BRcom - Agregador de Notícias
No Result
View All Result
No Result
View All Result
BRcom - Agregador de Notícias
No Result
View All Result

Rumo ao futuro, o reggae brasileiro reconhece a sua própria história e celebra Edson Gomes e Célia Sampaio

BRCOM by BRCOM
outubro 5, 2025
in News
0
A cantora maranhense de reggae Núbia — Foto: Divulgação/Danrlei Igor

Meio século após ter conquistado o mundo com seu balanço e suas mensagens de amor & luta, o jamaicano reggae está integrado ao Brasil. Ele dá régua e compasso a bandas de sucesso como Maneva e Onze:20; inspira canções de artistas famosos como Iza e MC Cabelinho (que acaba de lançar a faixa “Rastafári”); movimenta a cena nos grandes festivais; tem sua cota de atrações internacionais circulando no país (Groundation, Mike Love, Sister Nancy e os lendários Wailers de Bob Marley só neste segundo semestre de 2025); e está vivendo um caso clássico da história da música, o reconhecimento tardio de pioneiros do estilo.

Baiano que estreou em 1988 com o LP “Reggae resistência”, Edson Gomes chega aos 70 anos de idade festejado pela juventude e requisitado como nunca. Dia 19, estará no Rio, no festival Clássicos do Brasil, na Marina da Glória, num dia de reggae ao lado de Maneva, Armandinho e Ponto de Equilíbrio. Em 29 de novembro, baixa no Festival República do Reggae, repleto de atrações internacionais, em Salvador. E brilha, em março, no paulistano Lollapalooza.

  • Ranking lista as 100 maiores músicas brasileiras: Monte seu top 10
  • Tiny Desk: A experiência da ‘música como ela é’ ganha versão brasileira

Em dezembro, Edson vai a Belém para o festival Psica, onde encontra outra figura histórica do estilo no Brasil: a cantora maranhense Célia Sampaio, de 61 anos, a Dama do Reggae. Atração em agosto do Afropunk Experience Maranhão, em São Luís, ela teve sua grande exposição mês passado, em São Paulo, no festival The Town, quando foi a convidada de honra de Iza para o seu show. Ativista cultural, Célia lançou em março o EP “Eparrey”, em que seguiu suas fusões do reggae com a música brasileira dedicada aos orixás.

Idolatrado por nomes atuais da música brasileira (em especial, a estrela do piseiro João Gomes, com o qual não tem parentesco), Edson exalava felicidade em entrevista por telefone de São Félix, onde mora, no Recôncavo Baiano.

— Depois de muito tempo, de muita labuta, de muita estrada, estamos colhendo os frutos. Não sei como aconteceu, só sei que está acontecendo — diz. — A demanda aumentou bastante, e na verdade está muito cansativo. Tô fazendo show sexta, sábado, domingo. Tá pau-viola.

Na juventude, Edson se dividia entre as canções de Tim Maia (que cantava muito em Cachoeira, cidade do Recôncavo onde nasceu) e as ideias de protesto inspiradas por ativistas negros americanos (usava até um cabelo black power). Em 1983, quando instintivamente já havia trocado o black por tranças rastafári, conheceu a música de Bob Marley e tudo mudou.

— Sempre tive a ideia de fazer letras que falassem do dos problemas da raça, dos problemas do dia a dia, mas não tinha um estilo definido. Depois que conheci o reggae, encontrei o veículo certo para levar a minha mensagem — diz o cantor, que foi apresentado ao reggae por Nengo Vieira, seu baixista na época. — Ele ouvia Bob Marley o dia todo, fui forçado a ouvir também. O idioma era uma barreira, até hoje não sei inglês, mas sentia a música. Eu sabia que era de sentimento, de lamento, de protesto.

Edson conta que sua música em “Reggae resistência” tem muito a ver com Bob Marley porque era Nengo Vieira que fazia os arranjos:

— Mas, a partir do terceiro disco, quando aprendi a fazer os arranjos, meu reggae não teve mais nada de Bob Marley. Eu não pesquiso, aprendi a fazer da minha maneira.

O cantor avisa logo que sua música não tem afinidades com a de Gilberto Gil (“que não se sustentou no reggae”) ou a d’Os Paralamas do Sucesso. Talvez um pouco com a do Cidade Negra (“mas meio distante, porque não é o reggae engajado”). Em sua visão, só ele e a histórica banda maranhense Tribo de Jah fazem reggae realmente brasileiro (“os outros têm um olhar muito jamaicano”):

— Sustentei até hoje o reggae, esse reggae de resistência e de luta, mas com um diferencial, que não é uma coisa pescada na Jamaica.

Com sucessos de álbuns lançados entre 1988 e 1997, como “Campo de batalha”, “Malandrinha”, “Samarina”, “Recôncavo”, “Serpente” e “Fala só de amor”, Edson faz a festa em seus shows.

