Mediadores árabes que participam das negociações sobre um plano de paz para em Gaza revelaram que o Hamas estaria disposto a um desarmamento parcial para fechar um acordo, afirmou o jornal The New York Times, em uma concessão importante desde o início do diálogo. No terceiro dia das conversas no Egito, o Hamas apresentou a lista de prisioneiros que deverão ser libertados e concordou em retornar todos os reféns vivos em uma só etapa, mas sinalizou a Israel que o retorno dos restos mortais dos que morreram em cativeiro pode ser impossível. Em uma declaração de confiança, o presidente dos EUA e maior patrocinador da iniciativa, Donald Trump, disse que poderá viajar ao Oriente Médio no fim de semana.
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De acordo com duas pessoas próximas aos negociadores, que falaram ao New York Times em condição de anonimato, a principal condição para que algumas armas sejam entregues seria uma garantia de segurança, dada por Trump, de que Israel não retomará a guerra. Pelo plano do presidente americano, o grupo deveria entregar todos seus armamentos e não participar de uma futura administração do enclave, mas suas lideranças disseram que isso está fora de cogitação.
— O Hamas pode estar disposto a abrir mão de algumas armas, mas não ficará sem elas completamente —disse ao The Times o oficial aposentado da inteligência israelense Adi Rotem, que participou de negociações com o grupo palestino até 2024. — As armas são uma parte essencial do DNA do Hamas.
As fontes ouvidas pelo jornal americano não detalharam o tipo das armas que o Hamas estaria disposto a manter em seu poder, mas sugeriram que seriam itens como pistolas e rifles para proteção de seus membros contra futuras represálias internas. O grupo não se pronunciou sobre a alegação.
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Nesta quarta-feira, as negociações sobre o plano apresentado por Trump entraram em seu terceiro dia, com sinais de avanços importantes — como a questão das armas — e passos concretos, como a entrega da lista de prisioneiros que devem ser libertados de prisões israelenses como parte do acordo. Ao todo, são 250 pessoas condenadas à prisão perpétua e outras 1,7 mil detidas em Gaza desde outubro de 2023. Como esperado, os dois lados, que conversam de forma indireta através da mediação de Catar, Egito e EUA, discutem apenas a primeira fase do plano, voltada à interrupção dos combates, e não tratam das etapas seguintes, sobre o futuro de Gaza.
Segundo a agência Reuters, os nomes de Marwan Barghouti, um líder histórico do Fatah (que controla a Autoridade Nacional Palestina), e de Ahmad Sa’adat, chefe da Frente Popular pela Libertação da Palestina, ambos presos desde 2002, foram incluídos na lista, mas dificilmente devem ser libertados por Israel.
— Estamos muito perto de um acordo, o que ainda está pendente é a lista de prisioneiros (a serem) trocados — disse uma fonte do Hamas à rede americana CNN.
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Por outro lado, fontes israelenses próximas às conversas indicaram à CNN que o Hamas pode não ser capaz de cumprir um dos pontos do plano: a entrega dos restos mortais de todos 28 reféns que morreram após sua captura em outubro de 2023, quando o grupo atacou Israel, deixando quase 1,2 mil mortos e dando início à guerra.
Segundo a CNN, o grupo não sabe onde estão os corpos de ao menos 15 dos reféns — alguns estariam enterrados sob toneladas de concreto em prédios ou túneis destruídos pelos bombardeios. Há ao menos 20 reféns vivos em cativeiro, que devem retornar a Israel assim que um acordo for firmado, e o grupo afirmou nesta quarta-feira à rede al-Jazeera que eles voltarão em uma só etapa.
— Desde o início, eles (o Hamas) não tiveram controle sobre todos os reféns — afirmou à CNN Barbara Leaf, que trabalhou no Departamento de Estado no governo de Joe Biden, lembrando que alguns dos capturados ficaram sob poder de grupos aliados ao Hamas, como a Jihad Islâmica. — É muito mais provável que eles consigam recuperar todos os reféns vivos.
Não se sabe até que ponto essa revelação poderá impactar as conversas, diante da pressão enfrentada pelo premier Benjamin Netanyahu para trazer de volta todos os reféns — vivos ou mortos — em Gaza. Analistas veem a possibilidade do premier usar esse argumento para afundar o plano e retomar sua guerra em Gaza, embora a pressão da Casa Branca por um acerto seja a mais intensa já enfrentada por ele desde outubro de 2023.
Nesta quarta-feira, Trump voltou a expressar confiança no sucesso das conversas, e sugeriu que poderá ir ao Oriente Médio no fim de semana.
— Eles estão indo muito bem. Temos uma ótima equipe lá, ótimos negociadores, e eles, infelizmente, também são ótimos negociadores do outro lado — disse Trump na Casa Branca, em uma referência aos negociadores do Hamas. — É algo que eu acho que vai acontecer, tem uma boa chance de acontecer. Talvez eu vá lá em algum momento no final da semana, talvez no domingo. Há uma grande chance de que as negociações estejam indo muito bem.
As conversas estão sendo realizadas no balneário de Sharm el-Sheikh, no Egito, onde estão os dois principais representantes da Casa Branca, o negociador Steve Witkoff e o genro de Trump, Jared Kushner, que no passado sugeriu a criação de uma “Riviera” em Gaza. Algumas fontes acreditam que um acerto poderá ser obtido em até 48 horas, mas nem o presidente nem seu secretário de Estado, Marco Rubio, detalharam a possível viagem.
— O presidente terá que tomar essa decisão, mas prevejo que ele estaria interessado em fazê-lo, se o momento for favorável. Como eu disse, houve um bom progresso hoje, os eventos estão caminhando em uma boa direção, mas ainda há trabalho a ser feito — disse Rubio a jornalistas no Capitólio.