Com um gerador de vídeos por inteligência artificial e uma rede social ao estilo TikTok, a OpenAI tenta repetir o feito de emplacar, pela segunda vez, uma IA entre os aplicativos mais acessados do mundo. A nova investida responde pelo nome de Sora, palavra japonesa para “céu”.
Ainda restrito aos EUA e ao Canadá, e só acessível por convite, o app chegou a 1 milhão de downloads em cinco dias — ritmo mais rápido que o do ChatGPT após o lançamento. Na mesma velocidade, a ferramenta também inundou as redes com uma nova safra de vídeos de IA, marcados por uma marca d’água que entrega a origem.
Criar um vídeo já era simples na versão anterior do Sora via web. Agora, a atualização aprimora a coerência das imagens e a relação com som, entre outros avanços. Usar o próprio rosto para criar também é mais simples (e realista).
Por enquanto, a maior parte do conteúdo fica entre memes, experimentos visuais e paródias de humor. Mas não demorou muito até que o movimento reacendesse o debate sobre os limites éticos que a ferramenta cruza – e o quanto a OpenAI parece disposta a cruzar essas linhas.
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Abaixo, entenda como funciona o app do Sora e também o barulho (e as críticas) após a atualização. Para fechar, um mini guia sobre quem é quem no universo competitivo das IAs que geram e editam vídeos.
Para quem não tinha ouvido falar do Sora antes, vale lembrar que a OpenAI testa o modelo há algum tempo. A primeira apresentação dele foi feita em fevereiro de 2024, mas ainda em fase de testes e sem acesso público.
A demonstração chamou atenção pela qualidade cinematográfica das imagens e fez os concorrentes correrem para reagir – caso do Google, que lançou o Veo2 e depois o Veo3. Em dezembro, o Sora enfim foi lançado com uma versão pública, ainda restrita à web e com uma série de limitações.
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O que a OpenAI fez no último dia 30 foi um movimento duplo: lançou uma versão mais potente do modelo, chamado Sora 2, e também um aplicativo, em que usuários geram vídeos de até 10 segundos e acompanham (no estilo TikTok) o que outros estão fazendo. Também é possível usar rostos de amigos ou celebridades nas criações, além de facilmente criar cenas com a própria imagem e voz. O recurso que é uma espécie de “upload de si mesmo” é chamado de “cameos”.
Ao explicar o avanço técnico do modelo, a OpenAI citou que o Sora 2 tem “capacidades mais avançadas de simulação de mundo”, incluindo de movimentos físicos que antes não eram possíveis de ser criados com realismo – como movimentos mais complexos na água. Na parte de áudio, a criação de cenas com áudios foi aprimorada.
Na camada social, os vídeos podem ser remixados e publicados por outras pessoas – algo parecido com o Vibes, app lançado pela Meta dias antes. O app, no entanto, vai além: ao criar uma versão digital de si mesmo, o tal “cameo”, o usuário pode autorizar que amigos usem sua imagem, para gerar memes ou cenas em que aparecem juntos, por exemplo.
2. Por que muita gente não está feliz com o app (e com a OpenAI)
Uma das novidades do Sora a facilitar a “injeção” de elementos da vida real nos vídeos. Isso significa que é possível usar imagens verdadeiras para gerar as cenas de IA – o vídeo de um grupo de amigos pode ser usado para fazer essas pessoas estarem em outro lugar em outro contexto, por exemplo.
Segundo a OpenAI, essa capacidade se aplica a pessoas, animais e objetos. Mas esse terreno da personalização acessível (o app é gratuito) também tem elevado os debates sobre uso ético de imagem, sobretudo quando envolve figuras públicas e direitos autorais.
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Um dos debates mais fortes envolveu a “ressuscitação” de pessoas com a IA, após vídeos (alguns deles ofensivos) de figuras como Robin Williams, Michael Jackson, Tupac Shakur e Martin Luther King Jr. As cenas geraram reação de familiares. Zelda Williams, filha do ator, pediu publicamente que parassem de enviar recriações do pai, chamando-as de exploração emocional.
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Os questionamentos também se voltaram para violação de direitos autorais, após a circulação livre de vídeos de personagens como o Pokémon e heróis da Disney. Estudos acusaram o Sora de violar propriedade intelectual.
A repercussão levou a OpenAI a anunciar que permitiria que representantes de pessoas falecidas e detentores de direitos autorais pedissem a exclusão de suas imagens ou personagens (opt-out). No jornal britânico The Guardian, a colunista Marina Hyde resumiu o clima: a OpenAI vai além de uma lógica de “primeiro pedir perdão e depois pedir permissão”. O verdadeiro lema, ao que parece, é “vamos fazer o que quisermos e vocês vão nos deixar fazer”.
3. Além do Sora: quem é quem entre as IAs para vídeo
Enquanto o novo app Sora não chega ao Brasil, é possível testar a versão web original do modelo pelo site ( O acesso é gratuito mediante criação de conta, mas há limite de gerações de vídeos e a qualidade é inferior à da nova versão. Além do Sora, alguns outros serviços oferecem a possibilidade de criar vídeos a partir de textos. Esses são alguns:
- Veo3 (Google): Gera vídeos em 4K com som e movimento sincronizados. Usuários do Google AI Plus (R$24,00) têm acesso ao modo Veo 3 Fast (dentro do app Gemini) com gerações diárias limitadas. É possível testar o serviço por um mês gratuitamente.
- Runway Gen-4: Plataforma de geração e edição com IA, costuma ser usada por criadores independentes e produtores. Permite controlar câmera e estilo visual, e fazer edições como remoção de objetos e mudanças de cor. O modelo é de assinatura com créditos mensais e uma versão gratuita limitada.
- Pika 2 (Pika Labs): Focada em vídeos curtos mais voltados para redes sociais, gerados a partir de texto ou imagens. Oferece controle de personagem e edição de voz. Acessível via web (pika.art), tem plano gratuito limitado e versões pagas que partem de US8.
- Synthesia: Especializada em vídeos com “avatares” que reproduzem pessoas reais ou completamente geradas por IA. Suporta mais de 140 idiomas e oferece voz realista, com expressões faciais ajustáveis. Com uso via web, tem teste gratuito limitado e planos a partir de US$ 18/mês.
- Meta AI (Meta): Ferramenta experimental integrada ao app Meta AI e ao site meta.ai, voltada à criação e remixagem de vídeos curtos. Tem menos recursos. O uso é gratuito.