715.295 é o número total de mortes registradas pela COVID-19 no Brasil. Ao redor do mundo, esse número chegou na casa dos milhões, mais precisamente 7.090.776, segundo dados da Organização Mundial da Saúde (OMS). Muitas lembranças continuam vivas para os brasileiros, mesmo depois de 5 anos da pandemia do coronavírus.

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O sentimento que fica é de que foi ainda ontem que passou a ser uma necessidade viver enclausurado dentro de casa, sem contato presencial com o mundo externo. O home-office foi a saída mais óbvia para que empresas continuassem a operar. Na redação do Globo não foi diferente. Naquele ano as reuniões de pauta e entrevistas com fontes passaram a ser todas por vídeo chamada.

Mas para os repórteres fotográficos a realidade foi outra. A rua continuava sendo o “escritório” desses profissionais, afinal não há outra alternativa para quem trabalha registrando o mundo ao seu redor. A fácil propagação da doença tornava qualquer lugar perigoso, e as pautas os levavam para registrar justo os espaços com maior risco de contaminação, como os hospitais. Nessa balança entre se expor ao risco ou não, o lado que mais pesou foi o de garantir as imagens sobre o momento histórico.

Muitas fotos foram feitas para ilustrar a sensação desesperadora da época e cada um dos fotógrafos mostrou sua visão sobre os acontecimentos da pandemia.

5 anos depois, em memória a esse período conturbado, cada um da equipe de fotojornalistas do Globo selecionou uma foto que na percepção deles melhor caracteriza o que foi a COVID-19.

No início, pouco se sabia sobre a doença e o desconhecido assustava mais que qualquer outra coisa. Do anúncio da primeira morte pela COVID, no dia 16 de março, até o dia 30 de abril, já tinham sido registradas mais de 6 mil mortes pelo Brasil.

Nesse primeiro mês, a imprensa ficou à mercê de fotos que vinham da equipe dos médicos. Até que uma equipe de reportagem do Globo – composta pela repórter Maia Menezes e a fotojornalista Márcia Foletto – conseguiu autorização para acompanhar profissionais de saúde do hospital Copa Star na linha de frente do combate ao coronavírus, no dia 15 de abril de 2020.

Um dia na Unidade de Terapia Intensiva exclusiva para pacientes da Covid-19 no Hospital Copa Star, em Copacabana — Foto: Márcia Foletto

“Fomos a primeira equipe de jornalismo a passar um dia em uma UTI de COVID. Testemunhamos a realidade de pacientes e dos profissionais com a ainda desconhecida doença durante 13 horas”, conta Márcia Foletto. Para ela, a foto que melhor representa essa época é o abraço da equipe médica: “Era um ambiente muito pesado. Não se sabia muito sobre o vírus, só víamos o sofrimento dos pacientes. Era cansativo pra equipe também, o abraço é como se tivessem tentando se dar mais forças para passar por tudo.”

A situação insustentável perdurou até 2021. Durante esse auge da doença não havia leitos para mais ninguém. Hospitais de campanha foram montados às pressas para atender os pacientes que precisavam ser entubados com urgência. Em Santo André, em São Paulo o fotógrafo Edilson Dantas foi registrar a situação do hospital de campanha no Complexo Esportivo Pedro Dell’Antonia.

Hospital de Campanha  Pedro Dell'Antonia montado para atender os pacientes com COVID-19 que logo lotaram os leitos — Foto: Edilson Dantas / Agência O Globo
Hospital de Campanha Pedro Dell’Antonia montado para atender os pacientes com COVID-19 que logo lotaram os leitos — Foto: Edilson Dantas / Agência O Globo

“Eu sabia que estava registrando um momento histórico muito forte e não poupei esforço para conseguir entrar em UTIs de hospitais”, contou. Edilson chegava até a perder a noção do risco que corria ao trabalhar diretamente de locais infestados do vírus altamente contagioso: “A câmera funciona pra mim como um escudo. Naquela situação eu ia fotografando e só depois, quando a adrenalina baixava, que eu pensava sobre tudo que vi. Pensava muito na família, se ia perder alguém próximo…”

Em 2020, o maior número de óbitos de COVID por semana chegou a 7.677. O vírus criava novas variações e se propagava com facilidade. Um grupo de pessoas, apesar de todas as evidências, minimizava a pandemia colocando um rótulo de exagero nos lockdowns. Aliando a isso falas e posicionamentos do governo da época, tornou a crise sanitária ainda mais complicada.

Jair Bolsonaro, presidente da República durante a pandemia, constantemente questionava a eficácia do lockdown e do uso das máscaras — Foto: Cristiano Mariz / Agência O Globo
Jair Bolsonaro, presidente da República durante a pandemia, constantemente questionava a eficácia do lockdown e do uso das máscaras — Foto: Cristiano Mariz / Agência O Globo

“A gente ia cobrir pautas na rua ou dentro do Palácio do Planalto e ficávamos horrorizados. Tive parentes de amigos que faleceram, eu mesmo cheguei a pegar [COVID] uma vez. A gente via a realidade todos os dias. Então ficávamos em choque quando víamos que todo mundo entrava na pilha do cara”, conta Cristiano Mariz, repórter fotográfico de Brasília, que quando pensa no que foi a pandemia, lembra de quando acompanhava de perto a adesão de pessoas as ideias controversas do governo da época.

