A menos de um ano da Copa do Mundo, é difícil sustentar qualquer argumento que não coloque a Espanha como a grande favorita ao título. Nesta data Fifa, o time comandado pelo técnico Luis de la Fuente chegou à quarta vitória em quatro jogos das eliminatórias europeias e lidera o Grupo E com 15 gols marcados e nenhum sofrido.
E tudo isso mesmo com o desfalque de vários titulares que foram peças-chave na conquista espetacular da Eurocopa no ano passado — entre eles, o Bola de Ouro Rodri, o fenômeno adolescente Lamine Yamal, o meia do PSG Fabián Ruiz, o atacante Dani Olmo, o capitão Carvajal e o jovem zagueiro do Real Madrid Dean Huijsen.
Mesmo com uma escalação bastante modificada, a Espanha manteve o mesmo estilo, intensidade e entrosamento que encantaram o mundo na Alemanha, quando venceu todos os jogos de forma contundente para se sagrar campeã continental pela quarta vez — um recorde na Europa.
Desde a derrota nos pênaltis na final da Liga das Nações para Portugal, em junho, a equipe não perde um jogo competitivo. Com a vitória sobre a Bulgária, igualou a marca de 29 partidas invictas da seleção de Vicente del Bosque, que foi derrotada pelo Brasil de Luiz Felipe Scolari por 3 a 0 na final da Copa das Confederações de 2013, um ano antes do 7 a 1.
O segredo dessa consistência está no DNA do time, resultado de um projeto de mais de uma década construído nas categorias de base. A Espanha de hoje é fruto de um trabalho que substituiu o estilo “tiki-taka”, baseado na posse de bola, por uma abordagem mais ofensiva e vertical.
Na última Euro, dez jogadores diferentes dividiram os 15 gols marcados — recorde do torneio. O gol do título, na final sobre a Inglaterra, e o que eliminou a anfitriã Alemanha, nas quartas de final, foram feitos por reservas. A Espanha venceu a semifinal contra a França mesmo desfalcada e conquistou a taça jogando todo o segundo tempo sem Rodri, eleito o MVP da competição.
Grande parte desse equilíbrio tático se explica pela relação longa entre técnico e elenco. Antes de substituir Luis Enrique após o fracasso no Catar, De la Fuente já havia treinado muitos dos atuais titulares nas seleções de base. Desde que assumiu a seleção sub-15, em 2013, ele formou mais da metade do elenco atual, vencendo os Europeus Sub-19 e Sub-21 (em 2015 e 2019) e conquistando a medalha de prata olímpica nos Jogos de Tóquio 2020.
O desempenho dominante na Alemanha é, portanto, resultado de um projeto nacional de longo prazo — um método que molda jogadores em todo o país e transformou a Espanha em uma fornecedora de talentos para as principais ligas europeias.
Na Copa de 2026, o time terá poucos jogadores acima dos 30 anos. A joia do Barcelona, Lamine Yamal, ainda não terá completado 19. Muitos campeões olímpicos em Paris estarão no grupo, e nomes como Pedri, Dean Huijsen e Nico Williams (todos em idade olímpica) sequer participaram daquele torneio.
A Finalíssima contra a Argentina, marcada para março, será um raro e valioso teste: um confronto direto entre as duas maiores favoritas à conquista do Mundial, poucos meses antes de a bola rolar.