Você já acordou depois de uma noite mal dormida, olhou no espelho e pensou: “Estou com cara de cansado”? Você não está imaginando isso. Sou neurologista especializada em medicina do sono. E, embora o “sono da beleza” possa soar como um conto de fadas, um número crescente de pesquisas confirma que o sono influencia diretamente na aparência da nossa pele, o quão jovem ela parece e até o quanto as outras pessoas nos percebem como atraentes.
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O sono não é somente um momento de pausa. O corpo passa por diferentes estágios e cada um cumpre funções restauradoras específicas. O sono profundo, também conhecido como sono de ondas lentas, é a principal fase em que o corpo prioriza a reparação dos tecidos, a recuperação muscular e a produção de colágeno.
É durante esse estágio que ocorre a liberação do hormônio do crescimento, com a maior parte dessa secreção diária acontecendo no início da noite. Esse hormônio impulsiona os processos de reparo e reconstrução do corpo, ajudando na cicatrização dos tecidos, na restauração dos músculos e no aumento da produção de colágeno, proteína responsável por manter a pele firme e elástica.
O sono de ondas lentas também cria um ambiente hormonal único, benéfico para a pele. O cortisol, principal hormônio do estresse, atinge seu nível mais baixo durante essa fase. A redução do cortisol protege o colágeno, diminui a inflamação e fortalece a barreira cutânea. Ao mesmo tempo, níveis mais altos de hormônio do crescimento e prolactina, um hormônio que ajuda a regular o sistema imunológico e o crescimento celular, aprimoram a função imunológica e a reparação dos tecidos, auxiliando a pele a se recuperar dos estressores diários.
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A conexão entre a pele e o sono
A pele é o maior órgão do corpo humano e trabalha intensamente enquanto dormimos. Um sono adequado promove a hidratação e o bom funcionamento da barreira cutânea, ajudando a pele a manter a umidade e a resistir à irritação. Já a privação de sono aumenta a perda de água pela pele, deixando-a mais seca, vulnerável a danos e aos sinais visíveis do envelhecimento.
O sono também desempenha um papel importante na acne, condição comum que afeta pessoas de todas as idades. Dormir mal pode elevar os níveis de inflamação e de hormônios do estresse, como o cortisol, fatores que tendem a agravar as erupções. Por outro lado, um sono consistente e restaurador favorece a capacidade da pele de regular a produção de óleo e se recuperar de irritações.
A reparação do colágeno e a elasticidade também dependem fortemente de um descanso adequado. Em um estudo, a restrição de sono a apenas três horas por noite, durante duas noites consecutivas, reduziu a elasticidade da pele e tornou as rugas mais visíveis.
A deficiência crônica de sono, conhecida na medicina do sono como síndrome do sono insuficiente, se refere a dormir menos de sete horas por noite por pelo menos três meses, acompanhada de fadiga diurna ou prejuízo funcional. Esse quadro prejudica a produção de colágeno, enfraquece a barreira cutânea e alimenta uma inflamação de baixo grau que compromete os processos de cicatrização.
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Estudos mostram que as alterações hormonais causadas pela falta de sono elevam o cortisol e aceleram o estresse oxidativo, um desequilíbrio entre as moléculas que danificam as células e as defesas do corpo, ao mesmo tempo em que prejudicam os mecanismos que mantêm a pele resistente. Com o tempo, essas mudanças aceleram o envelhecimento biológico e reduzem a capacidade do organismo de lidar com os estressores diários.
Seu rosto conta a história
A falta de sono não afeta apenas o funcionamento da pele, mas também muda a forma como o rosto é percebido pelos outros. Estudos controlados mostram que, mesmo após algumas noites de sono reduzido, as pessoas tendem a ser avaliadas como menos atraentes, menos saudáveis e mais cansadas. Os sinais mais comuns incluem pele mais pálida, olheiras escuras, olhos vermelhos ou inchados, pálpebras caídas e cantos da boca voltados para baixo.
Esses sinais são sutis, mas têm impacto social significativo. Observadores tendem a evitar interações com pessoas que parecem privadas de sono. O sono também influencia a empatia e a percepção estética, ou seja, quem está bem descansado tende a ver os outros de forma mais positiva e, em troca, é visto de forma mais positiva também. Esse efeito recíproco pode ajudar a explicar por que entrevistadores, parceiros em encontros ou até amigos reagem de maneira mais favorável a um rosto bem descansado.
O sono afeta até a maneira como nos vemos. Pessoas que dormem mal costumam relatar menor satisfação com a própria aparência.
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Cuidar do sono é cuidar de você
Priorizar o sono é uma forma poderosa e acessível de cuidar da aparência e da saúde geral. Então, da próxima vez que pensar em trocar algumas horas de descanso por mais trabalho ou entretenimento, lembre-se: sua pele, sua saúde e até sua presença social vão agradecer por essas horas a mais de sono.
* Joanna Fong-Isariyawongse é professora associada de neurologia na Universidade de Pittsburgh.
* Este artigo foi republicado de The Conversation sob licença Creative Commons. Leia o original.