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Faroestes à brasileira encaram violência e masculinidade tóxica do país em filmes, séries e livros

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abril 9, 2025
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Cena da primeira temporada de "Cangaço novo" — Foto: Divulgação

Com seus caubóis americanos e suas terras remotas sem lei, o faroeste made in USA moldou o imaginário do século XX. No Brasil do século XXI, o gênero renasce em filmes, séries e livros como ferramenta para encarar questões contemporâneas, dos massacres nos sertões e periferias aos pactos de sangue entre oligarquias regionais, passando pela masculinidade tóxica e pelo mito da virilidade.

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Em cartaz nos cinemas, o elogiado filme “Oeste outra vez”, de Erico Rassi, traz temas tradicionais do faroeste, ambientado-os num sertão goiano não tão diferente da Califórnia e Utah do século XIX. A trama opõe Ângelo Antonio e Babu Santana num conflito de rivalidade masculina. Mas o que seria um típico duelo de testosterona num registro mais clássico do gênero se transforma numa reflexão sobre a masculinidade nos tempos atuais.

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  • ‘Contexto de impunidade’
      • Faroestes à brasileira encaram violência e masculinidade tóxica do país em filmes, séries e livros

‘Contexto de impunidade’

Abandonados por suas parceiras, os machos violentos se voltam contra os novos parceiros delas, pois são incapazes de lidar com suas próprias fragilidades emocionais. Os grandes espaços áridos têm como pano de fundo a música de sofrência e outras canções que foram sucesso nos bares do Brasil profundo.

— O faroeste é um gênero definido pela ambientação, com cenários em que reinam uma ausência da lei e da ordem, como se a civilização não tivesse chegado ainda — diz Rassi, que também dirigiu “Comeback: um matador nunca se aposenta” (2017), sobre um pistoleiro relegado ao ostracismo. — Por isso faz sentido usar o gênero para refletir sobre esses lugares do país em que a violência acontece num contexto de impunidade. E isso não está restrito a regiões isoladas, claro. Apesar de cultivar esse imaginário do brasileiro cordial, somos um país violento, com guerras urbanas e políticas de extermínio.

Um dos melhores momentos do longa coloca em cena um tiroteio desastrado, em que a pontaria dos atiradores se mostra inversamente proporcional às suas pretensões viris. Difícil não pensar na recente febre por armas de fogo no país, que flexibilizou o porte e levou milhares de atiradores de primeira viagem a cultuarem ferramentas letais que eles não dominam.

— Há um certo machismo no país que está intrinsecamente ligado à violência, porque se definir como macho é estar apto à violência — diz Rassi. —E o único jeito que esses homens têm de realizar essa imagem que criaram para si é se tornando violentos, mesmo que não tenham aptidão para isso.

Cena da primeira temporada de “Cangaço novo” — Foto: Divulgação

A geografia do interior goiano soa nova para o gênero, que tem uma longa tradição em outras regiões do país. O primeiro faroeste nacional data da era do cinema mudo, e é baseado na história real de um bandido que aterrorizou o interior paulista, o “Dioguinho” (1917). São Paulo e Minas Gerais serviram de cenário para diversas produções do chamado western feijoada dos anos 1970, hoje esquecidas. Mas foi mesmo no cangaço nordestino do século que o bangue-bangue à brasileira encontrou seu habitat natural, especialmente após o triunfo nacional e internacional de “O cangaceiro” (1953), de Lima Barreto.

Conhecido como nordestern, o subgênero passa por um revival, com o sucesso de atrações que transportam a ambientação do cangaço para os dias atuais, como o filme “Bacurau” (2019) e a série “Cangaço novo”, do Prime, cuja segunda temporada já está pronta, mas ainda não tem data para estrear.

Em 2025, o universo do cangaço também aparecerá na novela “Guerreiros do Sol”, superprodução do Globoplay que contará a história de Lampião e Maria Bonita. Ainda nesse registro histórico, o público carioca poderá conferir este mês no Centro Cultural Banco do Brasil do Rio uma mostra dedicada ao cineasta sergipano José Umberto Dias, o Zé Umberto. No dia 27, será exibido o seu curta “A musa do cangaço” (1982). Já em maio passa uma versão inédita — com restauração e novo corte — de seu longa “Revoada” (2004-2008), agora intitulado “Revoada” — Última vingança do cangaço” (2024).

