O presidente da Caixa Econômica Federal, Carlos Vieira, diz que recebeu um pedido do presidente Lula: voltar a focar na classe média, segmento em que o governo precisa retomar a popularidade até as eleições de 2026. De olho nisso, na semana passada, o banco público anunciou que ampliou o financiamento de 70% para 80% do valor dos imóveis residenciais.
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Além disso, a instituição concederá empréstimos para comprar casas e apartamentos de até R$ 2,25 milhões pelo Sistema Financeiro da Habitação (SFH). A partir desse novo modelo de negócio, segundo Vieira, será possível liberar mais R$ 40 bilhões em novos créditos imobiliários em um período de um ano.
“Para se ter uma ideia, o nosso guidance (projeção para 2025) é de algo em torno de R$ 70 bilhões no SBPE (Sistema Brasileiro de Poupança e Empréstimo, que são os recursos da poupança usados no crédito imobiliário). É muito significativo”, diz ele, que está prestes a completar dois anos no cargo após ser indicado pelo ex-presidente da Câmara Arthur Lira (PP-AL).
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Em meio a demissões no banco, promovidas pelo Palácio do Planalto para retaliar os partidos infiéis ao governo no Congresso, Vieira indicou que deve continuar no cargo. “Eu não entreguei meu aviso de férias. Posso até entregar. Mas eu não entreguei”, afirma.
O governo anunciou na semana passada o novo modelo de financiamento imobiliário, com previsão de liberar R$ 52,4 bilhões adicionais em um ano. Desse montante, quanto será disponibilizado pela Caixa?
Nos próximos 12 meses, a Caixa terá em torno de R$ 40 bilhões a mais no crédito imobiliário. Estamos em uma fase de transição. No fim de 2026, será feita a avaliação e será implantado definitivamente o novo modelo. A ideia é liberar todo o depósito compulsório. Estamos muito satisfeitos com isso e acreditamos muito nesse modelo.
O que representa o adicional de R$ 40 bilhões em relação aos valores disponíveis hoje para crédito imobiliário?
Para se ter uma ideia, o nosso guidance (projeção para 2025) é de algo em torno de R$ 70 bilhões no SBPE (Sistema Brasileiro de Poupança e Empréstimo, que são os recursos da poupança usados no crédito imobiliário). É muito significativo. Fora o que os outros bancos estão dispostos a colocar.
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O presidente Lula pediu para a Caixa voltar a focar no segmento da classe média?
Esse foi um pedido dele. Acho que não é ilegítimo. É por isso que foi criada a faixa 4 do Minha Casa, Minha Vida (voltada para atender famílias com renda mensal de até R$ 12 mil). E agora tem essa complementação do SBPE, mas não é só para a classe média.
Parte do setor bancário está reticente com o teto de juros de 12% em um momento de Selic a 15%. Isso também é uma preocupação da Caixa?
Não. Os outros bancos queriam discutir um pouco mais a taxa (de 12%), o que é natural. O banco sempre quer ter autonomia para gerir a sua taxa. Mas esse é um recurso de captação em que se paga 6% + TR (Taxa Referencial), que é o rendimento da poupança ao ano e se cobra (do tomador do empréstimo) uma taxa de 12% + TR. Então, não é uma taxa tão ruim.
Com o novo modelo de financiamento, os juros no crédito imobiliário na Caixa podem cair?
O juro cobrado depende de vários fatores, como a expectativa de Selic, a inadimplência, a margem do banco. Hoje, todos os elementos estão estabilizados. Só que estamos estabilizados no viés que chegou ao seu patamar mais elevado. Qual é a tendência? É que venha a cair em algum momento. Do jeito que está a situação, se nada mudar, a tendência é de manutenção da taxa.
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Em março, o senhor disse que a Caixa entraria de cabeça no crédito consignado, com queda dos juros pela metade e aumento de cinco vezes da base de clientes. Passados seis meses, qual é o balanço?
Estamos abrindo um pouco mais a questão do modelo de risco para permitir outros entrantes. A Caixa está crescendo de maneira sólida nessa base. No consignado público, o banco tem em torno de 20% do mercado.
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No privado, estamos entre 10% e 12%. Queremos chegar a um patamar de 20% a 25%, no mínimo. A Caixa concedeu 360 mil contratos, que totalizam R$ 2,4 bilhões, na nova modalidade até agora.
A receita com loterias do banco vem caindo em meio ao crescimento das bets. Quando a Caixa irá entrar no segmento?
Há uma propensão das pessoas a jogarem mais quando o prêmio está acumulado e não tivemos grandes prêmios acumulados no início deste ano. Sobre a bet, estamos nos aprontando para lançar agora no final de novembro. É um mercado novo, e a Caixa é um entrante. Queremos ser um player importante. A estimativa de arrecadação é entre R$ 2 bilhões e R$ 2,5 bilhões para o ano que vem.
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A Caixa tem avaliado a viabilidade da construção do estádio do Flamengo. Como está o projeto?
É viável. A nossa parte já foi feita. Agora, pelo que eu sei, eles estão na fase de preparação do plano de negócios para fazer o lançamento.
A Fundação Caixa já foi aprovada na Câmara, mas falta o aval do Senado em meio a críticas sobre um possível uso do governo para se desviar das regras fiscais. Qual é a expectativa?
Para os parlamentares que tinham essa ideia, explicamos para eles que não se trata disso. Nós somos um banco fiscalizado por pelo menos 14 órgãos de controle. Esse assunto saiu genuinamente de dentro da Caixa, não foi orientação política.
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É um desejo dos funcionários de fazer algo a mais pela sociedade. A votação na Câmara foi de cerca de 70% de votos favoráveis. Estamos esperando que o Senado também faça a sua parte. Todo banco tem fundação.
Nos últimos dias, houve demissões em cargos de alto escalão na Caixa ocupados por indicações políticas. Há outras saídas sendo discutidas pelo governo como punição por votos contrários ao Palácio do Planalto no Congresso?
Função de confiança é função de confiança. Nós temos a autonomia do Conselho de Administração da empresa, que toma essa decisão. É o normal de uma empresa. Não podemos fazer uma correlação direta de uma coisa com a outra.
Mas a própria ministra de Relações Institucionais, Gleisi Hoffmann, disse que as demissões estariam associadas a essa infidelidade de partidos que integram o governo e que não estão entregando votos no Congresso…
O senhor também é considerado indicação política. Há uma especulação natural se o senhor vai continuar no cargo. Como fica o seu futuro na Caixa?
Eu não entreguei meu aviso de férias. Posso até entregar. Mas eu não entreguei.