Casada com o influenciador Bruno Alexssander Souza Silva, o Buzeira, Hillary Yamashiro se pronunciou nesta segunda-feira sobre as imagens que mostram o marido com uma espingarda em mãos momentos antes da chegada da Polícia Federal na casa do casal na semana passada. Buzeira foi alvo da Operação Narco Bet, que apura um esquema de lavagem de dinheiro envolvendo casas de apostas e o tráfico de drogas.
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Hillary Yamashiro alega que o casal escutou barulhos à noite e achou que os agentes da PF fossem assaltantes. Ainda segundo a influenciadora, que tem 3 milhões de seguidores no Instagram, o casal estava “concentrado em ligar para a polícia”.
— Gente, eram cinco da manhã. A gente achou que era bandido dentro da nossa casa. A gente ouviu barulho de tiro, a gente não ia imaginar que seria polícia. Primeiro que o Bruno não foge de polícia. O Bruno não faz nada errado, então, não tinha o que temer — diz Hillary, acrescentando que existiriam registros de uma ligação telefônica para a polícia — Pedi para o advogado puxar o histórico da ligação, eu pedindo socorro que tinha bandido dentro da minha casa
A influenciadora alega ainda que a PF invadiu a residência do casal e se referiu ao comportamento dos agentes como “abuso de autoridade”.
— Eles são tão mentirosos que falaram que tentaram amigavelmente que o Bruno abrisse a porta e se entregasse. E que, depois de tentativas, eles invadiram. Mentira. Chegaram invadindo, quebrando tudo, as portas, dando tiro na porta igual bandido, por isso eu liguei para a polícia — afirma Yamashiro.
Ainda segundo a influenciadora, os agentes da PF “quebraram câmeras” da residência e empurraram ela.
— Entraram, quebraram câmeras, isso eles não postam. Empurraram eu grávida, com a minha filha no colo. Entrou lá como se a gente fosse bandido, criminoso. Destruíram a minha casa, quebraram vidro, até Red Bull tomaram à vontade aqui em casa. — disse Hillary Yamashiro.
A operação, que teve apoio da Polícia Criminal Federal alemã, é um desdobramento da Operação Narco Vela, iniciada em abril, após a apreensão de quatro toneladas de cocaína em um veleiro brasileiro pelas autoridades norte-americanas, na costa da África. A apreensão motivou uma investigação que desvendou uma rede criminosa internacional.
Segundo a Polícia Federal, o esquema de lavagem de capitais era operado a partir de movimentações financeiras com criptoativos, remessas internacionais e a utilização de empresas de fachada ligadas ao setor de apostas eletrônicas, as chamadas bets. O núcleo central da operação seria coordenado pelo empresário Rodrigo de Paula Morgado, apontado como “operador logístico-financeiro” da organização. De acordo com o relatório do Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf), Morgado comandava um “banco particular” para os demais envolvidos, centralizando transações milionárias por meio de contas pessoais, empresas em seu nome e em nome de terceiros.
As apurações revelaram que mais de R$ 313 milhões circularam sob controle de Morgado entre 2019 e 2024. Ele também teria realizado transações em criptomoedas na casa dos R$ 100 milhões, além de movimentações bancárias incompatíveis com suas declarações fiscais.
Entre os principais artifícios usados para dissimular os valores, estavam notas fiscais frias, contratos de “sócio oculto”, com o objetivo de blindar o patrimônio, criação de holdings e compra de empresas para obtenção de licenças para apostas online, como no caso das plataformas BRX.BET e RICO.BET, de propriedade do influenciador Buzeira.
Foram presas 11 pessoas na operação, entre elas Bruno Alexssander Souza Silva, o Buzeira; Tacio Costa, conhecido como T10; Ingrid Ohara, influenciadora e esposa de T10; Rodrigo Morgado, empresário e operador financeiro do grupo.
As investigações chegaram até os influenciadores após análise de materiais apreendidos na Operação Narco Vela, em que Morgado já era apontado como o contador e articulador financeiro da rede. Em conversas interceptadas, ele trata diretamente de operações milionárias com Buzeira, como a compra de um imóvel de luxo com pagamento direto da conta de Morgado, sem passar pelas contas do influenciador; transferências de R$ 400 mil para uma lancha e R$ 210 mil para itens de luxo; emissão de nota fiscal de R$ 50 milhões pela empresa Buzeira Digital e uso de terceiros, como o irmão do influenciador, Lucas Fernando Silva (o “Mingau”), para receber valores suspeitos. Foram R$ 590 mil em apenas dois meses.
Alvo da Operação Narco Bet, deflagrada nesta terça-feira pela Polícia Federal, a ação cumpriu 11 mandados de prisão e 19 de busca e apreensão. Além de Buzeira, foram presos Tacio Costa, conhecido como T10, e sua esposa, Ingrid Ohara, além do empresário Rodrigo Morgado.
A operação é um desdobramento da Narco Vela, deflagrada em abril, para reprimir o tráfico marítimo de drogas a partir do litoral brasileiro, e contou com a cooperação da Polícia Criminal Federal da Alemanha (Bundeskriminalamt – BKA). Um dos investigados, alvo de mandado de prisão, está em território alemão.
Segundo a PF, as investigações indicam que o grupo criminoso utilizava movimentações financeiras em criptomoedas e remessas internacionais para ocultar a origem ilícita dos valores e dissimular o patrimônio. Parte do dinheiro também teria sido direcionada a empresas ligadas ao setor de apostas eletrônicas (bets).
— Conseguimos identificar um sistema bastante intrincado de lavagem de dinheiro, envolvendo corretoras de criptomoedas e empresas ligadas a apostas online, as conhecidas bets. O foco da investigação hoje foi a descapitalização da organização criminosa — afirmou o delegado regional da Polícia Federal, Marcelo Alberto Maceiras.
A PF chegou aos influenciadores após a análise de materiais apreendidos com Rodrigo Morgado durante a Operação Narco Vela. O empresário atuava como contador dos alvos.
A defesa dos influenciadores, que compareceu à sede da PF em São Paulo nesta manhã, classificou as prisões como injustas, argumentando que a relação dos investigados com Morgado era estritamente profissional.
— A decisão que decreta a prisão preventiva foi feita com base em transações com o contador, algo normal — quem não transaciona com o seu contador? O que não foi explicado é qual seria o vínculo dessas operações normais entre contador e influenciador com o que se apura na Narco Vela — disse Felipe Cassimiro, advogado de Tacio Costa.
— Bruno cumpre rigorosamente suas obrigações fiscais. Ele não está envolvido em atividades ilegais e não participa de quaisquer atividades criminosas — completou Jonas Reis, advogado de Buzeira. Segundo ele, além do suposto envolvimento com o crime organizado, uma transação de R$ 19 milhões teria sido citada pela PF para justificar a prisão desta terça-feira.

