Uma das espécies invasoras mais agressivas do mundo, o caranguejo-verde europeu chegou à Costa Leste dos Estados Unidos, provocando preocupação entre ambientalistas e setores econômicos ligados ao mar. O pequeno predador já foi identificado em praias e baías entre os estados de Maine e Delaware e ameaça tanto a biodiversidade local quanto negócios ligados à pesca e aquicultura.
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Diante do avanço do crustáceo, especialistas sugerem uma forma inusitada (e saborosa) de enfrentamento: colocá-lo no cardápio. Restaurantes na região do Long Island Sound, entre Nova York e Connecticut, já começaram a transformar o animal em ingrediente de pratos como caldos, molhos, curry e até versões fermentadas.
O caranguejo-verde é considerado um predador voraz. De acordo com a Fundação One Fish, pode consumir até 40 mexilhões por dia e chegar a botar 165 mil ovos por ano. Além disso, alimenta-se de espécies valiosas, como o salmão juvenil e o caranguejo-real.
A Administração Nacional Oceânica e Atmosférica dos EUA (NOAA, na sigla em inglês) alerta que a presença do caranguejo-verde pode colocar em risco indústrias pesqueiras bilionárias, como a do Alasca. Agora, o impacto também passa a ser monitorado no litoral leste do país.
— Felizmente, o caranguejo-verde é uma opção sustentável de frutos do mar e tem aparecido com frequência cada vez maior em cardápios nos Estados Unidos — disse Mary Parks, diretora-executiva da organização GreenCrab.org, ao jornal Hartford Courant.
Segundo ela, o crustáceo pode ser servido em diferentes formas: com casca mole, fermentado, em sopas ou caldos, e até mesmo com as ovas retiradas manualmente. O chef Zach Redin, que comanda o mercado de frutos do mar itinerante To The Gills, passou a utilizar o caranguejo-verde neste ano e defende seu uso culinário.
— Quando você prepara um caldo com o caranguejo-verde, ele começa acinzentado e turvo, mas logo adquire uma coloração verde-escura. O sabor é intenso e marcante. Dá para fazer com outros caranguejos, como o azul, mas o gosto não é o mesmo — afirma Redin.
Apesar de o crustáceo ter pouca carne — por ser muito pequeno —, ele se mostra valioso na elaboração de caldos, molhos e até óleos aromatizados. O chef acredita que, com maior divulgação, o caranguejo-verde poderá ocupar mais espaço nos restaurantes americanos.
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Mesmo com o potencial gastronômico, os especialistas alertam que os riscos ambientais permanecem. O caranguejo-verde se adapta com facilidade a diversos tipos de habitat, incluindo costões rochosos, praias pedregosas e áreas de mangue. É capaz de sobreviver em diferentes níveis de salinidade e temperatura, o que facilita sua propagação.
Identificá-lo, no entanto, não é tarefa simples: apesar do nome, sua coloração pode variar entre verde-escuro, marrom e até tons de laranja e vermelho durante o processo de muda. A principal característica visual são cinco espinhos de cada lado, logo atrás dos olhos.
A chegada do caranguejo-verde à América do Norte data do século XIX. O primeiro registro oficial foi feito em 1817, e acredita-se que ele tenha sido transportado da Europa por navios mercantes. Atualmente, além das costas americana e canadense, também foi encontrado na Argentina, Austrália, Japão e África do Sul.