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A doença conseguiu descaracterizar muitas pessoas, transformando cada uma dessas vidas em mera estática. “A pandemia impôs uma realidade cruel: a perda de entes queridos em um contexto de isolamento, onde o luto se tornava ainda mais intenso pela impossibilidade de despedidas coletivas, abraços e apoio próximo”, conta o fotojornalista Brenno Carvalho que acompanhou de perto sepultamentos decorrente do vírus.

Sepultamento que aconteceu em abril de 2021, em um dos picos da pandemia, quando o Brasil chegou a marca de 300 mil mortes pela COVID-19 — Foto: Brenno Carvalho / Agência O Globo
Sepultamento que aconteceu em abril de 2021, em um dos picos da pandemia, quando o Brasil chegou a marca de 300 mil mortes pela COVID-19 — Foto: Brenno Carvalho / Agência O Globo

“Capturar esse momento foi, para mim, uma maneira de dar voz à dor silenciosa de quem, além de perder um familiar, também perdeu a chance de vivenciar um rito de passagem humano e essencial.”

As rotinas foram obrigadas a se adaptar ao novo formato pandêmico: o digital. Entretanto, nem todos os segmentos eram capazes de se adequar.

Em 2021 as Escolas de Samba cariocas não levaram o carnaval para a avenida. Isso porque, a quarentena no auge da pandemia em 2020, não só deixou as ruas do centro vazias, como também impossibilitou que as Escolas ensaiassem e construíssem seus desfiles.

Fragmentos de um carnaval suspenso: sem desfile em 2021, o barracão da Viradouro na Cidade do Samba se encontrava totalmente vazio as vésperas do carnaval — Foto: Ana Branco / Agência O Globo
Fragmentos de um carnaval suspenso: sem desfile em 2021, o barracão da Viradouro na Cidade do Samba se encontrava totalmente vazio as vésperas do carnaval — Foto: Ana Branco / Agência O Globo

Para a fotógrafa Ana Branco, as imagens feitas nos barracões das Escolas do Grupo Especial simbolizam o vazio deixado por aquele momento trágico da história. “Em outros tempos, a Cidade do Samba estaria em pleno vapor. Novas alegorias e fantasias, com gente trabalhando aos montes. Carnavalescos sem tempo para posar para fotos. Todos envolvidos até o último fio de cabelo, se preparando para a tão esperada data na Sapucaí”, escreveu Ana em publicação do Instagram.

Enquanto negócios se adaptaram ao modelo remoto e certos eventos deixaram de acontecer – como o caso do carnaval – houve aqueles que não tiveram opção, a não ser continuar a trabalhar. No Rio de Janeiro, muitas lojas fecharam suas portas temporariamente, após o decreto de Lockdown Parcial no primeiro ano da COVID, mas em junho o isolamento social já estava sendo flexibilizado. O comércio estava voltando, e aqueles que não queriam perder seu emprego tinham que enfrentar o risco nas aglomerações.

BRTs lotados, após a flexibilização das medidas da quarentena em junho de 2020, aumentaram a taxa de contágio no Rio de Janeiro — Foto: Domingos Peixoto / Agência O Globo
BRTs lotados, após a flexibilização das medidas da quarentena em junho de 2020, aumentaram a taxa de contágio no Rio de Janeiro — Foto: Domingos Peixoto / Agência O Globo

Domingos Peixoto esteve no front inúmeras vezes durante seus mais de 30 de carreira, mas conta que as cenas que presenciou durante a pandemia não deixavam de surpreender: “Foram dois momentos que mais impressionaram: primeiro foi ver o centro inteiramente vazio; e ver a movimentação da galera voltando a trabalhar. O BRT antigo super lotado de gente com máscaras e sempre tinha aquela pessoa sem que podia contaminar todo mundo.”

A possibilidade de tudo voltar ao normal

5 anos depois de ser anunciada a pandemia do coronavírus, a estratégia de vacinação contra a COVID-19 já conta com a dose de reforço. Mas ainda é fresco na memória a sensação de quando chegaram as primeiras vacinas no Brasil.

Tatuagem de Cristo recebe a vacina do COVID-19 — Foto: Gabriel de Paiva / Agência O Globo
Tatuagem de Cristo recebe a vacina do COVID-19 — Foto: Gabriel de Paiva / Agência O Globo

Gabriel de Paiva tem como recordação daquele momento esse marco histórico que era a única necessidade que atenderia a todos naquele momento: “Acho que simboliza que a COVID é tão universal que até Cristo precisaria de vacina. Uma doença que não poupa nem ricos nem pobres, nem mestres nem ignorantes. Todos estavam vulneráveis até a chegada da Ciência para salvar vidas.”

Imagens que marcaram a pandemia