— Se eu quisesse nem cantaria. A galera canta tudo. No momento não estou nem compondo, porque meu arquivo é vasto. Estou pensando em um novo disco, e a dificuldade é grande em selecionar o repertório, tem muita coisa inédita que nós já largamos ao vivo — diz.

Assim como Edson Gomes, Célia Sampaio se sente colhendo os frutos do que plantou décadas atrás. Mas o reconhecimento no show de Iza, no The Town, ainda parece ser uma ficha que não caiu.

— Já conhecia o trabalho dela, como uma mulher negra e representante dessa nossa nação. A produção dela conversou comigo sobre essa questão da bênção, e num primeiro momento achei que era uma brincadeira, ou que eles estavam procurando por outra pessoa — admite. — Mas aí a Iza contou toda a história e falou que estava já há um tempo pesquisando sobre África para um trabalho mais voltado para ancestralidade, e que minha história de pioneirismo entre as mulheres no reggae tinha tudo a ver com o que ela ia fazer.

O reggae chegou na vida de Célia Sampaio como uma educação:

— Foi com ele que conheci a África, a minha história enquanto negra nesse país. E tem a questão de como o reggae é conduzido na minha cidade, do que significa para a periferia, para o povo preto — diz a cantora, que começou sua vida artística no Centro de Cultura Negra do Maranhão. — Em São Luís já tem mais de 50 anos que a gente ouve a música jamaicana direto, junto com o bumba meu boi e o tambor de crioula. No fim dos anos 1980 para os 90, quem tinha salão de reggae ganhou muito dinheiro. Tinha programa de reggae em tudo quanto era emissora.

Pela dificuldade de entender as letras em inglês das músicas que vinham da Jamaica, ela diz que a comunicação com o reggae em São Luís se deu pela expressão da dança. Só depois vieram as bandas, como a Tribo de Jah (em 1986) e a Guetos (fundada em 1993), em que foi cantora.

— Quando começamos a criar nossa música, já tínhamos até mais de 20 anos de paredão, de radiola, de DJs, de colecionadores de discos e da dança. Nos programas daqui de reggae, era muito difícil ver produções nacionais — conta Célia. — Só que, para criar a minha própria história, tive de ouvir e estudar o reggae brasileiro. Ouvi Edson Gomes, Cidade Negra, Celso Moretti (pioneiro do reggae de Minas Gerais), tive que começar com os homens. Ouvia também Rita Marley, Marcia Griffiths, Judy Mowatt, Sonia Spence, Hortense Ellis, que são cantoras jamaicanas, mas não tinha referência feminina brasileira.

Em 2000, Célia lançou seu primeiro álbum solo, “Diferente”. E ganhou do DJ (e personalidade do reggae de São Luís) Ademar Danilo o título de Dama do Reggae.

— Me incomodou num primeiro momento, mas entendi que tinha uma bandeira a levantar, abrindo caminho para outras mulheres. Só tinha eu no meio de um monte de bandas e cantores homens — lembra Célia. — Fiquei muito tempo sozinha na cena, as pessoas não acreditavam em mim. Eu chegava e o pessoal dizia: “Cadê sua banda?” E, pelo fato de não dominar a língua inglesa, nunca quis cantar covers, o que poderia ter ajudado.

A cantora maranhense de reggae Núbia — Foto: Divulgação/Danrlei Igor

Hoje, o reggae brasileiro tem outras cantoras, como Núbia, de 30 anos. Também de São Luís e próxima a Célia, ela tem dez anos de carreira e estreou em álbum no ano passado, com “Sabores”. Com composições suas, como “Andamento” e “Cartas a uma negra” (dueto com Célia), o disco recebeu duas indicações na categoria reggae para o Prêmio BTG Pactual da Música Brasileira 2025.

— Célia abriu muitos caminhos. A gente se encontra, conversa, e ela está sempre contando coisas que aconteceram com ela e que se repetem. Quando concorri ao prêmio, Célia lembrou de quando concorreu a um voltado para o reggae e, assim como eu, era a única mulher preta entre um monte de homens, alguns até brancos — diz Núbia.

Com mais mulheres no reggae brasileiro, como cantoras de sucesso (caso da mato-grossense Marina Peralta e da piauiense Jamila Jah) ou à frente de coletivos e soundsystems, Núbia vê — mesmo que com ressalvas — um momento bom para o estilo, em geral, no país.

