O Lar da Mulher, abrigo para vítimas de violência doméstica sob risco de morte do Governo do Estado do Rio de Janeiro, já acolheu 3.446 pessoas desde março de 2007. Encaminhadas por Centros Especializados de Atendimento à Mulher (CEAM) ou por delegacias especializadas, 1.478 mulheres e 1.968 crianças já foram protegidas pela instituição, que funciona em endereço sigiloso no território fluminense há 18 anos.
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Maria (nome fictício) é uma das que foram beneficiadas pelo lar temporário. Ela passou dez anos sendo vítima de violência pelo companheiro, que tentou matá-la duas vezes, a última delas no final do ano passado, com uma faca. Ao pedir ajuda em uma delegacia, ela foi levada com as duas filhas para o Lar da Mulher.
— Quando o delegado perguntou se eu queria ir para um abrigo, fiquei com medo, porque pensava que era um lugar igual aqueles que servem sopão para moradores de rua. Eu me surpreendi. Aqui é limpo, tem cama confortável, chuveiro e a comida é boa. E o melhor, minhas filhas não precisaram abandonar a escola — conta a mulher, que já está com documentos regularizados, fez cadastro no Bolsa Família e pretende voltar a trabalhar quando sair do abrigo.
O espaço é gerido pelo RioSolidario, em parceria com a Loterj e o Governo do Estado, por meio das Secretarias de Desenvolvimento Social e Direitos Humanos e da Mulher. São 1.300 metros quadrados, com 15 quartos, brinquedoteca, berçário, sala de jogos, refeitório, salão de beleza e um jardim. A instituição fica aberta 24 horas por dia e abriga vítimas e seus filhos menores de idade por até seis meses, em residência temporária. Só em 2024, foram acolhidas 107 mulheres e 108 crianças.
Segundo Paola Figueiredo, presidente do RioSolidario, o abrigo é uma oportunidade para que mulheres possam recomeçar suas vidas. No local, as crianças são encaminhadas à rede pública de ensino básico, além de terem, como suas mães, acesso a todos os serviços de saúde e apoio jurídico e psicológico. As mulheres ainda recebem ajuda para se reinserir no mercado de trabalho.
Assistente social do Lar da Mulher desde 2007, Marta Pereira conta que a casa abriga mulheres de diferentes perfis e classes sociais, e se alegra pela transformação positiva na vida das vítimas.
— Nestes anos vi muitos casos de mulheres que realmente conseguiram romper com o ciclo da violência e recomeçar. Não me esqueço do caso de uma que veio fugida de São Paulo, trazendo as cinco filhas. Ela ficou aqui o prazo máximo de abrigamento. Recuperou-se e recomeçou a vida: casou de novo e encaminhou todas as filhas. Saber disso faz meu trabalho valer a pena — relata.
Os encaminhamentos para o Lar da Mulher são feitos pela rede de proteção do Estado do Rio, a partir dos CEAMs e das delegacias especializadas. Além disso, mulheres em situação de violência podem recorrer ao aplicativo gratuito Rede Mulher, que facilita o encontro de um local de auxílio próximo e pode ser usado para solicitar medidas protetivas, registrar ocorrências on-line e chamar a Polícia Militar, em casos de emergência, com apenas um clique.
Vale lembrar que a Central de Atendimento à Mulher, está disponível todos os dias, 24 horas por dia, no número 180 ou no WhatsApp (61) 9610-0180, para oferecer orientações e registrar e encaminhar denúncias. Em caso de urgências, é preciso ligar para a Polícia Militar (190).