Depois de nove anos longe dos palcos, Juliano Cazarré volta ao teatro com seu primeiro monólogo, “Compliance”, escrito e dirigido por Fernando Ceylão, que estreia nesta sexta (10) no Teatro Prio, no Rio de Janeiro. Na trama, um executivo, que também atua como coach de empreendedorismo e finanças nas redes sociais, perde a cabeça ao se sentir perseguido pelo novo chefe, que descobre ser um antigo colega de escola com quem havia praticado bullying. Depois de tomar uma atitude extrema, ele abre uma transmissão ao vivo contando tudo aos seguidores.
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Em seu retorno ao teatro — Fernando também estava há oito anos focado em projetos audiovisuais — a dupla pretendia adaptar uma peça irlandesa, mas a dificuldade de encontrar uma atriz com agenda compatível os levou a um monólogo. Escrito em poucos dias, o texto misturou inquietações do passado e do presente.
— Parte da ideia, relacionada ao bullying, estava na minha mente desde a adolescência. Outra veio dessa onda de coaches que vendem formas de ganhar dinheiro fácil na internet, mas que geralmente nunca têm nada a ensinar. Além disso, o capitalismo e as questões trabalhistas, como o assédio moral, são um grande guarda-chuva — explica o diretor, que se inspirou no papel de Tom Cruise no filme “Magnólia” (1999) e em figuras como Pablo Marçal para escrever o protagonista.
Em um cenário composto apenas de ring lights — que viram portas, elevadores e sensores de descarga — o personagem principal, Fabrício, conta em tom confessional como chegou ao extremo de sua raiva contra o chefe, Bruno. A partir da vingança, o espetáculo abre margem para refletir sobre meritocracia e masculinidade tóxica, mas não se apega à discussão moral. Tanto o protagonista como seu antagonista têm atitudes cruéis, violentas — e até criminosas. No final, cabe ao público decidir quem é o verdadeiro vilão, se é que há um.
— A peça usa o bullying e outros temas atuais como pano de fundo para um drama humano, de um cara que não entende porque as coisas não dão certo em sua vida. Acredito que o público vai ficar grudado na cadeira tentando entender o que de fato aconteceu, vai rir, porque também tratamos disso com certo humor, e se surpreender — diz o ator.
Sozinho em cena pela primeira vez, depois de tantos anos longe do teatro, Cazarré celebra o reencontro com os palcos, apesar das dificuldades comuns aos monólogos.
— É mais difícil manter o ritmo e a energia, porque tudo depende de mim, mas estou gostando de poder pensar em cada gesto. O teatro é muito mais detalhista, tudo é intencional. Atuamos com o corpo inteiro, do fio do cabelo até a ponta do pé. Estou me perguntando como foi que consegui ficar tanto tempo longe, e já prometendo para mim mesmo que isso nunca mais vai acontecer — conta.
Prestes a estrear em “Três Graças”, próxima novela das nove da TV Globo, o ator interpretará Jorginho, um ex-chefe de facção criminosa que se converte ao cristianismo na cadeia e vira evangélico. Pai da adolescente Joélly (Alana Cabral), fruto de um relacionamento com a heroína da história, Gerluce (Sophie Charlotte), o personagem busca se redimir por ter sido um pai ausente.
Convertido ao catolicismo desde 2019, o artista espera que a produção ajude a desmistificar a religião.
— Quero interpretar ele da forma mais honrada que eu puder, fazer um evangélico para além da caricatura. No Brasil, muitas vezes a própria arte retrata católicos e evangélicos de forma muito careta, beata. Vai ser interessante mostrar, e faço muito isso na minha vida, que o cristão é um cara que está no mundo, que ri, conta piada, se diverte, vai para o trabalho, cuida da família, que tem uma vida normal.
Na trama, Jorginho encontrará a religião como refúgio em meio a uma doença enfrentada no cárcere. Quem o apresenta ao cristianismo é o pastor Albérico (Enrique Diaz), viúvo e pai de Kellen Cristina (Luiza Rosa), jovem, também evangélica, que é muito amiga de Joélly. A novela estreia no próximo dia 20.
- Onde: Teatro Prio, Lagoa.
- Quando: 10 de outubro a 2 de novembro.
- Que horas: sex e sáb, às 20h. Dom, às 19h.
- Quanto: R$ 120.
- Classificação: 14 anos.