Acostumada a ter centroavantes incontestáveis em um passado não tão distante, como Romário e Ronaldo Fenômeno, a seleção brasileira se vê em situação bem distinta nos dias de hoje. Sem um camisa 9 “clássico” que tenha se destacado no atual ciclo, o treinador Dorival Júnior busca soluções para retomar a tradição de uma equipe historicamente goleadora. O ponto de partida pode ser hoje, no duelo contra a Colômbia, às 21h45, no estádio Mané Garrincha (Brasília), pelas Eliminatórias da Copa do Mundo de 2026.
Na atual convocação, os que mais se aproximam desse estilo são João Pedro, do Brighton, que deverá ganhar sua primeira chance como titular, e Endrick, do Real Madrid. Ambos possuem mais mobilidade e não se encaixam 100% na classificação do homem de referência.
— O João flutua muito, mas ele é um homem que tem chegado muito à área, jogando assim em sua equipe, ora como homem de referência, ora como segundo homem. Ele tem que coordenar essas características e, em cima disso, tirar o melhor de cada um — analisou Dorival.
A pouco mais de um ano do Mundial, o Brasil caminha para chegar à competição mais uma vez sem uma unanimidade como atacante de referência. Luis Fabiano (2010), Fred (2014), Gabriel Jesus (2018) e Richarlison (2022) cumpriram a função nas últimas edições. Isso se Dorival não optar por um esquema sem atacante mais fixo, como já experimentou em diversas ocasiões.
Apesar de terem dificuldades para repetir o desempenho na Amarelinha, os demais homens de frente da seleção brasileira mostram em seus clubes que sabem como encontrar o caminho do gol. Na atual temporada europeia, Raphinha (Barcelona) tem 27 gols, Vinicius Junior (Real Madrid), 19, e Rodrygo (Real Madrid), 14. No entanto, nenhum deles é o jogador de “toque final”.
Medalha de ouro com a seleção olímpica na Rio 2016 e com passagens por diversas divisões de base do futebol brasileiro, Rogério Micale acredita que a mudança de característica é uma consequência natural da “evolução do jogo”.
— Hoje, o jogo é muito mais intenso, mais rápido, com uma busca por espaço a todo momento. Isso se dá por uma influência de novas escolas que estão chegando ao Brasil, mas também vejo no futebol brasileiro que alguns treinadores já tinham ideias diferentes sobre essa posição. Acho que está muito pautado em uma nova visão do jogo, uma evolução em si. É um processo natural, de busca de um jogo mais rápido, mais qualificado e que agrida mais o adversário.
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Na proposta que deve levar a campo hoje, com João Pedro, segundo o ge, Dorival busca construir espaços pelas pontas para os laterais, à medida que Rodrygo, Vini Jr. e Raphinha afunilem na grande área com a companhia do atacante do Brighton. A proposta pode ajudar a seleção a explorar um pouco mais o movimento diagonal em direção ao gol, algo que o trio faz muito bem em seus clubes. As chances de sucesso passam pelo desafio do entrosamento de João Pedro com os gatilhos técnicos e táticos dos atletas do futebol espanhol. O comportamento defensivo dessa formação, um 4-4-2, também é algo a se observar ao longo da partida.
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Caso opte por uma escalação sem centroavante, o técnico tem um desafio de encaixe. Rodrygo pode atuar como meia centralizado, como fez em parte da Copa do Mundo. Isso abriria espaço para a entrada de um ponta com características específicas da função pela direita, como Savinho (que foi testado entre os titulares), agregando poder de drible em três faixas do campo. Mas faria com que Raphinha tivesse de flutuar no ataque, jogando nas costas da defesa, como faz em algumas fases das partidas pelo Barcelona. Na seleção, ele ainda não conseguiu aperfeiçoar a ideia.
Outra opção é puxar Raphinha para uma faixa mais próxima do meio-campo, onde dialogaria com um meia de criação mais avançado (hoje, outra dificuldade da seleção) e distribuiria o jogo para Vinicius e Rodrygo abertos. O passe e os cruzamentos são outras valências de destaque do jogador do Barça nesta temporada.