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‘Por que a nova geração iria querer trabalhar nisso?’

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abril 13, 2025
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O aposentado Adolphus Jones questiona política tarifária do governo americano — Foto: Will Crooks/The New York Times

Na década de 1970, quando a região norte da Carolina do Sul, era conhecida como a capital mundial dos têxteis, Adolphus Jones trabalhava em turnos exaustivos de verão em um dos muitos teares de Union, sua cidade natal. Trens rugiam ao seu redor, transportando materiais pelo país, e chaminés das fábricas de tijolos vermelhos se estendiam por dezenas de metros de altura. Aquela era uma região têxtil, até que, no final dos anos 1990, a automação e a mão de obra mais barata no exterior levaram a indústria para fora do estado

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A economia de Union entrou em colapso, assim como a da maioria das cidades da região. Mas ao sair de um culto de domingo recentemente, Jones, hoje com 71 anos e aposentado, ironiza a visão do presidente Donald Trump de uma retomada da manufatura americana por meio do que chama de “tarifas recíprocas”. O trabalho nas fábricas pagava pouco, Jones lembra, e não havia mobilidade social.

— A indústria têxtil está morta — diz ele abotoando seu terno de lã feito na Itália.— Por que quereríamos trazê-la de volta? Sinceramente, por que a nova geração iria querer trabalhar nisso?

O aposentado Adolphus Jones questiona política tarifária do governo americano — Foto: Will Crooks/The New York Times

Desde que assumiu o cargo, Trump impôs e suspendeu tarifas sobre importações em ritmo acelerado, com o objetivo de forçar as empresas a trazerem a produção de volta aos Estados Unidos. Na semana passada, ele suspendeu abruptamente as “tarifas recíprocas” pelos próximos três meses sobre alguns dos maiores parceiros comerciais dos EUA, reduzindo os níveis para uma tarifa universal de 10%, ao mesmo tempo em que aumentou exponencialmente as tarifas sobre exportações chinesas.

Mas os objetivos de Trump entram em conflito com a realidade econômica de lugares como Spartanburg e Greenville, também no norte da Carolina do Sul, áreas fortemente republicanas onde empresas estrangeiras transformaram os antigos polos têxteis em potências industriais prósperas. Caso as tarifas voltem a vigorar, os moradores temem que isso ameace justamente os negócios que salvaram a região, lar de cerca de 1,5 milhão de habitantes, tudo em nome de reviver uma indústria do passado da qual poucos sentem falta.

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  • Do têxtil ao setor automobilístico
  • Fábricas de roupa? Não mais
  • Apartamentos no lugar dos moinhos
      • ‘Por que a nova geração iria querer trabalhar nisso?’

Do têxtil ao setor automobilístico

Muitos aposentados ainda se lembram de como era trabalhar nas fábricas têxteis. Tinha uma conotação negativa, se recorda Rosemary Rice, 70, com alguns trabalhadores sendo chamados pejorativamente de “cabeças de fiapo” porque voltavam para casa cobertos de fiapos de algodão. Muitos desenvolveram a chamada doença do pulmão marrom, ou bissinose, uma condição respiratória causada pela inalação de partículas de poeira de materiais têxteis.

— Eu não gostaria que meu filho trabalhasse lá — diz Rice, que vive em Union.

Fileiras de reboques em uma doca de carga na fábrica da BMW em Greer, na Carolina do Sul — Foto: Will Crooks/The New York Times
Fileiras de reboques em uma doca de carga na fábrica da BMW em Greer, na Carolina do Sul — Foto: Will Crooks/The New York Times

Hoje, empresas como a alemã BMW e a francesa Michelin são os motores econômicos da região. Desde que a BMW abriu sua fábrica no condado de Spartanburg, no início dos anos 1990, investiu mais de US$ 14,8 bilhões em suas operações na Carolina do Sul. A fábrica tem mais de 11 mil empregos, sendo a maior unidade de produção da empresa no mundo, segundo a companhia. E é a maior exportadora de carros dos EUA em valor, com US$ 10 bilhões em exportações no ano passado.

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Por isso, a comunidade empresarial local ficou surpresa quando o principal conselheiro comercial da Casa Branca, Peter Navarro, criticou o processo de produção da BMW em uma entrevista na semana passada. Ele disse ao canal CNBC que o “modelo de negócios em que a BMW e a Mercedes vêm para Spartanburg, na Carolina do Sul, e nos fazem montar motores alemães e transmissões austríacas — isso não funciona para os Estados Unidos. É ruim para a nossa economia. É ruim para nossa segurança nacional.”