— Tem rolado um fortalecimento da cadeia produtiva, a gente tem visto artistas de outros gêneros e de outra magnitude, do mainstream, começando a trabalhar com ou voltando ao reggae. Isso está acontecendo não só no país, mas no mundo todo — observa ela. — É positivo. Só acho que tem que se ter cuidado com a forma como vai reverberar. Tem que se ter um certo olhar para quem já vem fazendo reggae há muito tempo, para que isso não se torne só um oba-oba e acabe invisibilizando quem vive do reggae. A gente sabe que, infelizmente, esse é um ritmo historicamente marginalizado, que sofreu muito e até hoje ainda sofre. Mesmo aqui em São Luís, na Jamaica brasileira.

Conteúdo:

Toggle
  • Como o Brasil se aproximou da Jamaica
      • Rumo ao futuro, o reggae brasileiro reconhece a sua própria história e celebra Edson Gomes e Célia Sampaio

Como o Brasil se aproximou da Jamaica

A capa do disco'Transa', de Caetano Veloso, ícone do movimento tropicalista — Foto: Reprodução
A capa do disco ‘Transa’, de Caetano Veloso, ícone do movimento tropicalista — Foto: Reprodução

Primeiros exemplares. Se o jamaicano Jimmy Cliff apresentou o reggae ao Brasil oficialmente (mas ainda na forma de um rock steady) ao cantar “Waterfall” no Festival Internacional da Canção de 1968, ainda demoraria um pouco até a semente frutificar por aqui. Em 1972, em Londres, foi gestado o primeiro exemplar brasileiro do estilo: “Nine out of ten”, faixa de “Transa”, LP que Caetano Veloso gravou no exílio. Diretor musical de “Transa”, Jards Macalé retomaria o reggae em “Negra melodia”, faixa de seu LP “Contrastes”, de 1977.

O cantor Gilberto Gil, em 1979 — Foto: Raimundo Silva
O cantor Gilberto Gil, em 1979 — Foto: Raimundo Silva

Consolidação. Um dos artistas que mais gravariam reggaes no Brasil, Gilberto Gil começou suas investidas em 1979 com “Não chore mais”, bem-sucedida versão de “No woman, no cry”, hit de Bob Marley. Logo, o estilo estaria espalhado por faixas da MPB, como “Só” (Luiz Melodia), “Noite do prazer” (Brylho), “Go back” (Titãs), “Vamos fugir” (de Gil, gravado na Jamaica com os Wailers, banda de Bob Marley) e em um disco inteiro, “Selvagem?” (1986), dos Paralamas do Sucesso, dos hits “Melô do marinheiro” e “Você” (recriação de antigo sucesso de Tim Maia).

O grupo Cidade Negra, em 1994 — Foto: Paula Johas
O grupo Cidade Negra, em 1994 — Foto: Paula Johas

Difusão. A partir dos anos 1980, o reggae se espalha pelo Brasil. Em Pernambuco, destaca-se o grupo Karetas. No Maranhão, a Tribo de Jah. Na Bahia, junto com Gil e todo o movimento de blocos de samba-reggae, vem Edson Gomes, com um forte disco de estreia, “Reggae resistência” (1988). Nos anos 1990, os mineiros do Skank , os brasilienses do Natiruts e o Cidade Negra, da Baixada Fluminense, abririam as portas das rádios para o estilo jamaicano, que entraria ainda na mistura de muitos outros artistas brasileiros de sucesso da década, como O Rappa, Charlie Brown Jr. e Raimundos.

O grupo Maneva — Foto: Divulgação
O grupo Maneva — Foto: Divulgação

Anos 2000. No começo do novo milênio, o Brasil teve artistas de muito sucesso no reggae, em diversas vertentes, das mais roots às mais pop: Planta e Raiz (São Paulo), Armandinho e Chimarruts (Rio Grande do Sul), Ponto de Equilíbrio (Rio de Janeiro), Adão Negro (Salvador) e Maskavo (Brasília). Foram tempos também em que a pioneira maranhense Célia Sampaio enfim se consagrou como a Dama do Reggae. A cena se fortaleceu e, nos últimos anos, aumentou sua diversidade musical com a chegada de nomes como Maneva, Onze:20, Braza, Gabriel Elias, Filosofia Reggae (grupo feminino) e Dasplanta.

Rumo ao futuro, o reggae brasileiro reconhece a sua própria história e celebra Edson Gomes e Célia Sampaio

Previous Post

como pensa a massa de eleitores que rechaça a polarização e pode decidir as eleições em 2026

Next Post

Juliette Binoche conta como seu primeiro filme surgiu por sugestão de Robert Redford, morto no mês passado

Next Post
Cena de "In-I in Motion" — Foto: Divulgação

Juliette Binoche conta como seu primeiro filme surgiu por sugestão de Robert Redford, morto no mês passado

  • #55 (sem título)
  • New Links
  • newlinks

© 2025 JNews - Premium WordPress news & magazine theme by Jegtheme.

No Result
View All Result
  • #55 (sem título)
  • New Links
  • newlinks

© 2025 JNews - Premium WordPress news & magazine theme by Jegtheme.