair do mar, senti algo pinicando no abdômen. Tirei a roupa rápido e era um filhotinho de polvo de uns 10 centímetros, que estava escondido dentro do tripé da câmera. Consegui devolver ele ao mar. Foi inusitado e engraçado — recorda, rindo.
Souza não cobra pelas buscas realizadas nas praias da Zona Sul, mas, em locais mais distantes, há uma taxa inicial. Caso encontre o objeto, o valor é de cerca de 30% sobre o bem resgatado.
— Eu percebo que quem perdeu já tem um prejuízo grande. Se eu não encontrar, não cobro nada. Encontrando, recebo uma parte. Mas, mais do que isso, a recompensa maior é ver a alegria da pessoa.
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Entre celulares de última geração e alianças, o mergulhador afirma que o maior tesouro não está nos objetos, mas nas histórias devolvidas.
— Você sair do mar com o celular de uma pessoa, com todas as fotos da viagem, com aquele valor emocional… é realmente gratificante. O prazer se torna exponencialmente maior porque faço algo que amo e ainda ajudo os outros.