— Houve um espanto generalizado em nossa comunidade com isso — afirma Carlos Phillips, presidente e CEO da Câmara de Comércio de Greenville.

Em resposta aos comentários de Navarro, o governador da Carolina do Sul, Henry McMaster, disse a repórteres na semana passada que, desde a chegada da BMW com empregos bem remunerados, outras empresas seguiram o exemplo e “espalharam a palavra pelo mundo de que este é um ótimo estado para manufatura”.

— Eles fizeram muito bem pela Carolina do Sul — destacou McMaster, republicano, sobre a BMW. Ainda assim, o governador tem falado positivamente sobre as tarifas de Trump, dizendo que concorda com o objetivo do presidente de tornar os EUA mais autossuficientes.

Líderes empresariais atribuem o sucesso da região, em parte, à postura fortemente antissindical da Carolina do Sul e ao legado de uma força de trabalho habituada à manufatura. No ano passado, o governador provocou a ira de organizadores sindicais ao criticar os sindicatos em seu discurso anual, dizendo: “Chegamos onde estamos sem eles.”

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Agora, esses empresários dizem que travar uma guerra comercial pode comprometer o recrutamento futuro de investimentos internacionais e colocar em risco os empregos que já existem na região.

Fábricas de roupa? Não mais

Se as tarifas aumentarem os preços dos produtos e as vendas da BMW caírem drasticamente, disseram, há maior chance de demissões na fábrica de Spartanburg. E é difícil imaginar que a fabricação de tecidos ou fios baratos, como os feitos em fábricas no Vietnã, Camboja e China, possa preencher essa lacuna de forma significativa.

John Lummus, presidente da Upstate SC Alliance, grupo de desenvolvimento econômico, disse que o padrão de vida da região “aumentou tanto que, a menos que as empresas sejam muito mais especializadas, não veremos fábricas voltando para fazer camisetas.”

Em 1970, quando havia dezenas de fabricantes têxteis em Spartanburg, Lummus disse que a renda pessoal per capita na cidade era de cerca de US$ 3.250 — aproximadamente US$ 25 mil hoje, ajustando pela inflação. Atualmente, disse ele, é de cerca de US$ 56 mil.

David Britt, vice-presidente do Conselho do Condado de Spartanburg e republicano que ajudou a atrair empresas para a região desde os anos 90, incluindo a BMW, foi mais direto sobre a perspectiva de uma retomada têxtil:

— Isso nunca vai voltar.

Apartamentos no lugar dos moinhos

Apartamentoso visíveis: em Greenville, a antiga fábrica de tecidos Judson Mill foi transformada em um complexo de 74 mil metros quadrados com apartamentos e lojas. Na cidade vizinha de Spartanburg, a Beaumont Mill virou escritórios para o sistema regional de saúde.

Union, com cerca de 8 mil habitantes e a cerca de uma hora de carro de Spartanburg e Greenville, não teve tanta sorte. A extensa Monarch Mill está abandonada e à venda perto do centro. Ervas daninhas cresceram e tomaram conta do prédio.

Harold E. Thompson, prefeito de Union, disse que, quando as fábricas fecharam totalmente nos anos 1990, a taxa de desemprego chegou a 22%. Muitos moradores foram trabalhar em outras cidades, como Spartanburg, onde a BMW estava começando. Outros, já no fim da vida, tentaram sobreviver com benefícios do governo.

Nos últimos anos, o condado conseguiu atrair empresas de energia renovável, biociência, setor médico e um centro de distribuição da varejista Dollar General que emprega cerca de mil pessoas. O prefeito disse estar empenhado em atrair empregos bem remunerados para combater a taxa de pobreza de 26%.

A indústria têxtil ainda mantém uma presença modesta na região, mas agora se concentra em produtos especializados, como tecidos retardadores de chamas ou Sunbrella, para uso em ambientes externos.

Alguns moradores veem com bons olhos o possível retorno da indústria têxtil — mas agora mais moderna e tecnológica.

— Com a automação atual e melhores condições de trabalho, acho que atrairia muitos jovens que não querem ir para a faculdade — opina Don Harkins, presidente da Sociedade do Patrimônio Têxtil de Greenville.

Para Jones, o aposentado de Union, que antes de se aposentar trabalhou num centro comunitário ajudando pessoas a encontrarem emprego, toda essa oscilação nas tarifas é difícil de entender. Ele lembra que, décadas atrás, fazia tassels para capelos de formatura. Agora, diz, mais jovens de Union deveriam estar usando aqueles capelos — não os fabricando.

— Por que quereríamos voltar? — questiona.

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