— Não faço caubói — diz o cineasta, que escreveu ainda “Dadá”, romance de cordel sobre a única mulher a usar fuzil no bando de Lampião. — Considero meus filmes como nordestern, mas quebrando a tradição, com novas perspectivas.

Cena de "Revoada", de Zé Umberto — Foto: Divulgação
Cena de “Revoada”, de Zé Umberto — Foto: Divulgação

Longe do sertão, o diretor Thiago Morais e o ator e roteirista Antônio Carlos Jr. trocaram o clima árido pelo tropical no curta “No caminho do sol”. O “western amazônico” traz o velho conflito entre fazendeiros e indígenas, só que com “cavalos” nas águas. São os barcos — um dos principais meios de transporte da Amazônia.

O roteiro parte da rivalidade bíblica de Esaú e Jacó para contar uma história de vingança pincelada por questões contemporâneas, como o extremismo religioso e as modernizações forçadas na maior floresta do mundo.

— A trama principal fala sobre matança de indígenas e disputas por terra, um conflito atemporal nesse barril de pólvora que é a região — diz Antônio Carlos Jr. — No passado, o faroeste americano sempre foi criticado pela representação dos indígenas. Por uma questão de legitimidade, os indígenas do filme são representados por indígenas de comunidades, não por atores da cidade.

Cena do curta "No caminho do sol" — Foto: Divulgação
Cena do curta “No caminho do sol” — Foto: Divulgação

O recente romance “Jenipapo Western” (Todavia), do cearense Tito Leite, é outra obra que atualiza o nordestern. O tradicional conflito entre civilização e barbárie aparece na história dos irmãos Ivanildo e Sandro, que trabalham numa lavoura de algodão no sertão cearense. Explorados por compradores inescrupulosos e seus jagunços, eles se voltam contra as injustiças e os desmandos.

— Trabalhar com o faroeste hoje é trabalhar com as minorias e toda a parcela de uma sociedade que é vítima de uma necropolítica — diz Leite. — A minha paixão pelo faroeste é influenciada pelo meu sertão. Cresci escutando histórias sobre brigas de famílias e até sobre as visitas de Lampião na minha cidade. Gosto de dizer que o que escrevo é ficção, mas no sertão é real.

Leite, que foi monge beneditino até o ano passado, quando largou a vida monástica, lembra que nem todo filme ou livro “com troca de tiros e bois” pode ser considerado um faroeste.

— Gosto muito da ideia dos conflitos que caracterizam o gênero, como o nativo e o colono e também questões locais que surgem do ambiente — diz o autor. — Lembrando que não existe uma forma estabelecida para a estética do faroeste. A própria ideia de masculinidade desconstruída que hoje é uma das temáticas de “Oeste outra vez” já estava, de certa forma, em faroestes dos anos 1950.

Mineiro radicado na Paraíba, Bruno Ribeiro buscou um caminho original para reconstruir um crime real que chocou o país em 2012. Com o premiado livro “Era apenas um presente para o meu irmão — A barbárie de Queimadas” (Todavia), ele inovou com o que chama de “faroeste de não ficção”. A reportagem usa diversos elementos do gênero (aridez, conflito constante, tom de violência), mas mantém uma apuração rigorosa dos fatos (foram mais de cem entrevistados) ao narrar o estupro coletivo de cinco mulheres na cidade de Queimadas, interior da Paraíba.

— Crimes como a barbárie de Queimadas não são exclusivos em cidades de 40 e poucos mil habitantes, ocorrem em cidades de milhões de habitantes também — diz Ribeiro. — O nosso país inteiro é mais barbárie que civilização. A minha ideia é pensar o Brasil inteiro como um faroeste e não apenas os interiores.

O escritor Bruno Ribeiro em Paraty — Foto: Marcinha Lima/Divulgação
O escritor Bruno Ribeiro em Paraty — Foto: Marcinha Lima/Divulgação

Agora, ele volta à ficção com “O Dono e o Mal”, que deverá ser publicado pela Alfaguara no segundo semestre. Com a ditadura militar como pano de fundo, o romance será uma espécie de “faroeste metafísico” sobre homens violentos que acabam “amaldiçoando” as suas famílias por conta dos seus comportamentos.

— Tem algo bem comum aos faroestes: a errância, o vagar, a travessia — diz o autor. — Sair de um local em busca de um tão sonhado eldorado. E o preço que pagamos para alcançar esse eldorado.

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