Com a guerra na Faixa de Gaza completando dois anos, delegações de Israel e Hamas retomaram negociações indiretas no Egito nesta terça-feira, à medida que homenagens eram prestadas no Estado judeu aos mortos no atentado de 7 de outubro, e o enclave palestino era alvo de novos ataques aéreos. A mediação egípcia afirmou que as equipes trabalham atualmente para estabelecer um mecanismo de segurança para a retirada das tropas israelenses de Gaza.
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As negociações indiretas começaram na segunda-feira na cidade turística de Sharm el-Sheikh, no Golfo de Aqba, sob forte esquema de segurança. Mediadores de Egito e Catar atuam para facilitar o diálogo entre as partes rivais, enquanto esperam a chegada da delegação americana na quarta-feira, liderada pelo enviado especial do presidente Donald Trump, Steve Witkoff.
O Ministério das Relações Exteriores egípcio indicou que as conversas foram retomadas ao meio-dia (06h em Brasília). As delegações devem ter como foco neste momento discutir a garantia de acesso irrestrito à ajuda humanitária por meio dos canais da ONU — algo que não ocorre desde que a distribuição de itens essenciais foi centralizada na criticada Fundação Humanitária de Gaza (GHF, na sigla em inglês) —, bem como no mecanismo de segurança para retirada das tropas israelenses, algo que foi mencionado no plano apresentado por Trump na Casa Branca, mas que não definiu uma estrutura específica.
O primeiro dia de negociações terminou com uma avaliação positiva, de acordo com interlocutores do lado palestino ouvidos pela imprensa internacional. O porta-voz do Hamas Fawzi Barhum afirmou que a delegação do movimento “tenta superar todos os obstáculos para alcançar um acordo que atenda às aspirações do nosso povo em Gaza” — palestinos revelaram temores de que o grupo priorizasse só seus interesses ao negociar.
Uma fonte palestina familiarizada com as negociações afirmou à rede britância BBC que se alcançou um entendimento entre mediadores e as partes sobre a agenda e os mecanismos para as negociações em andamento. As discussões, segundo afirmou, seguiriam uma estrutura de cinco pontos, abrangendo o fim da guerra, a troca de prisioneiros e reféns, a retirada israelense, a assistência humanitária e a governança pós-guerra.
Enquanto os esforços diplomáticos tentam por fim a um conflito que deixou mais de 67 mil mortos em Gaza, e 1,2 mil apenas no primeiro dia de ataque contra Israel, declarações marcando o segundo ano do conflito se multiplicaram pelo mundo. Enquanto a maioria dos líderes mundiais pediram por um fim do conflito, o Hamas defendeu o ataque lançado contra o Estado judeu, que vitimou, em sua maioria, civis.
— Reafirmamos que o Dilúvio de Al Aqsa de 7 de outubro foi uma resposta histórica às tentativas de erradicar a causa palestina — disse Barhum, em um discurso televisionado.
Em um comunicado, o grupo descreveu os meses desde o ataque de 7 de outubro como “dois anos de dor, injustiça, opressão e grande sofrimento, com custos elevados”, e denunciou o que chamou de “vergonhoso silêncio internacional” e um “abandono sem precedentes” dos países árabes.
Aliados históricos da causa palestina, países da região, como Arábia Saudita, Catar e Egito não se envolveram diretamente na guerra contra Israel após a ofensiva lançada pelo Hamas, que contou apenas com grupos ligados ao Eixo da Resistência, liderado pelo Irã, no apoio armado. Os países árabes também demonstraram um apoio massivo aos termos apresentados por Trump, com a concordância do premier israelense, Benjamin Netanyahu, que condiciona o fim da guerra em Gaza ao desarmamento e desarticulação política do Hamas. (Com AFP)